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Modelo C é utilizado no programa de aceleração de empreendimentos da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)
Ferramenta foi utilizada na modelagem de negócios de impacto social e ambiental, e influenciou o desenho do programa.
Desenvolvido para ajudar negócios de impacto a desenhar em uma narrativa única as suas duas dimensões – impacto e sustentabilidade –, o Modelo C integra duas ferramentas extremamente eficientes que têm sido utilizadas para modelar esses negócios: o Business Model Canvas, que se concentra no desenho do negócio, e a Teoria de Mudança, que privilegia a cadeia de resultados.
A proposta nasceu da parceria entre Move Social e Sense-Lab – empresas que atuam no segmento de planejamento estratégico e inovação – e contou com o apoio do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
“O Sense-Lab tem como missão desenvolver as organizações, sistemas e lideranças necessárias para enfrentar os principais desafios coletivos da atualidade. Acreditamos que os negócios de impacto são um dos protótipos com maior histórico e abrangência de aplicação que temos hoje. Com esse tipo de negócio, os diferentes atores da sociedade e da economia podem aprender e incorporar diversos elementos para criar as organizações das quais precisamos. Entendemos que o Modelo C contribui para pensar em evoluir esse campo e esse experimento”, afirma Andreas Ufer, sócio-fundador do Sense-Lab.
Em fevereiro deste ano, o uso da ferramenta esteve no centro do primeiro módulo de formação do programa de aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), voltado a negócios e startups amazônicas. Realizada no Impact Hub de Manaus (AM), a Oficina de Inovação em Modelos de Negócios e Construção de Indicadores de Impacto apresentou o Modelo C a um grupo de empreendedores da região com o intuito de estimular que eles trabalhassem no desenho de seus negócios e da cadeia de gestão de impacto social e ambiental de forma integrada. Em grupo, os empreendedores avançaram na modelagem individual de seus negócios, ao mesmo tempo em que intergindo, trocaram conhecimentos, experiências e desafios.
Quinze empreendimentos, selecionados entre 81 inscritos na Chamada de Negócios de Impacto da PPA realizada em 2018, participam dessa primeira edição do programa, que inclui oficinas, workshops, mentorias, assessoria jurídica e contábil, bolsas de estudo e a viabilização de espaços de coworking.
Coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento da Amazônia (Idesam) com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), além da parceria de diversas outras instituições, o programa de aceleração da PPA teve como disparador o cenário de crescimento de iniciativas de inclusão de comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e de agricultores familiares em processos produtivos e novos mercados. A Plataforma reúne empresas e parceiros que atuam no sentido de buscar novos modelos de desenvolvimento não predatórios para a Amazônia.
A primeira oficina do programa de aceleração da PPA contou com um grupo de empreendedores bastante diverso, tanto do ponto de vista dos perfis e estágios dos negócios, quanto dos perfis dos próprios empreendedores. “Havia desde cooperativas de extrativismo de mel – pessoas bastante simples, com bom tempo de ‘estrada’ e nível de planejamento baixo, mas que rodaram sempre muito bem sem esse planejamento – até gente mais bem formada e informada, mas em estágio inicial, e a ferramenta atendeu bem a todos”, conta Andreas.
Para Mariano Cenamo, cofundador do Idesam e coordenador executivo da PPA, esses negócios trazem a possibilidade de alavancar uma nova economia na região, contrária ao desmatamento e às atividades predatórias e valorizando a sociobiodiversidade. “É a primeira vez que um grupo tão forte de empreendedores e startups se reúne para resolver problemas socioambientais da Amazônia a partir de seus próprios negócios. A solução para o desmatamento da floresta passa pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para a economia da região. A Amazônia precisa de uma nova economia”, defende.
Aplicação do Modelo C na região da Amazônia
Localizados em municípios nos estados do Amazonas e do Pará, os negócios selecionados para participar do programa ao longo de 2019 oferecem soluções sustentáveis para questões sociais e/ou ambientais em áreas diversas como gastronomia, resíduos sólidos, piscicultura, meliponicultura, artesanato, agricultura, extrativismo e robótica.
Um desses empreendimentos é o Manioca, negócio que trabalha com a valorização de ingredientes da culinária paraense. Joanna Martins, fundadora da iniciativa, foi uma das participantes da primeira oficina do programa e conta que o uso do Modelo C foi importante para ajudar a organizar o pensamento voltado ao impacto socioambiental positivo.
