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ICE celebra duas décadas em 2019
De um grupo de 20 empresários motivados a repensar juntos seu papel na busca de soluções para os desafios sociais do Brasil, ao trabalho no campo dos investimentos e negócios de impacto, duas décadas se passaram desde o início da atuação do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE).
Em 20 anos, muita coisa aconteceu no Brasil. As organizações da sociedade civil (OSC) se fortaleceram. Assim como o conceito e as práticas do investimento social privado. Nesse processo, muita coisa aconteceu também no ICE, passando pela geração de conhecimento para ajudar a fortalecer capacidades gerenciais das OSC, implementação de projetos de desenvolvimento local até a mobilização de diversos atores para a aproximação, conhecimento e atuação no ecossistema de investimentos e negócios de impacto no Brasil, como forma de somar atores na resolução dos problemas sociais. Todos esses movimentos, equivalentes a diferentes ciclos na história do ICE, sempre tiveram como propósito contribuir para a inclusão social e a redução da pobreza no país.
O ‘jeito ICE’ de fazer
“O ICE possui uma diretriz clara, desde quando surgiu em 1999 como Movimento de Cidadania Empresarial, que é engajar os empresários no campo social com seus diferentes papéis – filantropo, empresário e investidor. Segue também com um ‘jeito de fazer’ muito peculiar, dentro de uma lógica extremamente colaborativa. Sempre construindo com, e não para, as organizações e atores com os quais trabalha. ” conta Fernanda Bombardi, gerente executiva do ICE e integrante mais antiga da atual equipe.
A inovação social é o fio que permeia todas as fases de ação do Instituto desde a sua criação. Na primeira delas, de 1999 até 2001, o foco foi o fortalecimento da gestão de organizações da sociedade civil, fundamental para qualquer sociedade e estado forte, engajando o empresariado nesta construção. Da parceria com o Instituto Fonte nasceu uma série de publicações que se tornou referência para as OSC e possibilitou seu acesso a ferramentas de gestão, marketing, modelos de financiamento, sistema financeiro, captação de recursos. Célia Cruz, nossa atual diretora executiva, por coincidência, era uma das autoras.
Entre 2002 a 2013, o ICE atuou na ponta, com projetos de desenvolvimento comunitário e desenvolvimento local. Foi nessa época que criou o Projeto Casulo, a partir de um diagnóstico participativo com as comunidades do Real Parque e Jardim Panorama, em São Paulo, para atuar com crianças, jovens e famílias oferecendo atividades socioeducativas, culturais e de educação para o trabalho. Hoje, o Casulo é uma organização independente do Instituto e sua gestão é feita pela Liga Solidária.
Essa fase do ICE também gerou um legado para comunidades rurais e organizações do município de Juruti, na Amazônia paraense. O projeto Pajiroba contribuiu para a discussão e experiências de valorização da produção agrícola e artesanal em harmonia com o meio ambiente, fortalecendo a cultura local e ao mesmo tempo promovendo o uso de novas técnicas.
Para Fernanda, que idealizou e coordenou a implementação do projeto Pajiroba, “o principal resultado que o ICE deixa dessa fase é ter conseguido influenciar, junto com outros pares, a agenda de institutos e fundações na implementação de projetos de intervenção social.” O projeto foi construído sobre pressupostos muito consistentes, como uma visão de longo prazo, de protagonismo da própria comunidade e de construção coletiva.
“As comunidades de baixa renda, em situação de vulnerabilidade, têm uma série de ativos que precisam ser considerados e valorizados para que elas saiam da condição de exclusão e pobreza. Aos poucos vimos esta e outras premissas sendo adotadas por outras organizações, o que fez com que percebêssemos que o Instituto tinha dado uma contribuição relevante nessa temática”, recorda Fernanda. A saída do ICE da temática do desenvolvimento local é feita com a percepção que esta agenda estava inserida na pauta dos institutos e fundações dos associados do ICE, bem como na agenda do GIFE e com atores fortes articulando nossos parceiros, como a RedEAmérica.
