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Primeiro seminário brasileiro sobre Blended Finance discute capital para desenvolvimento sustentável
Evento reuniu especialistas para debater desafios e estratégias inovadoras para atrair novos atores para o setor de investimentos de impacto.
Nos últimos anos, tem crescido o número de investidores conscientes que desejam alocar seu capital em modalidades que consideram impacto socioambiental positivo para além do tradicional risco-retorno. Em geral, esses investidores pertencem a setores que historicamente investem em impacto: filantropia e investimento social privado, agências e fundos de desenvolvimento e investidores de impacto.
Considerando a insuficiência de recursos advindas das fontes usuais, um novo ator começa a ser cogitado pelo setor: o investidor comercial ou institucional. A lacuna anual de 2,5 trilhões de dólares estimada para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 representa apenas 1% do total de recursos investidos globalmente em ativos financeiros. E uma nova modalidade de investimento tem sido considerada para atrair esses investidores: o Blended Finance (financiamento combinado).
Para debater esse horizonte, a Din4amo, em parceria com a Convergence e a Invest Social, reuniu especialistas do setor, nacionais e internacionais, no 1o Seminário do Brasil sobre Blended Finance – Estratégias inovadoras para o financiamento dos ODS.
O evento aconteceu no dia 18 de setembro, em São Paulo, e trouxe um panorama sobre o assunto, além de apresentação de case e debates entre atores diversos do ecossistema. O Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) foi um dos apoiadores do evento, ao lado de Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, Fundação Tide Setubal, Grupo Gaia, Tozzini Freire Advogados, Fundação Grupo Boticário e International Finance Corporation (IFC).
A tendência é misturar
Combinar fontes de capital pode ser o caminho para um futuro melhor para todos. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Blended Finance é um conceito que determina o uso estratégico de recursos, sejam eles públicos ou advindos da filantropia, para mobilizar mais capital destinado ao desenvolvimento sustentável ou a causas prioritárias de países em desenvolvimento. A modalidade foi reconhecida pela primeira vez como uma solução para a lacuna de financiamento dos ODS no documento final da Terceira Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, realizada em julho de 2015.
Joan Larrea, CEO da Convergence, explica que o grande diferencial do instrumento é combinar distintas fontes de capital com diferentes expectativas em relação a risco, retorno e liquidez. “Apenas 10% de todo o recurso anual voltado ao financiamento do desenvolvimento, que é de 149 bilhões de dólares, alocado em Blended Finance poderia mobilizar 105 bilhões de dólares em financiamento privado adicional por ano.”
Uma das principais instituições do ecossistema de Blended Finance do mundo, a Convergence é uma rede global que fomenta o ecossistema de Blended Finance conectando demanda e oferta, capacitando e subsidiando equipes na formulação de instrumentos e disponibilizando dados acerca desse universo, incluindo cases.
A estimativa é que o mercado de Blended Finance tenha mobilizado até hoje um total de 132 bilhões de dólares, segundo dados mapeados pela Convergence, sendo 17% na região da América Latina e Caribe. O Brasil corresponde a 5% do fluxo nessa região, com 85 transações, sendo a maioria operada por investidores estrangeiros.
Para Aakif Merchant, da Convergence, o ODS mais alinhado ao Blended Finance é o 17, que versa sobre a necessidade de reunir os diferentes players para o alcance das metas. Apesar da grande quantidade de atores internacionais, o especialista observa a necessidade de mobilizar recursos nacionais. “Há muito capital que pode ser mobilizado no Brasil, como fundos de pensão e empresas de seguros – a maior parte do recurso – e bancos locais que podem investir no alcance das metas mais oportunas para o contexto do país. Algumas dessas instituições podem abrir caminhos, inclusive, gerando confiança a futuros investidores.”
Ele convocou fundações e institutos a atuarem como catalisadores e mudarem paradigmas no setor. “Vocês têm um papel muito importante nesse ecossistema por terem a capacidade de assumir riscos logo de início, uma característica que pode ajudar na atração de investidores privados no futuro.”
