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2º Mapa de Negócios de Impacto aponta tendência de entrada de novos players
Dinheiro, mentoria, comunicação e parcerias são as principais demandas do setor de negócios de impacto no Brasil, aponta o estudo.
O recurso financeiro segue sendo a principal demanda do setor de negócios de impacto socioambiental, totalizando 48% dos pedidos de apoio. A busca por investimentos vem acompanhada de outras, como mentoria (22%), comunicação (19%) e parcerias e networking (19%). O dado é um dos achados do 2º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, lançado recentemente pela Pipe.Social.
A partir de análises quantitativas e qualitativas, o estudo oferece dados atuais sobre o ecossistema de negócios de impacto, o perfil do empreendedor e os recursos disponíveis no campo. Os resultados são aprofundados a partir de entrevistas com empreendedores e análises dos principais especialistas em startups e negócios de impacto socioambiental do Brasil e do mundo. Assim, desvela desafios, percepções e tendências do setor, além de inspirações e boas práticas que podem contribuir com a orientação de estratégias e ações.
O novo estudo reflete um significativo aumento e fortalecimento da base. Foram 579 negócios na primeira edição, em 2017, contra 1.002 na atual, distribuídos entre as áreas de educação, saúde, serviços financeiros, cidadania, cidades e tecnologias verdes. 76% dessa base é composta por negócios formalizados e 62% são negócios com mais de dois anos de existência.
Sustentabilidade financeira
No campo das finanças, o Mapa revela disparidades, como o fato de que 43% dos negócios ainda não faturam, enquanto 8% dessa base fatura mais de R$ 1 milhão.
81% dos negócios pesquisados estão em busca de recursos financeiros: 32% está captando até R$ 100 mil, 32% de R$ 100 mil até R$ 500 mil, 17% de 500 mil a R$ 1 milhão e 19% está captando mais de R$ 1 milhão. Dos 356 negócios que detalharam os mecanismos de captação utilizados, 60% mencionaram doação, 26% equity, 26% empréstimo e 15% dívida conversível.
Maria Eugenia Taborda, gerente de sustentabilidade do Itaú, destaca o desafio da viabilidade econômica do setor. “A gente fala muito do impacto socioambiental, mas precisamos lembrar que o impacto financeiro também é um grande desafio. A doação é importante, mas queremos que sejam encarados como modelos de negócio sustentável. Esse mapeamento é muito importante para nós porque precisamos cada vez mais de dados que nos ajudem a criar referências. O mercado financeiro trabalha com esses benchmarks para gerar mais confiança por parte do investidor”, observa.
De 85% da base que detalhou fontes e mecanismos de captação, 42% investiram apenas capital próprio, enquanto 24% captaram apenas recursos de terceiros e 34% se utilizaram das duas vias.
“O Mapa mostra que apenas três por cento dos recursos financeiros vêm do crédito. Não estamos maduros ainda para mudar essa realidade. O mercado financeiro encontra dificuldade na mensuração do risco e do impacto, mas o estudo aponta o microcrédito como uma oportunidade”, diz Maria Eugenia.
Em uma visão complementar, Célia Cruz, diretora executiva do ICE, comemora a entrada de novos atores e instrumentos financeiros. “É importante olhar para esse movimento de novos produtos financeiros nascendo e também de famílias de alta renda olhando para esse campo. A porcentagem de doações também evidencia uma maior abertura dos institutos e fundações. O Censo GIFE mostra que 50% da base já se relacionou com negócios de impacto em alguma medida”, observa.
O desafio da diversidade
O perfil do empreendedor de impacto no Brasil é basicamente masculino, branco, jovem, da região sudeste. Dos 1.002 negócios pesquisados, 62% estão na região Sudeste, 14% no Sul, 11% no Nordeste, 7% na região Norte e 5% no Centro-Oeste. 32% dos negócios foram fundados apenas por homens, 18% têm mais homens entre os fundadores, 22% um quadro misto, 7% mais mulheres e 21% apenas mulheres.
Analisando o perfil do principal fundador, é possível perceber que o padrão se repete: 66% são homens, entre os quais 66% são brancos, 19% pardos e mulatos, 7% negros, 3% de orientais e 1% indígena. Esse empreendedor tem entre 30 e 44 anos (53%), 21% entre 19 e 29 anos, 17% entre 45 e 54 anos e 9% acima de 55 anos.
