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Estudo analisa o que investidores procuram em negócios de impacto
Estudo analisa o que investidores procuram em negócios de impacto
Scoring de Impacto, lançado pela Pipe.Social, busca entender quais critérios e métricas são utilizados na hora de avaliar se um negócio é bom ou não para investimento. Aliança pelo Impacto foi um dos patrocinadores do estudo.
Segundo o Panorama do Setor de Investimento de Impacto no Brasil, publicado em 2018 por Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) e Associação para o Investimento de Capital Privado na América Latina (LAVCA), 33 respondentes já haviam realizado investimentos de impacto no Brasil em algum momento.
A primeira edição do Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental no Brasil, publicada em 2017 pela Pipe.Social, mostrou que 46% dos quase 600 negócios de impacto socioambiental então mapeados no Brasil mencionavam dinheiro e investidores como as buscas mais urgentes. Publicada dois anos depois, a segunda edição do Mapa mostra que a maioria (21%) dos mil negócios mapeados estão em fase de organização e seguem a tendência anterior: 81% deles – oito em cada dez – estão captando. Mostra-se aquém da demanda, entretanto, a participação de investidores profissionais.
Entre os desafios mais citados quando o assunto é investimento em negócios de impacto estão captação de recursos/disponibilidade de capital e desenvolvimento dos atores do ecossistema.
Para entender a jornada de seleção de negócios e os critérios praticados pelo mercado brasileiro, a Pipe.Social lançou o Scoring de Impacto, um estudo sobre o perfil dos investidores de impacto e seus indicadores na busca por negócios. Frente à baixa histórica dos juros, que contribui para maior disponibilidade de capital para investimentos de risco, o estudo também visa a ajudar os negócios a aproveitar o momento.
Com patrocínio de Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, Itaú e Instituto Renault, o estudo ouviu 15 investidores e 36 negócios para ter uma fotografia do ‘estado da arte’ dos critérios e filtros de investimento no setor, assim como traçar características e práticas que possam apoiar a jornada de amadurecimento de empreendedores e negócios.
Mariana Fonseca, cofundadora da Pipe.Social, explica que a motivação para realizar o Scoring veio da vivência diária da empresa na tentativa de ajudar os empreendedores a entender melhor seus negócios, aprimorar suas entregas e ter mais chances de escalar suas soluções e alcançar o impacto desejado.
“Atualmente, temos quase quatro mil negócios cadastrados em nossa base e os empreendedores sempre perguntam: ‘Por que eu não consegui tal investimento?’, Por que não fui escolhido para tal Prêmio?’. Quando começamos a ver muitos desses questionamentos, pensamos que era hora de responder, buscando entender quais métricas os investidores olham para classificar se um negócio é bom ou não para investimento”, afirma.
Para Beto Scretas, consultor do ICE/Aliança pelo Impacto, o documento preenche uma lacuna no ecossistema, mostrando o que empreendedores precisam entender para se preparar para acessar recursos, vencendo a dificuldade comum de captação na fase inicial das iniciativas.
“Alguns pontos são óbvios, como o fato de que quando a pessoa pensa em captar dinheiro, é necessário ter clareza do momento da vida empresarial em que se encontra, pois isso irá ditar o universo de investidores e o montante que vai conseguir acessar. Se o negócio é mais maduro, o número de investidores dispostos a investir, assim como o volume de dinheiro, é maior, enquanto se o negócio está em uma etapa anterior, o volume de dinheiro e o número de investidores em potencial são menores”, explica.
Além do setor 2,5
Como já mapeado em outros levantamentos, o Scoring aferiu que a maioria dos investidores e tomadores de decisão são homens, brancos, administradores e/ou economistas de formação, com histórico no mercado financeiro e maior concentração na região Sudeste do país, onde também encontram-se mais startups e novos negócios.
Uma das grandes contribuições do estudo é o desenho de uma régua para localizar o setor de impacto, que fica entre o 2º setor – com foco em negócio – e o 3º – com foco em impacto. O setor 2,5 une a expertise de comercializar produtos e serviços do 2º setor e o foco em desafios sociais e ambientais do 3º setor. Mas, mais do que isso, engloba outras visões, que começam com a 2,25, que enxerga o impacto como oportunidade, passam pela 2,5 – que tem o impacto como regra -, e chegam na 2,75, que buscam impacto como objetivo.
