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Avaliação de impacto passa pela inclusão dos beneficiados e deve ser útil para os negócios
Metodologias que avaliem os negócios de impacto social e métricas que possam mensurar os reais benefícios à população de baixa renda são questões fundamentais para convencer os investidores, garantir os recursos e contribuir para a consolidação e o avanço dos negócios. O caminho, porém, não é fácil: a avaliação de impacto demanda tempo e dinheiro, e depende do momento do negócio e da definição de ferramentas diferentes para cada abordagem.
Essas foram algumas das questões debatidas na sessão paralela Avaliação de Impacto: Experiências, Desafios e Avanços, realizada durante o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto – Investir para Transformar, realizado em São Paulo (SP), nos dias 3 e 4 de agosto, promovido pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e pela Vox Capital.
O encontro reuniu Ana Sarkovas, diretora-executiva do Sistema B Brasil, iniciativa que apoia e certifica empresas focadas em resolver problemas sociais e ambientais; Daniel Brandão, sócio-fundador e diretor-executivo da Move Social, empresa que atua na avaliação de projetos, programas, políticas públicas e negócios sociais; Gilberto Ribeiro, sócio da Vox Capital, fundo de investimento de impacto; Karim Harji, cofundador e diretor da Purpose Capital, empresa de consultoria que trabalha com investidores e intermediários para projetar, implementar e avaliar estratégias de investimento de impacto; e Sérgio Lazzarini, coordenador do Insper Metricis, núcleo de medição de investimentos de impacto do Insper, e moderador da mesa.
Os especialistas apresentaram suas propostas de como abordar esse desafio e destacaram que a dificuldade de definir e padronizar métricas que estabeleçam caminhos de avaliação reside em grande parte na diversidade da natureza dos negócios. “Não é atribuição dos negócios realizar a própria avaliação, tarefa que demanda energia, tempo, pessoas e dinheiro. O empreendedor tem que focar no seu próprio negócio que, por sua vez, deve se desenvolver a partir da avaliação. Quem deve liderar essa avaliação são investidores e terceiros. Cada agente deve definir seu conceito de impacto e divulgá-lo. Falar disso publicamente. Não esperem da academia, não esperem um conceito de grandes órgãos. Façam vocês mesmos”, afirmou Daniel Brandão, da Move Social.
Para Karim Harji, da Purpose Capital, não há uma solução única. “É preciso avaliar qual a melhor ferramenta para cada abordagem e criar padrões.
A coleta de dados tem um valor empresarial, por isso deve ser usada não apenas para a avaliação, para falar do resultado final, mas para criar novos produtos”. Karim destacou que é preciso desenvolver modelos de coleta de dados eficientes porque, cada vez mais, a tomada de decisão sobre onde investir tem como base os dados do impacto. “Nossas universidades ainda não estão ensinando essas metodologias. É preciso uma integração maior”, comentou.
Precisão e contexto social são requisitos que as metodologias de avaliação devem ter. “Elas têm que ser adequadas para cada situação e, dessa forma, medirem realmente o impacto social de uma determinada ação. No ano 2000 muitos falavam sobre avaliação, mas não faziam as avaliações de fato”, alertou Daniel Brandão, mostrando-se cético em relação à comparabilidade de indicadores de impacto. “Os indicadores ainda estão muito localizados, especializados. Fomos capturados por uma lógica em que a avaliação deve comprovar o impacto. Isso paralisa o negócio. A avaliação de impacto deve ser útil para os negócios”, afirmou.
Construção de uma nova economia
Ana Sarkovas, diretora-executiva do Sistema B Brasil, mostrou-se impressionada com o interesse da plateia e com a presença de representantes de empresas certificadas pelo Sistema B no Fórum.
A missão do Sistema B é utilizar o poder dos negócios para solucionar os principais desafios da sociedade, construindo uma economia mais inclusiva, resiliente e compartilhada. Faz parte de um movimento global de pessoas que utilizam os negócios para a construção de uma nova economia. Oferece ferramentas que ajudam a mensurar o impacto dos negócios e a revisão dos seus propósitos.
“As empresas B estão em uma posição em que há retorno financeiro como um fim, para que sejam de fato um modelo positivo e tragam benefícios para a sociedade. Já existem empresários que só querem atuar em função do impacto social. Pode ser na cadeia de valor, no produto final ou trazendo soluções ambientais. Nós oferecemos metodologias que ajudam essas empresas a identificar os caminhos que elas querem trilhar. Grandes empresas estão se aproximando desse modelo para repensar seu propósito e a razão de sua existência”, comentou Ana.
Ana lembrou que, por meio da ferramenta de avaliação de impacto (bimpact assesment.net), é possível analisar a relação com a comunidade, modelos de negócios de impacto, ver se a empresa está gerando impacto social e ambiental positivo. “Trabalhamos para identificar e construir uma comunidade de líderes da nova economia. Mais de 80 fundos de investimentos já usam o Sistema B para avaliar seus investimentos. O indicador GIIRS (Global Impact Investing Ratings System) nasce da avaliação do impacto de um determinado fundo. A Vox Capital é GIIRS Pioneer. A Move também é GIIRS”, apontou Ana.
Perguntas certas e respostas claras
Para Gilberto Ribeiro, da Vox, “é preciso aprender a fazer perguntas e a ter respostas mais claras. Avaliação é o requisito que vai destravar o recurso que pode ser investido em negócios de impacto. Na Vox, nós investimos em potencial de impacto, trabalhando desde o início com essa visão e procurando identificar etapas. Quais são as perguntas corretas que eu devo fazer para meus empreendedores? Que tipo de medida indica que aquele negócio está no caminho certo para ter impacto positivo? Como medir de fato qual foi a mudança na vida das pessoas que estavam envolvidas? Você consegue estabelecer algum fator de medida naquilo que está medindo?”.
O moderador da mesa, Sergio Lazzarini, destacou que a avaliação de impacto é a atividade fundamental para explorar o ecossistema brasileiro de negócios de impacto. E lembrou que o Insper criou uma rede para fomentar a prática de avaliação de impacto no Brasil e apoiar o ecossistema de finanças sociais. Os objetivos da rede são compartilhar conhecimento, agregar dados, alavancar e disseminar experiências, construir capacidades e articular recursos.
Coleta confiável de dados
Incluir de forma eficaz na avaliação de impacto a população que realmente está sendo beneficiada pelos negócios sociais foi outro aspecto apontado pelos especialistas. Gilberto Ribeiro alertou sobre a ausência de representantes dessas comunidades na mesa. “Estamos procurando trazer a visão das pessoas que são impactadas para a medição do impacto. Há empresas que estão recrutando jovens para fazer medição de impacto e é preciso legitimar essas iniciativas. Uma geração nova que vai fazer as perguntas”, explicou.
Karim Harji, da Purpose Capital, também destacou que os beneficiários devem ser envolvidos no processo de avaliação e na definição dos indicadores. “Por que eles não podem ajudar a pensar nas medidas? O que eles definem como impacto? Uma pessoa que teve acesso a educação, por exemplo, consegue definir muito bem o impacto que esse acesso teve para sua vida”, afirmou.
Dessa forma, as métricas podem ser úteis de fato para os negócios e para os empreendedores. O consenso final foi de que os beneficiários impactados devem ser envolvidos nos processos dos negócios sociais, desde a definição em que investir até o processo de avaliação de impacto.