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Lester Salamon – pesquisador de novas fronteiras da filantropia abre o Encontro Nacional do Programa Academia no dia 8 de maio
O Doutor Lester M. Salamon é professor na Johns Hopkins University e também diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil no Instituto Johns Hopkins para Estudos Políticos. Autor de cerca de 20 livros, além de centenas de artigos, ele foi pioneiro no estudo de sociedades civis sem fins lucrativos nos Estados Unidos e estendeu sua pesquisa a outras partes do mundo. No dia 8 de maio, em São Paulo, ele estará no painel de abertura do Encontro Nacional da Rede de Professores do Programa Academia ICE para compartilhar suas reflexões acerca do que considera ser uma revolução nas fronteiras da filantropia e do investimento social privado, com novos modelos, instrumentos e atores que ampliam o fluxo de capital para impacto social e ambiental. Nesse painel, Dr. Lester terá a companhia do Professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, e de Célia Cruz, diretora executiva do ICE.
Nas vésperas de sua viagem ao Brasil, o professor Lester respondeu a perguntas relacionadas aos temas tratados em seu livro Novas Fronteiras da Filantropia (New Frontiers of Philanthropy: A Guide to the New Tools and Actors Reshaping Global Philanthropy and Social Investing), publicado em 2014. Confira!
Boletim ICE: Em seu livro Novas Fronteiras da Filantropia, você aborda a mudança de mentalidade das fundações ao usar novos instrumentos financeiros para apoiar/investir em Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que oferecem produtos e serviços. Qual é a sua opinião sobre as fundações usando essas novas ferramentas não apenas para investir em OSCs, mas também para investir em empresas com impacto positivo? Criaria uma competição entre ONGs e organizações com fins de lucro?
Dr. Lester: Meu livro Novas Fronteiras da Filantropia não sugere, de forma alguma, limitar o uso de novos instrumentos financeiros ao apoio às Organizações da Sociedade Civil. As fundações já investem em muitas empresas com fins lucrativos, é claro. Isso é o que eles fazem com seus endowments. Mas “novas fronteiras” da filantropia não são apenas sobre isso. Filantropia, de acordo com esse novo livro, é “a mobilização de recursos privados para fins sociais e ambientais.” O apoio a esses propósitos é o motivo pelo qual damos às fundações incentivos fiscais e de outros tipos. É justo que entidades com fins lucrativos, cooperativas e outros formatos jurídicos recebam apoio financeiro de fundações. No entanto, os destinatários desses recursos devem estar engajados em fins filantrópicos, conforme definido de maneira ampla. Em outras palavras, elas devem ser entidades de “economia social”, conforme definido no novo Manual das Nações Unidas, que ajudamos a produzir. Assim se identificam entidades que compartilham três características fundamentais: são privadas, ou seja, não são controladas pelo governo; são primordialmente dedicadas a um propósito público; e são voluntárias [não são criadas por força de lei]. Propósito público é o [conceito] mais crítico e nebuloso, que este Manual detalha de forma útil: a entidade pode obter lucro, mas não deve distribuir mais da metade de qualquer lucro gerado para investidores ou outras partes interessadas, retendo o restante para apoiar seu propósito público. Isso deixa claro que seu objetivo é um propósito público e não simplesmente um de maximização de lucro.
Boletim ICE: Você estuda o terceiro setor no mundo. O que levou seu interesse ao movimento de fundações? Existe um papel para as universidades na construção dessas novas mentalidades? Qual seria?
Dr. Lester: Começando pela primeira pergunta, nossa pesquisa tem documentado há muito tempo o papel relativamente pequeno que a filantropia, e em particular as fundações, desempenham no financiamento de organizações sem fins lucrativos em todo o mundo, apesar da mitologia que cresceu sugerindo o contrário. Nos Estados Unidos, um país considerado o “garoto propaganda” de grandes fundações e da filantropia em geral, todas as doações filantrópicas – incluindo as de fundações, corporações e indivíduos – representam apenas cerca de 10% da receita total de organizações sem fins lucrativos. A parcela fornecida apenas por fundações está abaixo de 2%! O que isso me diz é que, se a filantropia quer ganhar tração real face os problemas do nosso mundo, tem que operar de uma maneira completamente diferente: tem que aprender o princípio da alavancagem, que o governo e os negócios dominam, mas que a filantropia tem ignorado em grande parte. Ironicamente, as “novas fronteiras” oferecem a melhor oportunidade para darmos à filantropia a possibilidade de produzir o impacto que há muito tempo reivindica ter.
Nesse contexto, as universidades poderiam desempenhar um papel importante na promoção dessa possibilidade. Para que isso seja possível, entretanto, as escolas que celebram a filantropia, contribuindo para disfarçar sua escala limitada, precisam começar a colocar a contribuição filantrópica na perspectiva correta. Somente com essa visão mais clara a necessidade crítica de mover-se para as “novas fronteiras” se manifestará. E o fato é que o investimento de impacto social depende tanto da filantropia quanto a filantropia depende do investimento de impacto social.
Boletim ICE: Qual o papel do governo na construção desse ecossistema? Que prioridades você recomendaria aos nossos governos para ajudar a construir esse ecossistema?
Dr. Lester: Apesar da propaganda, o investimento de impacto social não pode mobilizar capital de investimento privado sem a ajuda de entidades que estão dispostas a aceitar taxas de retorno mais baixas do que os investidores privados costumam exigir. Isso porque a única maneira pela qual os investidores privados podem aceitar legalmente [nos EUA] as taxas mais baixas de retorno que os investimentos sociais frequentemente geram é encontrar parceiros que possam reduzir o risco de perda. As “taxas de retorno ajustadas ao risco” tornaram-se, assim, essenciais para atrair investidores privados para muitas oportunidades de investimento de impacto social. Apenas duas instituições sociais são capazes de desempenhar essa função de absorção de risco: governos e filantropia. Então, ironicamente, ambas as instituições “tradicionais” se tornam o ingrediente crucial para o sucesso do investimento de impacto. Quanto mais cedo os governos reconhecerem esse fato, mais cedo começaremos a realizar o potencial do investimento de impacto social.