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Fórum Investir para Transformar inspira a expansão das finanças sociais e negócios de impacto
Um dos cinco maiores eventos mundiais relacionados ao tema, o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2016, realizado nos dias 3 e 4 de agosto em São Paulo, reuniu mais de 700 participantes presenciais, 65 palestrantes – incluindo quatro convidados internacionais – e realizou mais de 30 eventos, entre plenárias, sessões paralelas, apresentações de negócios de impacto e conversas temáticas com atores do campo.
Com o tema “Investir para Transformar”, o Fórum, iniciativa do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e da Vox Capital, foi inspirado na crença de que negócios podem resolver problemas sociais, na medida em que se estruturem para oferecer produtos e serviços que incidam diretamente sobre desafios sociais sistêmicos, como saúde, educação, água, moradia, meio ambiente, etc. O objetivo foi mobilizar mais pessoas para conhecer o tema, os cases de sucesso, as experiências internacionais e os desafios existentes para impulsionar cada vez mais o número de empreendimentos comprometidos em gerar impacto social e retorno financeiro.
Segundo estudos da Força Tarefa de Finanças Sociais, os recursos investidos no campo das Finanças Sociais podem chegar nos próximos anos a R$ 50 bilhões no Brasil e a US$ 1 trilhão no mundo. Para que isso se concretize, é preciso que cada vez mais empreendedores orientem seus negócios a partir da resolução de problemas sociais, investidores comprometam seu capital com a geração de impacto, gestores públicos conectem os Negócios de Impacto às políticas públicas e mais aceleradoras, incubadoras, institutos e fundações, instituições de ensino colaborem para fortalecer o campo.
“A grande transformação do campo virá quanto mais gente participar. O Fórum é importante na direção de criar o futuro desejável”, afirmou Daniel Izzo, da Vox Capital, na plenária de abertura, cujo tema foi “As respostas das Finanças Sociais e dos Negócios de Impacto para os desafios atuais”. Célia Cruz, do ICE, ressaltou que o Fórum integra palestrantes e participantes com os mais diferentes repertórios, e de setores de atuação distintos, mas ainda assim complementares. “Com o Fórum convidamos a todos para que possam ajudar a pensar soluções concretas para problemas sistêmicos do país. Quanto maior a ativação do ecossistema e a sua conexão com outros campos, maiores as possibilidades de construirmos um bioma saudável”, afirmou Célia.
O que é impacto?
O debate sobre a definição das métricas e benefícios do impacto social foi frequente durante a plenária de abertura. Segundo Karim Harji, cofundador e diretor da Purpose Capital (empresa de consultoria que trabalha com investidores e intermediários para projetar, implementar e avaliar estratégias de investimento de impacto), é possível observar, nos últimos oito anos, o aumento de capital rumo à área social. “Existem cerca de 380 fundos investindo em iniciativas de impacto social, porém, temos muito ainda a fazer para saber para onde este capital está indo. Precisamos entender o que é impacto e como definimos o sucesso do ecossistema”, afirmou.
Na opinião de Harji, “todos podem ser investidores de impacto”. Há uma falsa percepção de que esse investimento é sempre de grandes quantias, quando também podemos incentivar o investimento de quantias pequenas para apoiar a construção de casas populares, por exemplo, desde que haja um compromisso de acompanhar o impacto que esse recurso promoveu (quantas casas foram construídas, quantas pessoas se beneficiaram, que benefícios de saúde podem ser observados etc.“É preciso ajudar os bancos a entender que há uma nova geração de produtos e serviços alinhada aos valores”, disse Harji.
Andrea Armeni, cofundador e diretor executivo da Transform Finance (que apoia investidores e agentes de mudança oferecendo aconselhamento sobre novas ferramentas, métricas e estruturação de investimento), também considera importante definir o que é impacto: “Que resultados queremos daqui a cinco anos? Quem de fato vai se beneficiar? Queremos manter ou distribuir o poder?”.
Há muitas oportunidades, segundo Armeni, mas é preciso que todos sejam transformadores e vivenciem uma nova mentalidade, envolvendo também a parcela da sociedade que será beneficiada. “Muitas vezes as intervenções são paliativas. É importante empoderar a própria sociedade para que participe do processo. Melhor do que dizer ´eu tenho a solução´ é dizer que agora temos um modelo que pode ser replicado para que a comunidade possa desenvolver seu próprio projeto e angariar recursos, melhor dar a eles a oportunidade de falar, de promover avanços consistentes no que se refere à justiça social”, afirma.
Crise: oportunidade de dar mais foco aos investimentos
Maria Alice Setubal, da Força Tarefa de Finanças Sociais e da Fundação Tide Setubal, acredita que ainda há muito a aprender em relação ao tema Finanças Sociais e Negócios de Impacto. “Pensar a crise é também uma oportunidade; uma forma de direcionar investimentos de uma forma mais focada. É fácil cortar na crise, mas o que temos que repensar é o que é importante preservar e como vamos avançar em uma situação de crise. Avançar em eficiência, em transparência, em foco”, destacou.
Para garantir retornos de médio e longo prazo, é preciso não só identificar os ganhos na área social, mas uma boa comunicação: “Muitos ainda acreditam que negócios de impacto social têm a ver com lucrar com os pobres. É muito importante esclarecer essa confusão para que possamos avançar”, destaca Maria Alice. Na opinião dela, fundações, empresas e bancos desconhecem o que são finanças sociais e negócios de impacto. Mesmo entre os jovens e startups há um descolamento da realidade. Por essa razão, é preciso criar várias conexões em diferentes níveis.