Já as mulheres ocupam 34% do setor no lugar de fundadoras de negócios de impacto. Os homens ainda são maioria no quadro societário nas verticais de Cidades (57% têm apenas homens ou mais homens) e Tecnologias Verdes (55%). A presença de mulheres é maior nos negócios relacionados a Cidadania (36% têm apenas mulheres ou mais mulheres) e Educação (37%).
O mapeamento revela ainda uma demanda reprimida no que se refere à aceleração: 50% dos negócios afirmam que nunca foram acelerados, mas já buscaram oportunidades.
Sobre esse quesito, Livia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e uma das coordenadoras da pesquisa, observa que o desafio feminino de cruzar o ‘vale da morte’ se mantém.“Existe um perfil de empreendedor e de negócio que tende a ser acelerado e outro que está tentando, mas ainda não conseguiu. Mulheres, pessoas negras e empreendedores que ainda não se relacionam com a medição de impacto, negócios em fases iniciais e fora do Sudeste do país têm ainda um desatendimento. E nós precisamos incluir esses atores para garantir a pluralidade do ecossistema.”
Seja do ponto de vista financeiro, seja pelo viés da aceleração e outros tipos de apoio, Maria Eugenia também destaca o desafio relacionado à diversidade. “Temos o grande desafio de olhar para as questões de gênero e raça no setor. Quando olho para os números relacionados a aceleração, por exemplo, me dói ver que são mais homens que recebem esse tipo de apoio. É importante olhar para as necessidades específicas relacionadas ao apoio financeiro, é claro – como, por exemplo, uma maior tomada de risco por parte dos investidores -, mas também pensar como alavancar essa questão a partir de outros estímulos. É preciso um olhar diferente do que estamos acostumados.”
Célia observa que o ICE pretende contribuir com a discussão sobre diversidade no campo de impacto com um artigo sobre ecossistemas em um livro a ser lançado no final deste ano. No processo de escrita, a equipe do instituto tem tido vários insights a respeito de formação e fortalecimento de comunidades regionais para descentralizar o acesso à mensuração de impacto e assessoria jurídica, por exemplo. “Assim como é preciso uma vila inteira para educar uma criança, é preciso um ecossistema fortalecido para apoiar os empreendedores de impacto e dar oportunidade justa a todos”, defende a diretora executiva do ICE.
Impacto e Comunicação
O aumento do compromisso com a medição de impacto é um dos destaques do novo estudo. A porcentagem de negócios que não acham necessário medir ou acompanhar seu impacto caiu de 31% para 1%. 38% dos negócios – 10% a mais em relação ao estudo anterior -, definiram indicadores, mas ainda não medem seu impacto formalmente e 17% – 11% a mais que a pesquisa de 2017, têm processo interno formal de medição de impacto.
Para Maria Eugenia, uma das tarefas urgentes do setor diz respeito à comunicação na hora de conectar as duas pontas do ecossistema (investidor e empreendedor). A demanda ocupa o segundo lugar no ranking dos principais pedidos de ajuda dos empreendedores brasileiros junto com “parcerias e networking”.
“Como a gente olha o que o investidor quer e o que o empreendedor quer? O que é impacto para um e para outro? Por mais que tenhamos avançado muito, as pessoas ainda não entendem do que estamos falando, ainda confundem filantropia com negócio de impacto. Nesse sentido, dados e cases são fundamentais para nos ajudar a construir uma narrativa mais acessível.”
O futuro do setor
Maior entrada de grandes empresas com aporte de investimentos e mentorias, fortalecimento do movimento de verticalização, projeção do Brasil no cenário internacional e fortalecimento do ecossistema são as principais tendências projetadas para o próximo período.
Carol Aranha, fundadora e CEO da Impactix, é otimista com relação à aproximação das empresas. “A gente vê uma grande tendência mundial no que se refere à preocupação de grandes players com o propósito e a causa. O próprio mercado de trabalho, composto por mais de trinta por cento de Millennials, e o fato de que grande parte do mercado vai passar para as mãos dessa geração nos próximos anos, é uma evidência muito forte dessa tendência”, pontua.
Foto: Divulgação/Pipe.Social