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Diálogo com o campo: Renata Nascimento (ICE)
Ao longo de 2019, como modo de rememorar seus 20 anos de trajetória e refletir sobre seu trabalho atual, o ICE fará uma série de entrevistas e conversas convidando seus associados e outros atores que fizeram e fazem parte de sua história.
Essa série tem início com Renata de Camargo Nascimento, uma das fundadoras e atual diretora presidente do ICE. Relembrando o propósito do Movimento pela Cidadania Empresarial, que foi o embrião do Instituto, Renata comenta a evolução da mentalidade do empresariado ao longo desses anos e compartilha sua visão para o futuro.
Você já enxergava que o papel cidadão do empresariado ia além das suas obrigações legais e da filantropia pontual. Como era a mentalidade do empresariado em 1999, e como ela evoluiu de lá para cá?
Ficou claro que a participação socioambiental do empresariado brasileiro era fundamental, de forma complementar a do governo e das organizações sociais, para enfrentar os desafios complexos do desenvolvimento sustentável. A principal contribuição, além de recursos financeiros, era transferir tecnologias empresariais como foco nas ações a serem desenvolvidas junto com uma cultura avaliação do impacto. A busca da autonomia de comunidades e pessoas, o empoderamento de suas lideranças sociais e a corresponsabilidade entre doador/investidor (grantmaker) e parceiro receptor dos recursos (grantee) era um novo paradigma para o empresário filantropo. Para nós, associados do ICE, ficou clara a importância de nossa atuação e da atuação de nossas empresas, inclusive por meio da criação de fundações e institutos corporativos. A visão era ambiciosa na época, pois acreditávamos que havia muito o que aprender dentro da empresa com essa atuação social, como uma via de mão dupla. A participação no setor de empresas e líderes empresariais já existia no Brasil, mas era desenvolvida de uma forma mais pontual e filantrópica, com pouco foco, e pouco accountability, era o começo da fala sobre investimento social privado, responsabilidae social corporativa. GIFE e Instituto Ethos, por exemplo, eram jovens organizações e grandes influenciadores desta nova agenda. A evolução nesses 20 anos a meu ver, está atrelada a uma visão sistêmica abrangente e de estabelecimento de vínculos de confiança com muitas organizações e redefinição de poder. Nesse período também ficou evidente que nenhum setor sozinho é capaz de resolver, em escala, algum problema social – é necessária a criação de alianças setoriais, de diálogo entre partes interessadas, uma visão/ideal e valores comuns.
Como vê o futuro do empresariado brasileiro e seu engajamento com uma transformação social de populações mais vulneráveis?
É evidente que redes precisam ser criadas, muros derrubados, iniciativas co-construídas e distâncias encurtadas se vislumbramos um engajamento forte do empresariado brasileiro e seu compromisso com a transformação de populações mais vulneráveis. Há uma oportunidade, inclusive de mercado, quando se pensa em produtos e serviços que possam atender essa população mais vulnerável, e o empresariado brasileiro tem criatividade e capacidade de propor soluções ousadas para isso. Eu acredito que novos arranjos serão desenhados para aproximar a capacidade empreendedora do setor produtivo brasileiro com foco nas demandas das populações mais vulneráveis, e as soluções terão escala, pois são muitas as oportunidades. Vejo também a oportunidade destas famílias empresárias engajarem seus filhos neste novo cenário dos investimentos e negócios com impacto socioambiental junto com uma atuação ainda forte da filantropia famíliar. Temos muito trabalho pela frente.