Programa Vivenda
Foi exatamente essa combinação de visão de futuro e compromisso com a mudançaque oportunizou escala e mais impacto ao Programa Vivenda, especializado em reformas de moradias populares. Em 2014, a Din4Mo e o Grupo Gaia se uniram para desenvolver a primeira debênture de impacto social do país. O título foi pensado a partir do conceito de Blended Finance como solução para dois grandes gargalos do empreendimento: capital de giro e crédito para o cliente de baixa renda. A operação permitiu a captação de R$ 5 milhões e estima impactar positivamente cerca de 32 mil pessoas.
O papel pioneiro foi emitido pela Gaia Cred II e distribuído pelo Itaú Private Bank para dar ao Vivenda a possibilidade de oferecer crédito aos clientes que desejam fazer reformas em moradias localizadas em regiões de baixa renda. Entre os principais apoiadores dessa solução estão Fundo Zona Leste Sustentável, EP8 Participações e Maraé Investimentos.
Para Marco Gorini, um dos fundadores da Din4mo, Blended Finance pode ser uma alavanca na criação de infraestrutura para impulsionar a agenda de impacto. “É preciso coragem e empatia. Sem isso não há relação de confiança e sem relação de confiança não existe Blended Finance.”
Desafios e oportunidades
Na avaliação do fundador da Din4mo, desafios culturais, técnicos, operacionais e legais são os principais entraves para a ampliação do ecossistema no Brasil. “O impacto começa a ter valor. Existe apetite, mas não há produtos adequados para esse investidor. A estrutura é essencial”, comenta Gorini.
Para Joan, instituições intermediárias que fomentem a criação de infraestruturas adequadas para o modelo e o entendimento das demandas dos diferentes tipos de investidores são dois ingredientes primordiais para o êxito e a escalabilidade da modalidade no Brasil.
Humberto Matsuda, da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), por sua vez, acredita que o principal aspecto a ser trabalhado para o futuro do Blended Finance é a mudança de mindset. “Divulgar conceitos que ajudem na propagação da ideia é fundamental. Estamos vivendo um momento onde a mudança em como investir pode mudar a cara do mundo. Essa avaliação sempre foi feita em longo prazo, mas a urgência de pautas como as mudanças climáticas deixa claro que não temos tempo. Impacto tem que começar a compor a avaliação de risco-retorno. Essa deve ser a nova forma de pensar qualquer tipo de investimento.”
Para José Alexandre Vasco, superintendente de proteção e orientação aos investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), existe uma transformação em curso que está levando os reguladores do mercado de investimentos a repensarem paradigmas, porém sem abrir mão da proteção do investidor. “Essa demanda por investimentos de impacto começa a acontecer, especialmente nas novas gerações, e o Estado precisa se reinventar.”
O superintende mencionou duas iniciativas em curso que contribuem para essa abertura. Um sandbox regulatório, que busca reunir insumos para delinear regras de funcionamento do novo regime. E o Laboratório de Inovação Financeira, ferramenta originada por meio de acordo assinado entre a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e a CVM, cujo objetivo é fomentar o debate e a criação de ferramentas financeiras que permitam o avanço do desenvolvimento sustentável no Brasil.
Célia Cruz, diretora-executiva do ICE, lembrou que a entrada do Instituto na agenda de impacto se deu em 2012, ocupando o lugar de conector dos diversos atores do ecossistema, entre eles, os intermediários, que são fundamentais no fomento à construção e à ampliação do ecossistema.
“Percebemos que para fazer esse capital chegar até a agenda de impacto, precisávamos olhar também para o universo de instrumentos financeiros disponíveis e ajudar a pensar novas ferramentas. E entendemos que, somente de forma articulada, vamos co-construir esses novos modos de mover capital para impacto. Portanto, precisamos de mais organizações apoiando a estruturação de Blended Finance no Brasil.”