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Inovação e impacto nas respostas da Vedacit à pandemia
Em entrevista ao ICE, Karin Baumgart Srougi e Luis Fernando Guggenberger falaram sobre a trajetória da empresa, as iniciativas de enfrentamento ao cenário de crise e a aproximação com o ecossistema de negócios de impacto.
Nadando contra a maré, a fabricante de impermeabilizantes, mantas asfálticas, protetores de superfície, selantes, aditivos para concreto e argamassas Vedacit projeta um crescimento de 3% no faturamento deste ano em relação ao resultado de 2019.
A projeção derruba um cenário mais pessimista anunciado pelo grupo ainda no início da epidemia do novo coronavírus no Brasil. A estimativa mais otimista inclui, entre outros fatores, uma efetiva aproximação com o campo de investimentos e negócios de impacto.
Olhando para diferentes formas de fazer negócio e aberta a inovações, a empresa está constituindo a controlada Vedacit Soluções Tecnológicas (VST), a partir da incorporação da Construcode, umas das cinco startups selecionadas para o primeiro ciclo do Vedacit Labs, programa de inovação da Vedacit. Os investimentos na VST já somam R$ 5 milhões e materializam a oportunidade de criar valor equilibrando questões sociais e ambientais.
Uma das soluções tecnológicas oferecidas pela VST é uma plataforma de digitalização de canteiros que possibilita eliminar plantas de projetos em papel por meio da utilização de QR Code. Essa e outras soluções atendem desde a fase de criação dos projetos até a execução das obras e, no futuro, também entrarão na fase de manutenção e qualidade após a entrega das chaves.
“A Construcode possibilitou que, em seis meses, deixassem de ser impressos cerca de 9,5 caminhões de plantas em papel – o equivalente a 15 campos de futebol -, reduzindo a pegada de carbono nos mais distintos canteiros de obras do país. Com a aquisição da startup, inauguramos um novo braço do nosso negócio, que levará essa tecnologia a diferentes pontos da cadeia da construção civil, contribuindo com a digitalização do setor, que é apontado pela McKinsey como o pior do mundo em termos de tecnologia”, observa Luis Fernando Guggenberger, executivo de inovação e sustentabilidade da Vedacit.
O ICE conversou com o executivo e também com Karin Baumgart Srougi, coordenadora do Comitê de Sustentabilidade do Grupo Baumgart. Integrante da família que deu origem à empresa, Karin é associada ao ICE e falou sobre o compromisso do grupo com a inovação e a sustentabilidade e sobre sua experiência como investidora social. Luis Fernando deu mais detalhes sobre o Vedacit Labs e a VST, e sobre a aproximação da empresa com o universo de startups e negócios de impacto no último período.
Confira a entrevista na íntegra.
ICE – Você faz parte do conselho do Instituto Vedacit e participou de sua criação. Qual foi a motivação inicial para a decisão de criar um instituto?
Karin – A criação do Instituto Vedacit foi motivada pelo compromisso do Grupo Baumgart em contribuir com a transformação social positiva em nosso país. A missão do Grupo é empreender negócios e buscar oportunidades nas áreas de materiais para construção civil, imobiliária e agronegócios, com inovação e sustentabilidade. Logo, era de fundamental importância que a Vedacit desse a sua contribuição, organizando e estruturando o seu investimento social privado.
ICE – Por que vocês buscaram uma aproximação com a agenda de negócios de impacto, acelerando e investindo, por meio do Vedacit Labs, em startups como a Construcode, incorporada pela VST?
Karin – Nós nos identificamos muito com o modelo de negócios de impacto socioambiental por ser inovador e ampliar as perspectivas do investimento social privado. Tivemos um primeiro contato a partir da parceria estabelecida com o Programa Vivenda, sendo que fomos o primeiro parceiro do Programa na indústria da construção, e desenvolvemos um modelo de Preço Social, tornando os nossos produtos mais acessíveis de modo que pudéssemos viabilizar o modelo de negócios e, ao mesmo tempo, oferecer produtos de qualidade para a construção de moradias voltadas à população de baixa renda. A partir dessa primeira experiência, implementamos o modelo em parceria com outros negócios, como o Moradigna, e com startups de outros estados, como Mato Grosso do Sul (Digna Engenharia) e em Minas Gerais (Arquitetas da Vila).
