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Impacta Mais ON: o impacto e as pessoas no centro do sistema econômico
Realizado por ICE, Impact Hub e Vox Capital, evento online serviu de ‘esquenta’ para os debates que serão promovidos em novembro durante o Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto.
“A pandemia de Covid-19 está mudando o mundo. As favelas estão sofrendo fortemente, os povos indígenas também. A crise tem aprofundado as desigualdades já existentes. Nesse contexto, há espaço para propor novas crenças e uma economia com o impacto positivo ocupando o centro das decisões de grandes empresas, governos e investidores? E com modelos de negócios que respondam aos desafios das comunidades mais vulneráveis e com investidores que analisem retorno e impacto? Acreditamos que sim! Há um chamado para que a filantropia, o mercado e o capital privado sejam sensíveis a esse novo contexto. Precisamos de muita inovação para enfrentar os desafios sociais e ambientais.”
As palavras acima são de Celia Cruz, diretora-executiva do ICE, e marcaram o convite feito aos participantes na abertura do Impacta Mais ON – versão online do Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto.
Impedidos de realizar a terceira edição do Fórum na data programada (30 de junho e 01 de julho), em razão do distanciamento social para conter a disseminação do novo coronavírus, os realizadores ICE, Impact Hub e Vox Capital, decidiram organizar o evento online para reunir o ecossistema de impacto e discutir seu papel na perspectiva de uma recuperação econômica com menos desigualdade e orientada para a regeneração do planeta.
“Já sabemos que a crise tem trazido perdas inestimáveis e terá impacto direto no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e gerou um aprofundamento das desigualdades no mundo todo. Por isso, queremos reforçar que, agora, as necessidades ficam tão evidentes, que o campo dos investimentos e negócios de impacto pode contribuir de forma muito positiva no sentido de reorientar negócios e investimentos para gerar mais impacto positivo”, observa Vivian Rubia, coordenadora do Fórum.
Atores diversos do ecossistema de impacto, como investidores, empreendedores, filantropos, representantes de institutos, fundações e empresas, aceleradoras e incubadoras e agentes públicos, estiveram reunidos ao longo da programação dos dois dias de evento, que contou com a facilitação da CoCriar, para garantir interação com os participantes, espaços colaborativos e conversas significativas.
O Impacta Mais ON contou com a participação de especialistas do Brasil e do mundo, tecendo um diálogo entre o que se tem discutido no cenário global e no local. Diferentes vozes, diversidade nos debates e dados apoiaram os participantes na construção do entendimento sobre os desdobramentos e movimentos da agenda de impacto para a superação da crise.
Novos paradigmas econômicos
A contribuição dos investimentos e negócios de impacto para a construção de novos paradigmas econômicos conduziu as discussões do bloco da manhã do primeiro dia do evento, que contou com a presença de Sir Ronald Cohen, filantropo, investidor de impacto, inovador social e uma das vozes mais proeminentes mundialmente no tema de investimentos de impacto.
Autor do livro Sobre impacto – Um guia para a revolução do impacto e atual presidente do Global Steering Group for Impact Investment (GSG), Sir Ronald é também cofundador do Bridges Fund Management, um dos maiores fundos de investimento de impacto da Inglaterra, e do Big Society Capital, banco de atacado pioneiro em alavancar grandes volumes de recursos para o ecossistema de impacto britânico.
Para ele, o setor de impacto tem progredido à medida que os valores da sociedade se modificam, por exemplo, no mundo do trabalho. “Muitas pessoas não querem mais trabalhar em empresas que não compartilham desses interesses. E governos e grandes empresas já estão se tornando parte dessa conversa”, afirma.
Sir Ronald observa que a crise gerada pela pandemia da Covid-19 tem questionado a estrutura do sistema capitalista.
“Essa é uma oportunidade histórica de trazer o impacto ao centro do nosso sistema econômico. Precisamos mudar, analisar as métricas e medir o impacto. E o poder da computação dos dados permite que façamos isso. Não é mais um sonho”, defende Ronald.
As pessoas no centro do sistema
A primeira manhã do Impacta Mais ON também contou com um painel formado por Adriana Barbosa (Feira Preta/Preta Hub), Neca Setubal (Fundação Tide Setubal) e Denis Minev (Grupo Bemol) com mediação de Daniel Izzo da Vox Capital. De lugares diferentes, os debatedores trouxeram suas contribuições acerca da relação e da atuação do setor de impacto sobre agendas públicas sociais e ambientais.
Sobre o debate da diversidade e equidade, Adriana lembra que o atual cenário de crise apenas escancarou as desigualdades presentes na sociedade brasileira há séculos.