“Por sermos um negócio de impacto, nós já agíamos com objetivos de impacto socioambiental. A Manioca nasceu para promover os sabores da Amazônia e tornar esses sabores acessíveis para o mundo gerando impacto local positivo. Mas não era algo que estava claro para todas as pessoas da equipe, era uma visão mais dos gestores. O planejamento através do Modelo C nos ajudou a sistematizar melhor essa visão.”
A empreendedora destaca a importância do trabalho da PPA no âmbito do programa no que se refere ao desafio de equilibrar o olhar entre o impacto e o resultado econômico. “A sustentabilidade é o combustível que o negócio precisa para de fato gerar um impacto socioambiental positivo. Então, é um desafio muito grande para nós enquanto pequenos empreendedores e se torna um pouco maior enquanto empreendedores amazônicos”, ressalta.
Desafios x potencial de impacto
Mariano observa que os negócios e startups que estão tentando viabilizar cadeia de valor na região amazônica estão encontrando dificuldades estruturais: custo de logística e transporte; acesso a serviços básicos, como telecomunicações; rede de contatos; comunicação e marketing; entre outras. “É um mercado que não está acostumado, que tem uma dificuldade maior. Na maioria dos casos, são negócios que não têm uma performance econômica tão boa se comparados a negócios na cidade de São Paulo ou a uma startup que comercializa café orgânico em Minas Gerais, por exemplo.”
Do ponto de vista do impacto socioambiental que esses negócios podem gerar, no entanto, Mariano salienta que a Amazônia tem um diferencial. “É lá que estão as maiores fontes de emissões de gases e taxas de desmatamento. O benefício ambiental desse tipo de negócio para a região é muito grande. E o Modelo C consegue capturar tudo isso na apresentação dos negócios”, observa.
Nesse sentido, Joanna chama atenção para a importância da cultura de planejamento para o êxito dos negócios de impacto. “Para pequenos negócios, o processo de planejamento estratégico, muitas vezes, não é comum. De modo geral, os pequenos empreendedores já saem fazendo e não param para pensar muito sobre sua ação, mas esse é um processo extremamente importante visando o crescimento dos negócios, objetivos de mais longo prazo e o impacto que de fato todos nós queremos causar.”
Andreas conta que a ferramenta serviu ainda para formular os indicadores necessários para avaliar o resultado dos negócios ao longo do tempo e, com isso, influenciou o desenho do próprio programa de aceleração da PPA. “Uma particularidade, nesse caso, é que a gente trabalhou esses indicadores a partir da modelagem do próprio programa. Nosso desafio foi integrar os indicadores que surgiram a partir da aplicação do Modelo C para a modelagem dos negócios com os indicadores do próprio programa”, explica.
Outra particularidade da experiência do uso do Modelo C na Amazônia , segundo o sócio-fundador do Sense-Lab, diz respeito à oportunidade de aplicar a ferramenta em um contexto em que a vertente ambiental se sobressai.
“O Modelo C já nasceu com esse olhar para a questão ambiental, mas essa foi uma ocasião bastante robusta para testar essa vocação da ferramenta. Essa vertente ambiental tem suas particularidades. Em geral, não se fala de um público-alvo específico, mas de uma área preservada ou de contribuição para o clima. Então, a abordagem da teoria de mudança é diferente e foi interessante observar isso na prática, além de ter validado o que a gente pensou lá no começo de ele ser uma ferramenta múltipla que pudesse ser usada tanto em contextos de impactos sociais quanto ambientais”, comemora.
Aplicação em outros contextos
Andreas conta que a ferramenta tem sido aplicada em contextos diversos, seja como base para formações, cursos e workshops ou na modelagem de negócios em estágios e com perfis diversos.
“O Modelo C tem sido muito útil para ensinar o que são negócios de impacto por sua abordagem integrada e também para capacitar empreendedores e provocar reflexão sobre negócios em vários estágios de maturidades, desde o inicial, na modelagem do negócio, até estágios mais avançados que demandam apoio para remodelar ou refletir sobre o negócio. Tem sido para nós um ponto de virada no fomento ao campo de negócios de impacto”, diz.
Foto: Sense Lab