This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Rede Temática debate o papel de institutos e fundações no campo de negócios de impacto
Como institutos e fundações têm se engajado com o campo de negócios de impacto no mundo? Onde faz mais sentido o capital filantrópico atuar nesta agenda? Como a filantropia vem lidando com as fronteiras entre investimento social privado e investimento de impacto? Essas foram as principais questões abordadas no 5º Encontro da Rede Temática de Negócios de Impacto Social, promovido no dia 27 de julho, em São Paulo.
O evento foi uma iniciativa conjunta do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), Instituto Sabin, Instituto InterCement e Instituto de Cidadania Empresarial (ICE). Contou com a participação especial de Randall Kempner, diretor-executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), uma rede internacional formada por 269 organizações (academia, pesquisadores, fundações, corporações etc.) que impulsionam o empreendedorismo em mercados emergentes.
Para Kempner, a grande maioria dos investidores vem do sistema financeiro tradicional e está acostumada a obter o máximo de retorno para os seus investimentos. “É preciso, antes de mais nada, entender que investimentos de impacto são aqueles destinados a criar impacto social e ambiental positivo, além de trazer retorno financeiro. Além de intencional, esse tipo de investimento precisa ser mensurável”, destacou Randall Kempner.
Para o diretor da ANDE, já há muitas instituições – principalmente institutos e fundações – que olham primeiro para o impacto que querem causar, para depois levar em consideração o investimento. “Há pessoas vindo de ambos os lados, com perspectivas diferentes, e é preciso combinar estes objetivos e o tipo de capital a ser investido”, afirmou.
As motivações que levam instituições e pessoas a apostar neste campo são diversas. A principal razão é a necessidade de alinhar os seus esforços com os seus próprios valores ou para conseguir engajar e envolver as gerações mais jovens. “Hoje, a juventude está muito mais preocupada e interessada no impacto social de suas ações e quer trabalhar e atuar em locais com essa perspectiva também”, afirmou Randall.
Há várias etapas ou estágios do investimento de impacto dentro das instituições, a maioria que está na fase experimental tem investimentos em um ou dois programas para observar e testar. Num segundo momento, elas avançam para um nível mais estratégico, integrando a um plano em andamento. A terceira fase é da integração com todas as ferramentas que têm na instituição, ou seja, o investimento de impacto não é só para projetos, mas para a missão central. E, por fim, a alavancagem, em que se cria novas ferramentas e na qual há líderes que integram coalisões e compartilham informações.
Desafios
“Vários desafios precisam ser superados nesse mercado novo. As questões regulatórias dificultam e fazem com que os institutos e fundações tenham dúvidas se podem ou não investir dessa forma. Além disso, há uma barreira ainda entre as áreas financeiras e a dos programas, o que faz com que os recursos disponíveis sejam investidos nas formas tradicionais. Elas não se falam e isso é um grande desafio quando se quer integrar. Assim, mesmo que não exista uma lei que impeça o investimento de impacto, existe uma barreira cultural erguida”, ressaltou o diretor do ANDE.
Os institutos e fundações se deparam ainda com outros desafios, como a falta de profissionais conhecedores deste campo que possam orientar e administrar o investimento de impacto de forma correta, assim como a necessidade de ampliar o seu próprio entendimento de como avaliar e compreender estes novos modelos de negócio. Assim, para dar conta da nova realidade, os investidores sociais precisam aprender novas habilidades.
Randall apresentou quatro ferramentas que institutos e fundações podem utilizar para apoiar e fortalecer o ecossistema de negócios de impacto. A primeira delas são as doações para o campo, englobando: apoio a pesquisas e a organizações intermediárias (aceleradoras, incubadoras etc.); suporte para o desenvolvimento de avaliações e criação de metas e indicadores de impacto; educação para fundações sobre o tema; desenvolvimento de talentos; e doações a empreendedores.
Outra forma de investimento é em iniciativas de advocacy e ações coletivas, como, por exemplo, as organizações que doaram para a criação da ANDE ou a MacArthur Foundation, que buscou a colaboração local para a criação de um fundo de US$ 100 milhões para promover empréstimos de baixo custo só na área de Chicago, nos EUA.
A terceira forma é a dos investimentos relacionados a programas (Program Related Investments). Os investimentos são para apoiar atividades e o retorno financeiro tem que estar abaixo do retorno de mercado. E, a quarta, é a dos investimentos relacionados à missão. Neste caso, é direcionar os investimentos dos ativos também para impacto, com retorno financeiro e sempre alinhados à missão da instituição.
O diretor da ANDE lembrou ainda que doações e investimentos de impacto andam lado a lado e que são ferramentas que se somam na promoção da melhoria da sociedade. Para Randall, há temáticas e setores, principalmente os relacionados aos direitos humanos, em que dificilmente é possível desenvolver modelos para investimento.
“E mesmo onde o investimento de impacto funciona, teremos a necessidade de doações, como, por exemplo, para ajudar uma determinada organização a desenvolver o seu modelo adequadamente. Para mim, o cenário ideal seria usarmos a base de ativos o máximo possível. Vamos manter o dinheiro que sempre tivemos para doação, e alavancar a parte do dinheiro maior para investimentos de impacto. É onde eu gostaria de ver a mudança”, apontou Randall, lembrando que as organizações que nasceram com modelos de mercado terão mais dificuldades para avançar para os modelos de impacto.