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O campo de investimentos e negócios de impacto em 2020
Maior diversidade de empreendedores, reconhecimento da potência das periferias e mudança do investimento tradicional com mais intencionalidade são alguns dos caminhos apontados por lideranças e representantes de setores e organizações do ecossistema de impacto
Fazer um balanço do que passou e planejar mais um ano de trabalho são momentos importantes na agenda de organizações, e trazem reflexões sobre oportunidades e desafios. Para compartilhar perspectivas sobre o ano de 2020, o ICE ouviu associados, lideranças e representantes de setores e organizações que compõem o ecossistema de impacto no Brasil: governo, academia, negócios de impacto da periferia, aceleradoras e incubadoras, entre outros.
Oportunidades e perspectivas para o campo de impacto em 2020
- Balanço das 15 recomendações elaboradas em 2015 pela então Força Tarefa de Finanças Sociais – atual Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto – para o avanço do campo de investimentos e negócios de impacto no Brasil entre 2015 e 2020;
- Elaboração de novas recomendações para o campo para o período de 2020 a 2025;
- Novo planejamento executivo do ICE, considerando as novas recomendações e com a co-construção de sua visão de futuro;
- Realização de uma nova edição do Prêmio Academia ICE, assim como jornadas de pesquisa e atenção para extensão universitária no âmbito do programa Academia ICE;
- Criação de subgrupos dentro do programa Incubação e Aceleração de Impacto a fim de repensar a atuação da iniciativa de acordo com o portfólio de cada incubadora e aceleradora;
- Realização do Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto em junho de 2020, com apresentação de tendências e publicações, reunião de atores do campo e ações específicas dos programas ICE;
- Aproximação de empreendedores com o ecossistema de impacto, visando transformação e mudança positiva em seus negócios;
- Oferta de ferramentas e conceitos ligados a impacto respondendo ao interesse crescente de empreendedores, influenciando os negócios, principalmente em seu estágio inicial;
- Busca por maior diversidade entre os empreendedores;
- Diversificação dos investidores para além dos profissionais e qualificados, ou seja, mudança de mindset: do modelo tradicional para um com mais intencionalidade;
- Possibilidade de family offices não só aportarem capital aos empreendedores em iniciativas de impacto, mas também oferecer as melhores práticas de gestão do setor privado, juntamente com conexões estratégicas;
- Reconhecimento do potencial e protagonismo das periferias em pensar e elaborar soluções para desafios sociais, políticos e de mercado a partir da economia criativa no radar de investidores filantrópicos e de negócios de impacto;
- Impacto como tema emergente e com relação direta aos anseios das novas gerações;
- Surgimento de novas temáticas relacionadas a impacto na academia, mas ainda com poucos estudos e desafios na elaboração de conceitos.
“Trabalhamos olhando para esse conjunto de diferentes negócios que se somam, de forma a entender o que são negócios de impacto e todos os diferentes modelos que estão buscando melhorar o mundo. Há negócios inclusivos, negócios B, negócios de impacto, empresas ESG [do inglês Ambiente, Social e Governo]. No último período, vimos chegar muito mais aliados ao campo, como governo, academia e grandes empresas”, explica Célia Cruz, diretora executiva do ICE.
Confira a seguir depoimentos das diferentes lideranças do setor sobre como percebem a articulação do campo para responder e enfrentar os desafios, criando novas narrativas e expandindo sua atuação.
“Nossa aproximação com a temática de impacto e dos ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] nos fez entender que o próprio NGPD (Núcleo de Gestão do Porto Digital) é uma organização de impacto e que um conjunto grande de ações – talvez todas elas, de certo modo – possui conexões com os ODS. Ao mesmo tempo, lidamos com alguns desafios do ecossistema, como a necessidade de crescimento das empresas e a clara demanda por mais profissionais qualificados. No caso deste último, atuamos por meio de programas educacionais que transcendem o profissional médio de tecnologia masculino, branco e de classe média alta, de cursos qualificados pelo NGPD em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas de baixo custo, de um programa de empreendedorismo inovador voltado para comunidades de baixa renda, de um complexo programa de incentivo à presença da mulher no ecossistema (o MINAs) e de uma nascente ação similar para o público LGBTQ+. Além disso, juntamente com o SEBRAE, buscamos a construção de uma plataforma digital que permita o acesso a práticas de empreendedorismo inovador em todo o estado de Pernambuco, com fomento à constituição de comunidades locais de empreendedores conectadas ao Porto Digital e alcance das unidades SEBRAE.” André Araújo, head de aceleração do Porto Digital
“Para 2020, estamos focando em escalar nossa plataforma de empréstimos coletivos, que nós acreditamos ser uma forma muito interessante de aumentar o acesso a investimentos de impacto para o varejo, para pessoas que não são investidores qualificados ou profissionais. Achamos que esse momento é importante porque todo mundo quer investir com valores e todos deveriam ter acesso a isso. Quanto mais pessoas estiverem fazendo isso [facilitando o acesso], mais rápido nós mudaremos a configuração do investimento: do tradicional para o investimento com mais intencionalidade.” Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI Finanças do Bem
“Investimento de impacto é fazer investimento de risco focado em problemas sociais. Por isso, requer a mesma disciplina de um negócio normal e energia para quebrar inércia e fazer muito com pouco. Vejo o ecossistema amadurecendo para uma aproximação mais pragmática e orientado a resultados, deixando para trás uma visão mais romântica e menos eficiente. Evolução no caminho certo.” Karin Baumgart, presidente do conselho deliberativo do Instituto Vedacit, associada e conselheira do ICE
“O ecossistema de impacto social da periferia já existe e resiste há muito tempo, principalmente com atores, agentes e fazedores de impacto que pertencem a essas comunidades. Com as mudanças legislativas, diálogo e interlocução com outros setores, públicos e privados, esse ecossistema resiste e consegue disputar as narrativas, sempre trazendo os lados não vistos para, justamente, fazer das suas atuações lugares legítimos, reconhecidos e assistidos, porque não, financeiramente, intelectualmente e culturalmente. É um ecossistema legítimo em todas as conquistas ao longo dessas décadas, principalmente no Brasil. Mas é preciso que ele conecte-se mais para expandir suas atuações. É uma caminhada que vem de muito tempo e que, apesar de não ter esse nome ou identidade, merece ser reconhecida também como impacto social.” Ítala Herta, cofundadora da Vale do Dendê
“No Brasil, de forma geral, o ecossistema ainda não está organizado. O que percebo é o protagonismo de alguns atores institucionais específicos. E esse fenômeno é localizado. Destaco o trabalho que vem sendo realizado pelo Instituto de Cidadania Empresarial [ICE] nesse sentido. Entendo-o como o principal ator que mobiliza e promove a orquestração de esferas sociais diversas para a atuação conjunta, conseguindo promover um diálogo difícil, porém capaz de apontar avenidas para a ação e o desenvolvimento de pesquisas. Por meio de jornadas de estudos e intervenções, promoção de encontros entre professores e pesquisadores, reconhecimento do papel das universidades e visão pragmática do papel dos atores dos setores produtivo e político, o ICE contribui para pautar uma agenda que estimula e realiza o debate e a construção de tecnologias, numa visão ampla desse conceito, capazes de contemplar as questões que surgem no contexto do ecossistema de impacto socioambiental.” Aurélia de Melo, professora da UNISINOS e conselheira do Programa Academia ICE.