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A contribuição dos individuos e famílias de alta renda para o fortalecimento das Finanças Sociais
Artigo de Fernanda Bombardi*
Sete meses após o lançamento das 15 Recomendações da Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS) para o aumento dos investimentos, dos negócios de impacto, fortalecimento de intermediarios e promoção de um ambiento legal e regulatorio favoravel no Brasil, é oportuno relembrar a primeira delas, que fala sobre o papel que indivíduos de alta renda, direta ou indiretamente (via family offices), podem desempenhar, movendo parte de seu patrimonio para produtos de impacto. Esse movimento gera um incentivo às instituições financeiras das quais são clientes — e aos gestores de fundos responsáveis pela administração de seus recursos — para que criem e ofereçam produtos financeiros de impacto.
Segundo recente publicação da The Impact organização criada por Justin Rockefeller, há três principais motivações para que famílias de alta renda comprem produtos financeiros de impacto.
A primeira diz respeito a um alinhamento com os valores da família. Neste sentido, estes invesimentos devem expressar o legado que a família quer deixar e a contribuição que ela quer dar para a socieade. A segunda de uma crença de que, no longo prazo, o impacto social e ambiental positivo pode levar a melhores resultados financeiros. Ou seja, estes fatores podem ser os principais motores de mitigação de risco de investimento e de sucesso. E a terceira é fruto da convicção de que negócios podem resolver problemas sociais. Neste sentido, o investimento de impacto se torna um poderoso aliado da filantropia, na medida em que os negócios apoiados ganham escala e dinamismo.
O que é possível observar como tendencia é que estas motivações parecem estar ainda mais presentes entre os chamados Millennials de alta renda, jovens interessados em investir em negócios inovadores e escaláveis, criados por empreendedores que aliam impacto socioambiental e resultado financeiro. São negócios nas áreas de saúde, educação e habitação, entre outras, que prestam serviços ou produzem bens destinados à população de baixa renda, ou em setores essenciais para a expansão de uma economia de baixo carbono, como o de energias renováveis.
Os millennials alinham-se com a possibilidade de investir em negócios com propósito, que têm o poder de melhorar a vida das pessoas, facilitar o ensino e estimular a aprendizagem de crianças, jovens e adultos, oferecer cuidados médicos a preços moderados ou assegurar acesso ao crédito e aos serviços públicos pelas camadas mais vulneráveis da população.
Há, porém, um desafio. Apesar de sua grande relevância para as finanças sociais, a atuação dos indivíduos e famílias de alta renda ainda precisa ser escalada. A partir de uma pesquisa que realizei com uma amostra de oito famílias de alta renda, entre elas sete pertencentes à lista de bilionários do país, verifiquei que seis delas já atuavam no campo de negócios de impacto. Estas famílias estão destinando seus recursos de diferentes maneiras: doando recursos para startups ou organizações intermediárias, investindo em fundos de investimento de impacto, ou empreendendo negócios de impacto.
Elas não quiseram revelar seu investimento no campo dos negócios de impacto, mas asseguraram que é um percentual ainda muito baixo, quando comparado ao patrimônio da família. Fica claro que todas as famílias pesquisadas ainda estão no campo da experimentação.
A pesquisa mostrou ainda que atuar no campo dos negócios de impacto exige perfil inovador, tolerância ao erro, vontade de testar coisas novas e não ter expectativas de resultados a curto prazo. Várias famílias estão conscientes dessa realidade e de que, na fase atual, é necessário desempenhar diferentes papéis: doar recursos para startups promissoras ou para organizações intermédiárias, apoiar a produção e disseminação de conhecimento, apoiar a formação de talentos para o campo, investir em fundos de impacto ou diretamente em negócios e até mesmo empreender negócios de impacto.
Segundo estudo da FTFS, com base em dados da Anbima – Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais, se 15% dos investidores do segmento Private Banking no Brasil movessem um por cento de seus recursos para investimentos de impacto, seria possível disponibilizar R$ 1 bilhão para esse campo. Esta cifra mostra que a meta estabelecida pela Força Tarefa para que os indívíduos de alta renda destinem até 2020 entre um e três por cento de seu portfólio não só é bastante realista como possível. Mas exige a aderência e empenho decisivo de um grupo de atores do ecossistema de finanças sociais.
* Fernanda Bombardi Tem MBA em Gestão de Negócios Socio-Ambientais pelo CEATS-USP com a tese Limites e potencialidades dos investimentos no campo dos negócios de impacto: um estudo sobre os investidores sociais familiares, é psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em Desenvolvimento Local pela Organização Internacional do Trabalho. Atualmente é gerente executiva do ICE e coordena o Programa de Aceleração e Incubação de Impacto.
[1]. A The Impact é uma rede formada por empreendimentos familiares (Family offices, fundações e empresas) comprometidos com a realização de investimentos com impacto social mensurável. A The Impact oferece às famílias o conhecimento e a rede que elas precisam para fazer investimentos de impacto de forma mais eficaz. Seu objetivo é melhorar a probabilidade e a velocidade de resolução de problemas sociais, aumentando o fluxo de capital para investimentos que geram impacto social mensurável. Mais informações em: http://www.theimpact.org/