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Impacto já faz parte da cadeia de valor das grandes empresas
O impacto já está presente na cadeia de valor de várias empresas grandes, ainda que ele não faça parte do seu core business. Iniciativas bem-sucedidas como o aproveitamento de castanhas para a indústria alimentícia; de sementes para o setor de cuidados pessoais; e de couro de pirarucu para a área de design, colocam no mesmo barco indústrias e organizações da sociedade civil, promovendo a inclusão das comunidades locais e a sustentabilidade da floresta amazônica.
Essa é a constatação da pesquisa realizada pelo Grupo de Direitos Humanos e Empresas (GDHeE) FGV Direito SP, em parceria com a Universidade de Essex (Reino Unido), com o objetivo de identificar os desafios e as oportunidades para a realização de negócios inclusivos, capazes de promover desenvolvimento sustentável do território e melhoria da qualidade de vida dos empreendedores locais.
Na conferência “A experiência das cadeias inclusivas de valor no Brasil: atividades e parcerias”, conduzida pelo GDHeE, em São Paulo (SP), no dia 25 de outubro, foi apresentado um balanço do trabalho desenvolvido pelas professoras Tania Limeira, da Escola de Administração de Empresas (EASP FGV), e Silvia Pinheiro, do GDHeE.
O GDHeE da FGV DIREITO SP realiza pesquisas aplicadas que procuram avaliar o impacto dos negócios sobre os direitos humanos. O objetivo é colher dados e desenvolver instrumentos que qualifiquem a tomada de decisão pública e privada, promovendo a proteção de direitos humanos impactados por atividades empresariais. Nos últimos três anos, o grupo desenvolveu pesquisas sobre:
- o impacto de empreendimentos de infraestrutura sobre comunidades locais, incluindo povos tradicionais e indígenas;
- megaeventos esportivos e seus efeitos sobre direitos de crianças e adolescentes;
- negócios entre empresas e povos tradicionais a respeito uso industrial da biodiversidade;
- instrumentos de gestão para prevenir e remediar impactos de empresas sobre direitos humanos.
Ao fazer a abertura do encontro, o diretor da Faculdade de Direito da FGV, Oscar Vilhena, chamou a atenção dos participantes para “o impacto dos problemas socioambientais sobre a garantia dos direitos humanos”.
“Sempre falamos que é importante inserir negócios de impacto na cadeia de valor de grandes empresas e, nesse encontro, ficou claro que existem sim diversas tentativas, que precisam ser melhor divulgadas para servirem de inspiração para outras empresas. Além disso, podem fazer diferença para o consumidor na hora de escolher o produto que irá consumir. Temos muitos exemplos de negócios entrando em cadeias de valor. Mas uma das questões levantadas pela conferência é que isso só não basta. Também se faz necessário observar como as grandes empresas podem se tornar também atores locais, criando, por exemplo, produtos para a própria comunidade”, comenta Celia Cruz, Diretora executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE).
Os painéis reuniram vários atores do ecossistema: o governo, representado pelo BNDES; diretores de grandes empresas como a Wickbold, Natura e o Instituto-e, que atua com a Osklen; organizações intermediárias, como a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola); e produtores da Amazônia, que relataram suas experiências e seus avanços. “Foi um balanço dos projetos que estão em andamento com a interação entre governo e organizações da sociedade civil para fomentar a criação de cadeias inclusivas na Amazônia”, explica Débora Souza Batista, analista de programas do ICE, que acompanhou a conferência.
Na sua apresentação “A Política de incentivo à sociobiodiversidade na atual gestão do BNDES”, Marilene Ramos, diretora das Áreas de Energia, de Gestão Pública e Socioambiental e de Saneamento e Transporte do BNDES, destacou os resultados do Fundo Amazônia, que já aplicou um total de R$ 1,5 bilhão em 89 projetos. Cerca de 45% dos recursos captados são investidos em infraestrutura, principalmente em comunicação para que os produtores consigam se conectar com os mercados.
Projetos
“Graças à certificação internacional FSC (Forest Stewardship Council / Conselho de Manejo Florestal), o açaí do Arquipélago Bailique (Amapá) se tornou a base de uma estratégia de desenvolvimento local e de melhoria na educação comunitária”, explicou Geová Alves, presidente da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB).
Marcelo Salazar, do Instituto Socioambiental, e Pedro Wickbold, da Wickbold, falaram sobre as inovações na produção e comercialização de produtos da floresta no Xingu como o trabalho de modernização de mini usinas de castanhas. Com a plataforma Origens Brasil, a Imaflora apoia a produção sustentável de castanhas que são adquiridas pela Wickbold, uma das maiores fabricantes de pães industrializados do país.
O último lançamento da Natura, o Ekos Patuá, garante crescimento e força da raiz às pontas dos cabelos. Tem como bioativo o óleo de patuá, usado há muitas gerações pelas mulheres da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. “Foi mais uma parceria de sucesso que contribuiu para a consolidação de mais uma cadeia inclusiva na Amazônia”, afirma Luciana Villa Nova, gerente de Sustentabilidade da Natura.
Uma das mais inusitadas matérias-primas encontradas pelo Instituto-E e a grife sustentável Osklen foi o couro do gigante peixe amazônico chamado pirarucu. Trata-se de uma espécie protegida e administrada pelas populações locais, que ajudam na sua regeneração. A caça, ali, ainda é realizada de modo tradicional e com vistas à alimentação. E ainda que façam uso de outras partes do peixe, costumam jogar a pele fora. Atualmente, a pele de pirarucu é usada para produzir couro fino para vestimentas e acessórios de moda. Isso cria receita extra para as pessoas da região que cuidam da população de peixes. A fábrica de couro, que fica a três horas do Rio de Janeiro, é composta de 30 mulheres que mudariam para a cidade por falta de emprego.
O projeto ‘Molongó – o design a serviço do brincar” foi desenvolvido na comunidade de Nova Colômbia, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, Amazonas, uma parceria FAS e A Gente Transforma, de Marcelo Rosenbaum. O design entrou como ferramenta para estimular a reconquista de valores essenciais em uma comunidade conectada com a ancestralidade, valorizando a economia criativa local. Criou-se a possibilidade de atuação dentro do mercado local, em parceria com o Programa Primeira Infância Ribeirinha (PIR), desenvolvido pela FAS. A iniciativa de confecção de brinquedos com madeira da região por artesãos locais garantiu que esse recurso fosse utilizado pelos Agentes de Saúde como estímulo ao brincar com crianças e famílias da região, além de garantir o resgate de valores locais.