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Organizações de apoio a empreendores de impacto ainda têm pouca autonomia e alta dependência de mantenedoras, aponta estudo
Trabalhar capacidades internas e o desenvolvimento de equipes inovadoras são alguns dos caminhos para a sustentabilidade financeira das organizações.
Estudar as condições necessárias para a sustentabilidade financeira de organizações de apoio a empreendimentos de impacto (OEIs) é o objetivo principal do estudo Um olhar para a sustentabilidade de organizações de apoio a empreendimentos de impacto, iniciativa do Instituto de Cidadania Empresarial desenvolvida com coordenação técnica do CEATS-USP, parceira técnica da Move.Social e apoio do Instituto Sabin.
A partir de pesquisas qualitativas e quantitativas com incubadoras e aceleradoras ligadas a programas do ICE ou organizações listadas na versão 2020 do Guia 2,5, organizado pelo Instituto Quintessa, o estudo analisa os fatores que influenciam a sustentabilidade financeira das OEIs, sua identidade, visão atual sobre o tema e visão de futuro. A proposta dos realizadores é inspirar novas ações para o fortalecimento dessas organizações para que possam ter mais capacidade de articulação e soluções criativas para fomentar empreendimentos de impacto.
Graziella Comini, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA USP) e coordenadora técnica do estudo, comenta que o material é fundamental para apoiar o processo de reflexão sobre a consolidação das organizações intermediárias, essenciais para o crescimento de negócios de impacto. “Temos visto no campo a necessidade de ampliar o número dessas organizações e, para isso, elas precisam comprovar que conseguem ter o mínimo de vitalidade e sustentabilidade financeira”, explica.
Para Fabio Deboni, gerente executivo do Instituto Sabin à época da elaboração do estudo, o apoio e atenção à sustentabilidade financeira das organizações intermediárias, apesar de serem questões centrais no ecossistema de impacto, ainda são pouco discutidos. Nesse sentido, o estudo é uma oportunidade de apontar a falta de atenção, apoio e recursos a essas instituições.
Influência dos negócios de impacto
Das 41 respostas válidas na etapa quantitativa da pesquisa, 18 vêm da região Sudeste, 63% afirmam ter como setores-foco mais comuns negócios de impacto socioambiental, empreendimentos de base tecnológica e tecnologia da informação e comunicação, além de a maioria atuar com negócios em estágios iniciais de desenvolvimento – ou seja, em estágios de ideação e operação.
Apesar de 60% das organizações contarem com mais de dez anos de atuação em apoio a negócios, apenas 15% das pesquisadas apoiam organizações de impacto socioambiental há mais de dez anos. Para Graziella, um dos achados importantes do estudo é o fato de que incorporar negócios de impacto no portfólio não alterou – positiva ou negativamente – a sustentabilidade financeira das organizações. “Em organizações que já apresentavam certa fragilidade institucional, incorporar o tema negócios de impacto em sua agenda não melhorou sua condição. Do outro lado, é uma questão já posta a organização conseguir se sustentar ao longo do tempo e fazer a diferença.”
Diversificação de fontes de recursos
O estudo também ressaltou que 48,8% das OEIs elaboram seu próprio orçamento, 31,7% têm o orçamento elaborado por terceiros – segundo o estudo, na maioria dos casos, pelas organizações mantenedoras – e 19,5% não elaboram orçamentos anuais.
Além disso, ao mesmo tempo que 34% não dependem da mantenedora, 29% afirmam possuir alto grau de dependência, com mais de 75% dos recursos provenientes apenas dessa fonte. Para a maioria das organizações respondentes, a diversificação de fontes está diretamente ligada ao conceito de sustentabilidade financeira, que também abrange o acesso a recursos para custear a operação em curto e médio prazo, bem como melhor gestão.
Para Graziella, a diversificação de fontes de captação é essencial para todos os tipos de organizações. Entretanto, um ponto de destaque é a necessidade de as organizações intermediárias terem a chamada legitimidade institucional. “Elas precisam mostrar sua relevância às organizações mantenedoras porque a questão é o quanto esse programa ou iniciativa tem valor e é visto como estratégico também no seu contexto externo, no território onde está inserido. À medida que as organizações mostram sua relevância e seus resultados, é mais fácil atrair recursos.”
Depois das mantenedoras, as fontes de recursos mais comuns apontadas pelas pesquisadas são convênios e contratos com organizações públicas, serviços prestados para os negócios apoiados, convênios e contratos com organizações privadas e aluguéis de espaços e/ou equipamentos.
A pesquisa também se dedicou a estudar outros tipos de apoio além do financeiro, recebidos por 80% das organizações nos últimos três anos. Os mais comuns são materiais de escritório; consultorias externas e serviços de contabilidade gratuitos ou subsidiados; auxílio para viagens e participação em eventos; mentorias; e cessão de espaços para instalação de equipamentos ou realização de atividades.
Fatores que interferem na sustentabilidade financeira
As organizações também foram questionadas sobre os fatores que interferem na saúde financeira e sustentabilidade. Os principais são: inexistência de uma estratégia de longo prazo (17%), ausência de propostas de inovação nos serviços oferecidos (17%), dificuldade de fazer gestão financeira e ter clareza da situação (15%), visão da liderança que não considera o assunto prioritário (15%) e inadimplência no pagamento de serviços prestados (15%).
“No levantamento, pudemos perceber uma falta de visão de longo prazo, em um movimento de pensar a organização no futuro e não ficar só atrelada a apagar o incêndio de hoje”, reforça Graziella. Para a professora, ao mesmo tempo em que o setor conta com experiências e casos positivos de organizações olhando para suas capacidades internas e preparando suas equipes para a diversificação de receitas, ainda há pouca autonomia, alta dependência das mantenedoras, fragilidade nas práticas de gestão orçamentária, e outros desafios.
“Ainda há um espaço enorme a ser desbravado, de aproximação com investidores, com fundos de investimento de impacto e aproximação com grandes corporações, particularmente pela porta da inovação”, afirma.
Já os fatores que influenciam positivamente são cumprimento dos repasses da mantenedora (46%), cooperação com outras organizações (41%), visão da liderança que prioriza o assunto (41%), uso da organização para alcance de seu propósito (41%) e recebimento por serviços prestados (37%).
Como avançar?
Para Fabio, são muitos e múltiplos os caminhos que podem ser trilhados para fortalecer as organizações de apoio a empreendimentos de impacto e alguns deles estão alinhados ao campo do investimento social privado, por exemplo. “É possível fortalecer a aproximação entre institutos e fundações e o campo dos investimentos e negócios de impacto, em especial, a partir do suporte e do fortalecimento deste ecossistema e, em especial, de suas organizações intermediárias”, explica.
Graziella, por sua vez, reforça que é importante ter em mente que diversificação de fontes e a entrada de recursos nas organizações são condições necessárias para sua sustentabilidade financeira, mas não são suficientes. Dessa forma, ela reforça a importância de trabalhar o aprimoramento das capacidades internas das organizações, com a criação e desenvolvimento de um time que seja inovador e pense ‘fora da caixa’, por exemplo, ao invés de ser uma organização centrada na figura de um bom gestor(a).
“Temos visto que essa preocupação com o desenvolvimento das pessoas é essencial para que todo o time tenha habilidades em termos de articulação e de aproximação com diferentes atores, além de poder trocar informações e atuar de forma colaborativa com outras organizações. Há um espaço enorme para trabalhar o fortalecimento interno”, afirma.