“O investidor que vem do mercado mais tradicional está no setor 2,25. Ele vê uma oportunidade de investir em impacto, o que é ótimo, e traz recursos para o setor, mas com uma exigência de escalabilidade e tecnologia do setor 2. O 2,75 é o investidor com foco em fomentar o setor. Então, esse perfil talvez tope não ter um alto retorno financeiro, focando somente na sustentabilidade financeira do negócio. Já o 2,5 são os investidores muito alinhados na construção de um equilíbrio ideal entre negócio e impacto socioambiental, exigindo o mesmo grau de foco em ambos”, explica Mariana.
Indicadores
Outro ponto relevante do estudo é a elaboração de uma lista de 22 indicadores que investidores buscam na hora de decidir sobre um investimento de impacto.
Os critérios foram divididos em três categorias: 1. Avaliação do Impacto (relevância do problema; intencionalidade; tese de mudança; medição de impacto); 2. Avaliação do Negócio (solução – produto/serviço -; fase da jornada; modelo de negócio; gestão financeira; quadro acionário; governança; mercado potencial; potencial de escala; potencial de saída) e 3. Avaliação da Equipe/empreendedor (formação educacional; experiência; conhecimento de negócios; conhecimento do negócio; complementaridade do time; comprometimento; reputação; referências; grau de “coachability”).
Para Mariana, entender o que cada métrica significa pode ajudar o empreendedor a se autoavaliar e a pensar em como melhor se estruturar para investir na captação de recursos.
Como o Scoring ajuda empreendedores
Além de trazer análises sobre o setor, listar indicadores, detalhar os mecanismos de investimento mais utilizados e as cinco etapas do caminho percorrido pelo investidor na busca por um negócio de impacto, o estudo também aborda a dinâmica entre investidor e empreendedor.
Para Mariana, um dos principais problemas que acontece com frequência e deve ser evitado é o ruído de comunicação entre os dois lados. Dessa forma, os líderes dos negócios podem usar a pesquisa como forma de estudar mais sobre o próprio negócio e se aprofundar nas expectativas dos investidores. “O Scoring traz um descritivo dos investidores, suas expectativas e demandas, o que ajuda os empreendedores a entenderem quais são os pontos de tensão para que tenham mais linguagem de mercado, estofo para negociar em uma conversa horizontal e compreensão dos processos.”
Conhecer os investidores de forma geral e se aprofundar em perfis específicos de potenciais investidores para o seu negócio são dicas da especialista. Segundo ela, antes de marcar reuniões, os empreendedores devem entender quais são as teses do investidor, quais áreas de impacto ele prioriza, com quais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ele atua e suas áreas de interesse.
Além disso, a especialista também aponta a importância do impacto estar no core business da empresa, ou seja, ter clareza de como a atividade principal do seu negócio resolve um problema social ou ambiental.
Diogo Quitério, gestor de programas do ICE, observa que o estudo também colabora para desconstruir algumas crenças que rondam o setor de investimentos e negócios de impacto, como considerar um investimento imprescindível para estruturação do negócio. “Além de desmistificar o papel do investidor, o Scoring também faz um chamado para que os investidores deixem mais claro como e em quais momentos podem ajudar os empreendedores, para que esses possam investir energia e tempo onde terão maior retorno. Ao longo da fase de estruturação, o empreendimento precisa de diversos tipos de apoio e parceiros.”
Expectativa dos investidores
Se de um lado os empreendedores precisam se esforçar para conhecer mais a fundo o que os investidores esperam dos negócios de impacto, do outro, os investidores devem ‘encontrar um ponto de equilíbrio entre a tendência e os parâmetros globais de investimento de impacto e a realidade e maturidade da oferta brasileira’, aponta o estudo.
Em outras palavras, é necessário um alinhamento de expectativas considerando a realidade do país onde predominam negócios de impacto fundados por empreendedores em sua primeira jornada. Segundo Mariana, é preciso unir o olhar local ao global, ou seja, ser ‘glocal’.
“É preciso tropicalizar. Os investidores devem aliar a visão de investimento de impacto ou de universo de investimento tradicional à realidade do Brasil, ao estágio de evolução dos negócios, compreendendo o desafio burocrático e governamental, por exemplo. Isso ajuda a não criar uma expectativa de achar negócios prontos, o que acaba por gerar um sentimento de frustração. Eles devem entender que precisarão colocar mais a ‘mão na massa’ em algumas áreas como governança, gestão e métricas de impacto”, aponta.
Acesse
O Scoring de Impacto está disponível na íntegra neste link.