“A construção das desigualdades no nosso país é histórica. A população negra empreende desde a abolição. Hoje, já vemos que o consumo é pautado pela exigência de grupos mais jovens, ativistas e de movimentos que cobram a responsabilidade das empresas”, observa.
Para a empreendedora, a filantropia ainda tem um lugar fundamental frente aos desafios sociais potencializados pela pandemia.
“O atual contexto afeta especialmente as populações mais vulneráveis e potencializa desafios como fome, pobreza, violência e tantos outros. Nesse sentido, a filantropia ganha ainda mais relevância. Por outro lado, não dá para ter a população negra e periférica apenas como beneficiária das ações. Elas querem ser protagonistas da transformação. É necessário que os empreendedores negros consigam olhar para o impacto de seus produtos ou serviços e pensar o desenvolvimento territorial e a solução dos desafios de suas comunidades. E também incluir lideranças comunitárias e organizações de base nessa ampla ação da filantropia e do investimento social”, pontua Adriana.
Para Neca, a crise descortinou um capitalismo que não leva em consideração as pessoas. “Precisamos construir um sistema que tenham as pessoas no centro do desenvolvimento. Para isso, é necessário que cada um de nós seja um agente dessa mudança. Que consumidores, investidores e empresários exerçam esse papel, atuando em seus espaços. A mudança precisa acontecer em várias dimensões, no sentido do bem comum.”
Para a presidente da Fundação Tide Setubal, retorno, risco e transparência são elementos fundamentais para a atuação das empresas na direção do impacto.
“Me coloco nesse lugar de influenciar as empresas a partir desses três pilares [retorno, risco e transparência]. O investimento social privado tem um papel importante articulado com os empreendedores e com o governo. Nós temos o desafio de medir impacto e analisar como os modelos podem ser escaláveis.”
Denis, por sua vez, ressalta a importância da atuação integrada quando o assunto é impacto ambiental. “O tema ambiental é central, mas não pode ser abordado de forma isolada. Atuar na Amazônia, por exemplo, exige olhar para os aspectos ambientais em conjunto com os sociais, políticos e econômicos”, observa.
Para o economista e cofundador e conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável, informalidade e cultura de subsistência são desafios a serem enfrentados na hora de atuar na região e no tema da Amazônia.
“Há 25 milhões de brasileiros e uma enorme riqueza contida na Amazônia que poderia nos alavancar como país. Precisamos conservar a floresta, mas queremos prosperidade também.”
Reconhecer e atuar sobre os pontos cegos
Otto Scharmer, o criador da Teoria U e co-fundador do Presencing Institute, fechou a agenda de atividades do primeiro dia do Impacta Mais On com uma palestra sobre o que chama de ‘pontos cegos’ a serem considerados para mover sistemas para a transformação.
O especialista convidou os participantes a refletirem: “Você não pode compreender o sistema a não ser que você transforme a sua consciência. A questão é: nós estamos nos abrindo em relação ao outro e aos problemas existentes ou estamos nos blindando contra o que está acontecendo?”.
Segundo Otto, para a transformação sistêmica, é preponderante enfrentar as ‘sombras’ do passado, tais como a escravidão, que gerou sociedades estruturadas no racismo.
Valendo-se do tema, ele demonstra os ‘pontos cegos’ como não enxergar, não sentir e não agir, como condutas que levam à perpetuação do racismo sistêmico, por exemplo.
“A arena política tem mudado no Estados Unidos. Vemos um potencial enorme para a transformação. Precisamos iluminar os nossos pontos cegos e cultivar e investir em três habilidades como sociedade: testemunho incondicional para enxergar o que está acontecendo à nossa volta, amor e apoio, e união para nos envolvermos na jornada”, defende.
O (im)pacto que queremos
Durante os dois dias de evento, a programação reservou espaço para grupos de discussão e sessões paralelas dedicadas a troca de conhecimentos e experiências e à co-construção de uma visão para o ecossistema de impacto.
As atividades foram organizadas com a participação da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, que prepara novas recomendações para o campo. Cinco visões de futuro, que se complementam para fazer avançar o ecossistema de impacto até 2025, foram discutidas pelos participantes e debatidas por investidores, empreendedores, aceleradores, acadêmicos e gestores públicos.
A sistematização das contribuições recebidas durante o Impacta Mais On apoiará a equipe da Aliança pelo Impacto na elaboração das recomendações que serão ainda submetidas a consulta pública antes do seu lançamento em agosto.
Para ver ou rever
Os dois dias do Impacta Mais On foram transmitidos pelo canal do Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto no YouTube e você pode assistir às gravações. Inscreva-se e receba notificações para aproveitar todo o conteúdo.