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Novos talentos para o ecossistema de Investimentos e Negócios de Impacto estão em formação no Brasil
Campo relativamente novo no Brasil, os Investimentos e Negócios de Impacto vêm crescentemente se fortalecendo e se ampliando como ecossistema. Novos atores chegam ao movimento e agregam perspectivas ao seu desenvolvimento.
Sem dúvida, a academia, em todo seu espectro, é um par importante nessa trajetória, não só pela possibilidade de formação de novos talentos para o campo – sejam eles empreendedores, investidores ou intermediários -, como também pela produção de conhecimento sobre ele.
Em 2013, o ICE criou o Programa Academia, convidando um grupo de professores a se reunirem para produzir conhecimento sobre o tema. Seu objetivo é fortalecer a atuação de Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras nesse campo, nos três pilares acadêmicos: pesquisa, docência e extensão.
“Começamos com três professores de três instituições, e hoje reunimos 75 professores de 45 Instituições de Ensino Superior. Percebemos que há um aumento do interesse pelo tema. Em dois anos mapeamos a formação de mais de 5 mil jovens em disciplinas ligadas às temáticas. Com o aumento de disciplinas previsto para 2018, esse número deve crescer bastante. Esses jovens, seja atuando como empreendedores ou em organizações do ecossistema, poderão acelerar o fortalecimento e crescimento do campo”, avalia Adriana Mariano, coordenadora do Programa Academia ICE.
A USP Leste é uma das IES que integra o Programa Academia ICE. Sylmara Dias, professora de Fundamentos da Administração, incluiu uma disciplina no bacharelado de Gestão Ambiental, endereçando o tema em suas aulas. Um dos tópicos da disciplina é novos modelos de gestão, e aqui entram os Investimentos e Negócios de Impacto. Ela avalia que essa temática tem sido muito bem recebida pelos alunos, com crescente interesse.
“A entrada do tema dentro da USP tem se dado de modo bastante orgânico. Inicialmente, a inserção veio por uma demanda dos alunos, motivados pelos Embaixadores Choice [programa que apoia e desenvolve jovens para que empreendam mudanças positivas no mundo], que vinham nos indagar sobre o que seria esse tipo de negócio que almeja tanto o lucro quanto o impacto social e ambiental. E a partir daí fomos introduzindo e desenvolvendo o tema junto a eles.” conta Sylmara. Além da disciplina ministrada por ela, outros professores criaram optativas, o que demonstra como o tema foi bem acolhido dentro da unidade. Embora seja uma universidade pública, em tese com menos flexibilidade para propor alterações curriculares, a USP Leste vem avançando no tema.
Em outra ponta do Brasil, na Unisinos, no Rio Grande do Sul, Cláudia de Salles Stadtlober, Coordenadora de Graduação, implementou um modelo de fomento a empreendedores de impacto que articula várias ações em torno do tema – disciplinas, eventos, premiações e programa de aceleração ou incubação dentro da própria universidade.
“A Unisinos incentiva o desenvolvimento desse campo por meio de atividades de graduação, com articulação com os negócios e projetos sociais, criando condições para que os alunos desenvolvam iniciativas pensando em melhorar a condição de vida da população. Temos também um prêmio que incentiva projetos com Impacto Social: os alunos se inscrevem em grupos e participam, durante dois ou três dias, para desenvolver a proposta e o plano de negócios, e ao final apresentam o pitch para uma banca que seleciona três iniciativas”, descreve Cláudia.
Dentre os empreendimentos que se desenvolveram a partir das condições proporcionadas pela Unisinos estão o Silo Verde, que oferece soluções para armazenagem em agricultura e foi vencedora do Prêmio Roser de empreendedorismo de inovação em 2015; a Vital, empresa focada na evolução de produtos e processos que atua como consultoria e prestação de serviços de pesquisa e desenvolvimento baseadas na engenharia de materiais e nanotecnologia, dentre outras iniciativas.
“O papel da Academia é incentivar e capacitar os alunos para conhecerem a importância dos Negócios de Impacto, e ao mesmo tempo ser apoio para que esses negócios possam ser desenvolvidos, com capacitação nas ferramentas de gestão e planos de negócio”, avalia.
Aplicando o conhecimento na experiência prática
A produção e a disseminação de conhecimento são também estimuladas pelo Programa Academia com o Prêmio ICE, que seleciona trabalhos de Graduação, Mestrado e Doutorado, já em sua quinta edição.
Na opinião da professora Sylmara, o Prêmio ICE tem motivado alunos que almejam atuar no ecossistema de Investimentos e Negócios de Impacto. Jonas Lessa, o segundo aluno orientado por ela em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre esse tema, foi ganhador da primeira edição do prêmio e hoje é um empreendedor social com a iniciativa Retalhar – negócio social que faz a logística reversa de uniformes profissionais que seriam descartados e envolve cooperativas de costura na transformação desse material em novas peças, como bolsas, sacolas e nécessaires. O empreendimento já foi reconhecido pelos prêmios Empreendedor Social 2016, Climate Colab e Prêmios Latinoamérica Verde.