A fase atual de atuação do ICE começou a ser desenhada em 2012. A visão estratégica de fortalecer o ecossistema de investimentos e negócios de impacto no Brasil nasceu da percepção de que os recursos para apoiar a agenda de inovação das organizações da sociedade civil – em geral de filantropia, investimento social privado e governo – eram insuficientes para gerar o impacto que os fundadores do ICE pretendiam.
Célia Cruz, diretora executiva, recorda: “De um lado, víamos que novas fontes de recursos poderiam ser mobilizados se este capital que apoiava inovação social pudesse gerar impacto e retorno financeiro, e, de outro, que novos empreendimentos sociais estavam nascendo, organizações da sociedade civil e empresas, que tinham como propósito gerar impacto e performance financeira, com um modelo de negócio com produtos e serviços que fechavam sua conta, podendo até remunerar o capital investido. Vendo que era um campo novo no mundo e no Brasil, os fundadores do ICE viram que esta poderia ser uma agenda mobilizadora para seus pares empresários e investidores e para uma nova geração de associados.”
Olhar de perto e adiante
Renata de Camargo Nascimento, uma das fundadoras e atual diretora presidente do ICE, aponta que os associados do Instituto hoje, em sua maioria, possuem institutos e fundações corporativos com objetivos bem definidos, e veem como fundamental desenvolver seus negócios buscando equilibrar lucro e responsabilidade socioambiental. “Os novos associados, jovens entre 25 e 45 anos, já empreendem alinhando a responsabilidade socioambiental com a visão de sustentabilidade econômica e inovam em suas startups de impacto.”, comenta ela.
Esse novo olhar sobre o modo de fazer negócios está presente, por exemplo, na trajetória de Bernardo Bonjean, fundador e presidente da Avante, que tornou-se associado do ICE em 2015 e integra seu Conselho Deliberativo. Ele conta que na Avante é rotina mergulhar na vida do microempreendedor, para quem oferece serviços financeiros: “Dormindo e acordando na casa dele fazendo as refeições com ele e a família, mesmo que por alguns dias, pude entender de fato as necessidades dos clientes que minha startup atende.”
Bernardo acredita que “causar impacto social positivo e reduzir a desigualdade social já não é mais uma opção para as empresas. As novas gerações já entendem isso e estão redefinindo o conceito de sucesso empresarial. E se me permitem um conselho, revisitem a missão do seu negócio e troquem a palavra maior pela palavra melhor.”
Para Renata, que aposta na capacidade do ICE de criar espaços de diálogo e vínculos de confiança, o futuro do Instituto vai se construindo no diálogo entre as gerações, unidas por uma causa comum. “Dessa forma vamos fomentando junto a outros atores o ecossistema dos investimentos e negócios de impacto e o ICE pode constituir um grande legado para a sociedade brasileira.” conclui ela.
Celebrando juntos
A comemoração de 20 anos será nos moldes do ‘jeito ICE’ de fazer com atividades ao longo de 2019 que pretendem gerar benefícios para outros atores. Até março será lançada uma chamada para apoio a eventos regionais sobre investimentos e negócios de impacto, inspirada na chamada realizada no Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018 que contribuiu para a disseminação dos temas em diferentes regiões do Brasil.
Uma parceria com a revista Página 22, do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), vai contribuir para a divulgação da temática e do campo em si. O jornalismo da Página 22 tem uma trajetória reconhecida na comunicação das questões associadas à sustentabilidade e sua equipe está construindo uma edição especial com a colaboração do ICE e de outros atores do campo. A revista deverá ser lançada em maio.
Outras contribuições ao ecossistema de impacto no Brasil incluem o lançamento de publicações sobre modelos de receitas para negócios de impacto e um mapeamento de produtos financeiros de impacto, além do apoio à produção de livro organizado por Edgar Barki (FGV-EAESP), Graziela Comini (FEA/USP) e Haroldo Torres, sócio fundador da Din4mo.
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