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Investidores engajados aprendem fazendo
Ao tomar a decisão de apoiar um negócio de impacto social ou ambiental, o investidor sempre leva em conta alguns fatores: as características do empreendedor, o plano de negócio, os impactos esperados e as perspectivas de retorno. Mas qual desses aspectos é o mais importante? O que realmente influi na decisão de investir? Como se dá, na prática, o delicado equilíbrio entre retorno e impacto?
Para debater essas e outras questões, o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto – Investir para Transformar realizou a sessão paralela Investidores engajados aprendem fazendo, moderada por Rebeca Rocha, gerente do polo da ANDE Brasil (Aspen Network of Development Entrepreneurs)), com a participação de Carla Duprat, do Instituto InterCement; Filipe Porsato, do BNDES; Leo Figueiredo, do Instituto Quintessa; Maria Rita Spina, da Anjos do Brasil; e Frederic de Mariz do Banco UBS.
Para abrir o debate, Rebeca Rocha citou dados de vários estudos, entre eles o realizado em maio de 2015 pela Força Tarefa de Finanças Sociais, em parceria com a Deloitte, com o objetivo de mapear a oferta de capital para negócios de impacto no Brasil. Esse estudo mostra que em 2014 o Brasil investiu R$ 13 bilhões em negócios de impacto, valor que pode chegar R$ 50 bilhões em 2020. No mundo, segundo dados internacionais do Global Social Impact Investment Steering Group, há cerca de US$ 1 trilhão que podem ser liberados de seus investimentos tradicionais e aplicados em iniciativas de impacto.
Outro estudo divulgado este ano pelo GIIN (Global Impact Investing Network) e JP Morgan mapeou US$ 77 bilhões em ativos sob gestão nesse campo e, em 2017, serão investidos mais de US$ 17 bilhões em cerca de 11 mil negócios de impacto no mundo. No Brasil, a ANDE realizou um estudo em 2014 que identificou oito investidores brasileiros com um volume de US$ 177 milhões em ativos sob gestão para serem investidos em negócios de impacto.
O desafio do crescimento
Um dos maiores desafios do mercado brasileiro é o baixo número de investidores e negócios de impacto, como ressaltou Leo Figueiredo, do Instituto Quintessa. “Eu sou investidor, mas gostaria de trazer um olhar diferente. O olhar do empreendedor, o olhar da empresa. O universo de empresas é pequeno e o universo de pessoas interessadas em investir também é muito pequeno. Esse é o desafio. Por quinze anos eu gerenciei uma estrutura de private banking. É de fato um trabalho de catequese, de romper certos paradigmas, romper modelos mentais que não fazem o menor sentido. Acho que a grande virtude do empreendedor é conseguir um equilíbrio dinâmico entre propósito e resultado. Não é simplesmente uma iniciativa. É uma forma de tornar sua empresa melhor”, afirmou.
Figueiredo vê o negócio de impacto social como uma evolução das empresas. “Qualquer empresa que não tenha a consciência de sua importância para o tecido social possivelmente perde o direito de existir, perde a sua função social. A empresa, na realidade, carrega a ambição e o sonho das pessoas e muitas vezes quem está no topo da pirâmide esquece, o que faz com que a empresa seja insignificante para quem está lá dentro. Nós temos o dever, antes de tudo, de lembrar aos empreendedores sobre a função social da empresa. Se a empresa não está para servir a sociedade, talvez ela não tenha o direito de existir. Então o meu viés é muito mais de destacar que nós temos um grande desafio de não olhar o impacto social em separado, mas como uma evolução da empresa na sociedade. Mesmo que ela não crie impacto social direto, que ela tenha capacidade de criar uma cadeia virtuosa para permitir o impacto direto. O que eu trago aqui é uma provocação. É fazer com que o empreendedor se pergunte por que ele estabelece a empresa, a quem ele quer beneficiar, a quem ele quer servir”.
Maria Rita Spina, da Anjos do Brasil, também reconhece que há poucos investidores interessados em investimento de impacto, entre eles os investidores-anjo. Mas ressalvou que eventos como o Fórum e as conexões que estão sendo feitas vão ajudar muito. “Estamos aqui nesse Fórum maravilhoso com muitas pessoas que conhecem o tema, porém quando você sai daqui muita gente não sabe o que é isso. Três anos atrás ninguém sabia direito o que era esse assunto. Convidei o Daniel Izzo, da Vox Capital, para falar a grupos de investidores sobre tema e ele, muito gentil, aceitou, mas ninguém perguntou nada para ele. As pessoas confundiam investimento de impacto com filantropia. O assunto era novo e difícil de entender. Aos poucos as pessoas começavam a entender, o assunto saiu na mídia e já há investidores dedicados aos negócios de impacto”, afirmou.
O que é preciso mostrar em primeiro lugar aos investidores, segundo Maria Rita Spina, é que se trata de um negócio que tem um diferencial extremamente positivo. “Outro ponto importante é dizer ao investidor como se dá esse trade off, essa troca, entre o retorno do investimento e o impacto que ele causa. Se houver alguma tensão, como vou lidar com isso. Essa não é uma resposta fácil. A gente está começando a construir e esse é um caminho para um investimento maior”. Segundo ela, não existe nenhum investidor-anjo que invista só pelo retorno financeiro. Todos eles têm um outro interesse, que vai desde o de se envolver na sociedade ou favorecer a inovação – “estou me aposentando, quero continuar conectado no mundo”, “quero ser uma pessoa mais interessante” etc.