Na segunda edição da iniciativa, Sylmara teve novamente uma aluna premiada. “Isso mostra o quanto o ambiente da minha unidade tem um excelente acolhimento para essa temática. O ICE tem sido um grande incentivador de todo esse ecossistema, e o êxito está sendo demonstrado pela adesão de várias universidades de todo país ao Programa Academia”, avalia.
Laís Higashi, é uma das alunas vencedoras do Prêmio ICE em 2016, na categoria graduação, com o trabalho “A competitividade dos negócios sociais: um estudo de casos do Brasil e de Bangladesh”, defendido na USP. O tema de Investimentos e Negócios de Impacto a acompanhava desde a iniciação científica, e, após uma oportunidade de estágio em Bangladesh, no Yunnus Centre e também no Grameen Bank, onde conheceu diversos negócios sociais, resolveu comparar esses casos com negócios do Brasil.
Hoje presidente da Litro de Luz do Brasil – organização social que leva iluminação solar a comunidades que não têm acesso adequado a energia elétrica -, Laís conta: “Quando eu comecei a trabalhar na organização, tínhamos um modelo muito de ONG, de receber doação e usar esse recurso nos projetos. Mas com todo o meu histórico e interesse em negócios de impacto, eu quero muito fazer a Litro de Luz ser sustentável financeiramente. Sempre vi potencial para isso, e é o que venho tentando fazer desde então. ”
“Para termos mais talentos, precisamos de mais pesquisadores. Tivemos um aumento do número de inscritos na quarta edição do Prêmio ICE – na primeira tivemos 11 e na última 50 -, mas ainda é um número tímido. Mais linhas de fomento e investimentos privados seriam importantes neste sentido, ” avalia Adriana Mariano.
Neste sentido, o Programa Academia realiza anualmente a Chamada ICE de Apoio à Pesquisa e Casos de Ensino, que integram professores da rede em projetos conjuntos de pesquisa sobre Investimentos e Negócios de Impacto. Todo material produzido está acessível no Blog do Programa Academia, assim como sugestões bibliográficas, ementas de cursos e trabalhos dos finalistas do Prêmio.
Desafios
No primeiro semestre de 2018 foi realizado o 2º Monitoramento da Rede de Professores, elaborado por meio de uma ferramenta desenvolvida em parceria com a Move Social, que visa acompanhar a evolução da Rede de Professores do Programa Academia na introdução das temáticas nas suas atividades de pesquisa, docência e extensão.
Ao todo, 54 professores, dentre os que hoje estão na Rede, responderam ao questionário. Destes, 30 ministraram disciplinas nas temáticas em 2017, e 60% deles foram os criadores das disciplinas. No levantamento do ano anterior, 23 tinham respondido lecionar disciplina nas temáticas. Parte desse crescimento se deu pelo ingresso de novos professores à Rede. Em sua maioria, as disciplinas estão em cursos em sua maioria de graduação (63%), mas já começam a aparecer em cursos de pós-graduação (16%) e extensão (21%).
“Nosso desafio é acompanhar e apoiar aqueles que desejam ministrar disciplinas nos temas, mas ainda não lecionam. Assim, junto com Antônio Ribeiro e Daniel Brandão, da Move Social, inovamos no questionário deste ano e incluímos, além do levantamento de 2017, perguntas sobre o futuro. E ao levantarmos quem iria ministrar cursos em 2018 descobrimos que 41 professores pretendem lecionar, o que aponta um cenário bastante promissor. ”
No diz respeito especificamente à presença do tema de Negócios de Impacto no currículo, o número de disciplinas relacionadas saltou de 11 para 27 entre 2016 e 2017. Já disciplinas com foco em investimento de impacto avançam mais lentamente e se mantém em quatro.
O aumento crescente da presença dos temas de investimentos e negócios de impacto na academia, traz a questão de quais metodologias podem promover o desenvolvimento de competências capazes de formar profissionais mais preparados para empreenderem e atuarem no campo, respondendo os desafios socioambientais do século XXI. Além do desenvolvimento de iniciativas complementares que possam apoiar os empreendedores, ainda no universo acadêmico, em suas distintas fases de desenvolvimento.
“Algumas escolas começam a inovar nesse sentido, criando pontes entre disciplinas e atividades de pesquisa – como iniciação cientifica e trabalhos de conclusão de cursos em formatos inovadores, como desenvolvimento de um plano de negócio – e processos de aceleração e incubação. Sem dúvida, ações como estas promovem a formação de mais talentos para o campo”, completa Adriana.