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Diretora do ICE defende diversificação como caminho para o desafio da mobilização de recursos necessária para promover inovação social
Ao lado de Elie Horn (Cyrela Brazil Realty) e Marina Feffer (Zest Impact), Célia Cruz participou de painel sobre filantropia realizado durante a Brazil Conference at Harvard & MIT.
Oportunidades para o Brasil no campo da filantropia foi um dos temas debatidos por lideranças do setor durante a “Brazil Conference at Harvard & MIT 2019”. Realizado anualmente desde 2015 por estudantes brasileiros residentes em Boston, este ano, o evento aconteceu entre os dias 5 e 7 de abril.
Célia Cruz, diretora executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), foi uma das debatedoras do painel “Filantropia: Oportunidades para o Brasil”, realizado no primeiro dia da programação do evento. A conversa contou ainda com a participação de Elie Horn, CEO da Cyrela Brazil Realty, e Marina Feffer, fundadora da Zest Impact. A moderação ficou por conta de Claudio Haddad, fundador do Insper.
O moderador abriu os trabalhos da sessão problematizando o cenário relacionado à cultura de doação no Brasil. “Apesar dos avanços, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar uma cultura efetiva de filantropia como, por exemplo, a encontrada nos Estados Unidos, onde faculdades como o MIT [Massachusetts Institute of Technology] e a Harvard University contam com endowments de bilhões de dólares.”
A “Pesquisa Doação Brasil”, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), mostra que 77% dos brasileiros doou tempo, bens ou dinheiro em 2015 e que era de R$ 13,7 bilhões o valor estimado de doações de pessoas físicas no mesmo ano, o que equivale a 0,23% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional na época. Essa proporção era três vezes maior no Reino Unido e sete vezes maior nos Estados Unidos.
Na última edição do World Giving Index, lançada no segundo semestre de 2018, o Brasil teve o pior desempenho já registrado. O país saiu da posição de número 75 e foi para o 122º lugar no ranking geral, sendo o pior colocado na América Latina. Foram entrevistadas mais de 150 mil pessoas em 146 países. Conhecido como ranking global de solidariedade, o estudo, produzido pela Charities Aid Foundation (CAF), registra o número de pessoas que, no mês anterior à consulta, doaram dinheiro para uma organização da sociedade civil (OSC), ajudaram um estranho ou fizeram trabalho voluntário. No Brasil, houve queda nos três comportamentos.
Parafraseando um professor colega de Harvard, Claudio citou as três condições para convencer alguém a realizar uma doação: a causa precisa ter relação com o doador, a pessoa precisa acreditar que seu dinheiro fará diferença e que será bem administrado.
Dois desses itens se relacionam com o desafio cultural por trás da prática de doação do brasileiro: desconfiança no que se refere ao destino da doação. Segundo a Pesquisa Doação Brasil, 40% dos respondentes não têm confiança em relação ao destino que será dado ao dinheiro da doação. Em compensação, 71% concordam que as organizações da sociedade civil dependem da colaboração de pessoas e empresas para obter recursos para sua atuação.
Diversificação é o caminho
Para Célia, o volume de recursos mobilizados atualmente, no Brasil e no mundo, é muito menor do que o necessário para inovação social. “Minha experiência de mais de 20 anos com projetos e instituições que atuam pelo fortalecimento da sociedade civil mostrou que o desafio da captação é uma realidade para organizações do mundo todo. E o montante fornecido pelo investimento social privado não tem crescido”, observa.
Dados do Censo GIFE 2016 mostram que o investimento social privado nacional caiu 16% em 2015 em comparação com o ano anterior. O dado de 2016, de R$ 2,9 bilhões, é o menor da série desde 2009.
Como caminho para o enfrentamento do desafio, Célia aponta a possibilidade de acesso a outras fontes de financiamento que possam complementar o recurso advindo da filantropia.
Elie Horn, empresário e filantropo sírio radicado no Brasil e fundador da segunda maior incorporadora imobiliária do país, a Cyrela Brazil Realty, acredita no potencial do efeito subjetivo da doação para a transformação da sociedade. “Quando você doa dinheiro, isso faz bem tanto para você, quanto para a pessoa que recebe. A minha tese é a de que fazendo o bem conseguiremos mudar a cultura, a civilização e o país.”
Com uma trajetória de dez anos no campo filantropia, Marina Feffer, empreendedora e filantropa, afirma ter aprendido que bons resultados também dependem de qualidade técnica, rigor e metodologia, além de atores-chave para pensar e responder a exigências relacionadas a valor, visão de mundo, posicionamento e prática. “Existem algumas premissas que orientam a filantropia, como a maximização de resultados e a abordagem baseada em dados e evidências. Não devemos tomar nosso viés pessoal como certo, mas nos colocar em uma posição de interesse para fazer mais e melhor”, defende.
O futuro da cultura de doação no Brasil
Quando questionada pelos participantes presentes na plateia e pelos internautas que acompanhavam a transmissão online do painel sobre os caminhos para fortalecer a cultura de doação no Brasil, Célia afirmou apostar no movimento pela cultura de doação.
“Em 1990, criamos a Associação Brasileira de Captadores de Recurso (ABCR). Hoje já há muitas organizações que ajudam a estruturar o campo, além de um movimento para fortalecer o captador de recursos. Essa é uma carreira dentro das organizações da sociedade civil”, ressaltou.
Marina pontuou também que mostrar com clareza qual será o retorno do investimento filantrópico é algo que estimula doadores, que precisam entender a relevância do recurso.
Em suas considerações finais, os debatedores defenderam que a filantropia é uma ferramenta eficaz em diferentes sentidos, inclusive para ajudar governos com projetos sociais, porém sem substituir programas básicos.
Claudio é otimista. “Desde cedo, o Insper se engajou na captação de recursos. O nosso projeto de engenharia, por exemplo, está sendo inteiramente financiado por doações. Eu vejo aquelas três condições – que a causa toque o doador, que ele acredite que seus recursos farão a diferença e que serão bem administrados – acontecendo no Brasil do futuro.”