A decisão de investir
Carla Duprat, do Instituto InterCement, considera “extremamente relevante” a rede de contatos (network) que se estabeleceu nos últimos anos para a difusão do tema das finanças sociais e dos negócios de impacto. Ela lembra que foi no Fórum, há dois anos, que o Instituto conheceu o Programa Vivenda. “Depois veio o namoro e agora já estamos juntando as escovas de dente”.
Além disso, como o Instituto é novo, explicou, foi uma oportunidade para rever uma série de proposições e identificar sinergias com a empresa, a InterCement, para essa atuação. “Hoje, quando a gente discute para que serve o Instituto, criamos uma bolinha nova de negócios de impacto, levando em conta que o produto da empresa, o cimento, é o segundo maior consumido no mundo depois da água. Quando pensamos na redução da pobreza com moradia adequada, saneamento, a gente tem de inspirar a empresa a ver isso como uma oportunidade. Se isso entrar na lógica da nossa empresa, tenho certeza de que o impacto que a gente pode gerar é muito grande”. Carla Duprat considera que existe um privilégio muito especial no Instituto, que é o Conselho, formado por acionistas da segunda e da terceira geração, por executivos da empresa e pelos CEOs de diversos países, “os que são responsáveis pelo legado da empresa na sociedade”, no qual se discute como fazer o alinhamento entre o propósito da empresa e a sua capacidade de solucionar de alguma maneira algum problema socioambiental.
A experiência do BNDES e de outros bancos
Filipe Borsato, da Bndespar, empresa de investimentos do BNDES, tomou contato com o tema investimento de impacto há três anos. Desde então percebeu que o Banco fazia investimentos com impacto socioambiental, e não investimento de impacto. Ao participar de discussões da Força Tarefa de Finanças Sociais, convenceu-se de que “o nosso grande papel como investidor é provocar o mercado, ser um grande indutor para que os investidores financeiros pensem em impacto e os gestores de recursos pensem em impacto”. Depois disso, todo ano, quando faz novas chamadas de capital semente, a Bndespar coloca novos critérios de seleção de investidores de ativos. “Entre outros critérios, esses investidores deveriam ter algum tipo de métrica e classificação de impacto. Em nossa última chamada, das 30 propostas que recebemos, 11 já tinham algum tipo de métrica e quatro representavam propostas bem estruturadas. Uma das propostas foi da Vox Capital”, revelou Borsato.
Frederic de Mariz, do UBS, diz que a instituição é a maior gestora de ativos do mundo, com US$ 2 trilhões em ativos financeiros. “Nos últimos 10 ou 12 anos sentimos que existe um mercado para investimentos de impacto social e ambiental, a demanda vem crescendo. Na Europa e nos EUA está virando mainstream”, disse Fred. No Brasil, um ano atrás, o UBS montou um grupo para incentivar o setor e pesquisar o mercado, com foco em dois pontos: a pesquisa, para aumentar o conhecimento sobre o setor; e – o maior desafio – para explicar o produto aos investidores. “Há muita confusão entre investimentos de impacto e filantropia. É um desafio que enfrentamos no dia a dia”, admitiu.
Sobre os empreendedores – “a pessoa, a inquietação, a grande busca”
A primeira coisa que o investidor-anjo olha é o modelo de negócio, o que esse modelo tem de inovação, destacou Maria Rita Spina. “O investidor quer saber se vai fazer diferença na vida do empreendedor. Ele não quer só o dinheiro lá. Depois ele olha se o empreendedor é ético”.
Leo Figueiredo, que já investiu em vários negócios de impacto, acredita que “o modelo de negócio pode ser arrumado, mas o indivíduo você não arruma”. A palavra-chave, para ele, é inquietação. “O indivíduo com uma grande inquietação tem uma busca e está ligado em um propósito. Se ele fala apenas ´eu quero te dar um retorno´, eu digo: ´muito obrigado, tenho opções melhores´. Mas se ele diz ´eu não consigo me aguentar dentro de mim`, aí eu digo `vamos lá que nós temos um material humano que pode fazer a diferença`. Gente é que faz a diferença. O que eu olho é a pessoa, a inquietação e a grande busca. Quando você começa um negócio, só tem uma garantia: vai ter um monte de problemas. Se não tiver uma persistência, uma perseverança, você não vai vencer”, disse Figueiredo.
“Antes de tomar decisões nós analisamos a história do empreendedor, se ele aprendeu com os erros”, disse Fred da UBS. Entre as qualidades do empreendedor, Borsato, da Bndespar, valoriza ética, sentido, humildade, transparência.
A importância da comunicação
Os participantes da sessão ressaltaram a importância da comunicação para ajudar a convencer os investidores a apoiar os negócios de impacto. Maria Rita Spina considera necessário saber como contar essas histórias dos investimentos de impacto para chegar aos investidores. “Tem um monte de histórias bacanas para a gente contar”. Borsato concorda com Maria Rita e lembra a relevância de publicações que contem histórias de sucesso e até mesmo de fracassos. Acha ainda que um “engajamento maior da Academia para mensuração do impacto” é positivo e que para isso é necessária uma ligação dos centros de produção de conhecimento com o ambiente dos negócios de impacto.