Mais capital e mais talentos
Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia (organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil), reforça que já existe no Brasil uma evolução importante nos modelos comerciais a serviço da causa social. “Os problemas hoje são mais complexos, há necessidade de mais capital e de mais talentos. O perfil dos empreendedores já mudou. Eles estão mais maduros, inclusive a faixa etária, antes de 29, 30 anos, agora é 37, 38 anos. Há mais empresas aceleradas, que entendem e se aproximam da cadeia de valor de grandes empresas”, destacou Maure.
De outro lado, segundo a diretora-executiva da Artemisia, embora tenha aumentado o número de investidores dispostos a fortalecer negócios com causa, ainda há pouco financiamento, em parte porque mesmo os investidores qualificados precisam estar mais conectados as necessidades da população. “Os investidores têm que aprender mais, arriscar, colocar a mão na massa, diversificar saindo das regiões Sul e Sudeste e apoiar o empreendedor com base em uma nova referência de valores e de atividade empresarial. Porque é o empreendedor que vai fazer a mudança”, afirmou Maure.
Agenda integrada e impacto coletivo
Ao longo dos dias do Fórum, diversos empreendedores apresentaram casos de Negócios de Impacto de sucesso para inspirar os participantes. Entre eles, Susana Garrido, diretora-geral para América Latina da Change.org (a maior plataforma de abaixo-assinados do mundo com 20 milhões de usuários no continente e 160 milhões no total) e Bernardo Bonjean, fundador e presidente da Avante (empresa que oferece um serviço financeiro humanizado para os moradores das favelas). Em uma das salas paralelas, foram promovidas conversas em grupos menores com organizações do campo nas áreas de interesse como finanças, saúde, cadeia de valor, políticas públicas, avaliação de impacto e tecnologia.
Da sessão de encerramento, com o tema “Impacto coletivo no ecossistema de finanças sociais e negócios de impacto”, participaram André Degenszajn, do Gife – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e da Força Tarefa de Finanças Sociais; Célia Cruz, do ICE; Celso Athayde (Central Única das Favelas, CUFA); Fábio Barbosa (Força Tarefa de Finanças Sociais e Fundação Itaú Social); e Marcos Vinicius de Souza (Secretário de Inovação e Novos Negócios do Ministério do Desenvolvimento Social, Industrial e Comercio Exterior – MDIC). A provocação feita pela Celia Cruz do ICE, moderadora da mesa, foi o da construção de uma agenda integradora dos diversos temas e públicos ligados às Finanças Sociais e os Negócios de Impacto.
Fábio Barbosa lembrou que há 15 anos, quando a questão ambiental era colocada em debate, muitos falavam que era bobagem e hoje, no entanto, o impacto ambiental está presente em tudo. O mesmo caminho pode ser seguido pelo investimento de impacto. Nesse percurso, a questão da mensuração é importante: “Vamos medir, olhar para os benefícios. Cada um deve chamar para si parte da responsabilidade, para que não fiquemos apenas no campo das boas intenções”, afirmou Barbosa, reforçando que essa responsabilidade envolve o conhecimento e decisão de “onde colocamos o nosso dinheiro”.
Celso Athayde (produtor de eventos e ativista social, fundador da Central Única das Favelas, a CUFA, a maior organização não governamental focada em favelas no Brasil), falou de seu propósito de “fazer revolução social por vias econômicas. Ou nós conseguimos dividir as riquezas que todos nós geramos ou vamos continuar concentrando as consequências”, destacou.
Para que a agenda ganhe força e integração, é importante que o governo inove e crie mecanismos mais adequados para o campo. “Precisamos de munição, estudos, casos de sucesso, simulações”, afirmou Marcos Vinicius de Souza. O processo de convencimento do governo depende, na opinião dele, da “apresentação de projetos consistentes e de uma venda bem feita”. Souza revelou que, seguindo sugestões da Força Tarefa de Finanças Sociais, o MDIC está procurando incluir negócios de impacto na agenda, olhando para instrumentos e projetos que já estão disponíveis hoje, além de criar ações novas com efeitos demais longo prazo. Ele destacou que o MDIC está criando uma rede com mais de 20 instituições de governo para que atuem na área de finanças sociais e negócios de impacto. “O pedido para essa rede foi para que faça, entre no jogo, seja advogado, apoiador e fã desse tema no governo”, afirmou.
Para André Degenszajn, a convergência entre as fundações, institutos e empresas para uma agenda mais coletiva é um desafio para ser pensado. “Estamos acostumados a pensar o sucesso de forma individual, mas certos problemas dificilmente serão resolvidos com a abordagem de uma única organização, com a lógica de apenas um projeto, uma unidade. O impacto coletivo pressupõe abrir mão de pensar o impacto a partir de unidades independentes. O desafio está em ligar à lógica do projeto a lógica de fortalecimento de organizações”, afirmou.
Na certeza de que o Fórum mostrou que ainda há muito a fazer, Daniel Izzo considera que “o processo de usar as finanças sociais e os negócios de impacto social para causar uma transformação social e mudar o mundo não tem mais volta. Se quisermos realmente criar esse setor, não podemos fugir das transformações necessárias e obrigatórias.” Citando o escritor Eduardo Galeano, Izzo lembrou que “a utopia mora no horizonte. Se damos um passo, ela se distancia um passo. Se damos 10, ela se distancia 10 passos. Então, para que existe a utopia? A utopia existe para fazer a gente caminhar. E há muito a fazer”.
A visão de Célia Cruz é a de que “todos possam juntos ampliar essa caminhada, levando inclusive as inspirações do Fórum para os próximos anos”.
A julgar pelos resultados da pesquisa realizada pelos organizadores após a conclusão do evento, a inspiração já começa a se transformar em realidade: para 88% dos respondentes, o Fórum contribuiu para inspirar mudanças práticas na sua atuação, seja de forma individual, seja na organização em que atuam.