Luis Fernando – Um fator relevante para o nosso trabalho tem sido a junção de três setores em uma única área e uma mesma diretoria: Inovação, Sustentabilidade e Instituto Vedacit. Isso tem facilitado a integração das agendas e criado uma pipeline entre elas. Por exemplo, temos apoiado o Lab Habitação, iniciativa idealizada por Artemísia e Gerdau que, desde 2018, acelera negócios sociais que atuam em desafios da população de baixa renda na área de moradia. No âmbito dessa parceria, trabalhamos com empreendedores do chamado early stage, que precisam construir suas teses e validá-las no mercado. Já dentro da agenda de inovação aberta da Vedacit, criamos o programa de aceleração corporativa Vedacit Labs, por meio do qual aceleramos, anualmente, cinco negócios, de impacto ou não, em estágios mais maduros, a chamada fase de tração, onde o empreendedor já tem um modelo de negócio validado e clientes, e nós o ajudamos a crescer sua base de usuários e a fortalecer suas tecnologias. Em nossa agenda de investimentos, elencamos duas verticais – a de digitalização da cadeia da construção civil e a de construções sustentáveis -, permitindo, assim, construir uma ponte para que os empreendedores participantes do Lab Habitação possam participar também do processo seletivo do Vedacit Labs.
ICE – Que iniciativas estão sendo realizadas ou pensadas pela empresa envolvendo também seu instituto para o enfrentamento aos efeitos da pandemia de Covid-19?
Luis Fernando – Inicialmente, dividimos nossa atuação em três frentes. No eixo da moradia, investimos na reforma de casas de colaboradores e doamos produtos ao Moradigna para a reforma de cerca de 60 residências da população de baixa renda da Zona Leste de São Paulo. No eixo de ajuda humanitária, temos apoiado comunidades onde o Instituto está presente por meio de parceria com negócios sociais e organizações da sociedade civil como a Habitat Para a Humanidade, localizada em Heliópolis, e o Programa Vivenda. Já no eixo de geração de renda, investimos no Fundo Volta por Cima, criado pela Artemísia para apoiar negócios de impacto periféricos e soluções em moradia para populações de baixa renda. Dessa forma, temos apoiado empreendedores que já passaram por programas apoiados por nós, como a ANIP e o Lab Habitação, para que mantenham seus negócios de pé durante a pandemia e não aumentem as estatísticas de desemprego e negócios fechados.
ICE – Como sua trajetória na empresa e no instituto se conecta com sua atuação junto ao ICE como associada e conselheira? Que oportunidades, aprendizados e reflexões essa relação gerou para você e sua família?
Karin – Como associada ao ICE e como investidora social, meu papel possui uma via de mão dupla. Tenho tido a oportunidade de participar de discussões importantes sobre o campo da filantropia no Brasil, assim como de projetos muito inovadores. Os aprendizados têm me permitido fazer provocações no âmbito familiar, acerca do direcionamento dos investimentos, e também no âmbito dos negócios do Grupo Baumgart, a partir do meu lugar de coordenadora do Comitê de Sustentabilidade. Ao mesmo tempo, as experiências que tenho vivido investindo em negócios sociais, em eventos e movimentos do ecossistema têm me permitido agregar reflexões no âmbito do espaço do ICE sobre seu futuro e papel no campo das finanças sociais.
Luis Fernando – A partir de provocações do Comitê de Sustentabilidade e do Conselho de Administração do Grupo Baumgart, unimos esforços entre o Instituto Vedacit e o Instituto Center Norte, por exemplo, criando o Movimento Juntos Pela ZN Contra o Covid-19. Por meio de parcerias com organizações locais, atendemos a seis comunidades da Zona Norte de São Paulo com distribuição de cestas básicas e materiais de higiene e limpeza. Entre as comunidades atendidas, está a Brasilândia, região com o maior índice de casos e óbitos na cidade de São Paulo. Também apoiamos três hospitais públicos da região (Mandaqui, Vila Nova Cachoeirinha e Vila Penteado), por meio da parceria com a Ver Bem.
ICE – Na sua avaliação, que papel as grandes empresas têm desempenhado, ou têm a desempenhar, frente os desafios impostos pela pandemia da Covid-19? Como você enxerga a interface desse papel com o setor do investimento social?
Karin – A capacidade de disponibilizar recursos, a velocidade de execução e a prontidão para o enfrentamento dos desafios são uma demonstração de toda a expertise do setor privado que pode ser mais canalizada para as causas sociais e ambientais. Este momento também desafiou as empresas a colocarem em prática, em um curto espaço de tempo, o que foi discutido no último Fórum Econômico Mundial e cunhado pelas cartas da BlackRock [maior empresa do mundo em gestão de ativos]: a transição de um capitalismo de shareholders para um capitalismo de stakeholders. Por isso, acredito que as empresas que colocaram em primeiro lugar seus stakeholders serão aquelas que sairão mais rápido da crise. Já as fundações e institutos empresariais também têm cumprido um papel de suma importância ao abandonar suas agendas de investimento social para empreender ações de ajuda humanitária. Porém, elas também já estão desafiadas a pensar o enfrentamento das consequências da crise no pós-pandemia. Um aspecto importante da interface entre o setor privado e o de investimento social é a capilaridade. Por isso, tem sido de fundamental importância neste momento o fortalecimento de organizações e negócios sociais que atuam na linha de frente, junto com as comunidades, visto que o alcance das fundações e institutos é, muitas vezes, limitado ou têm pouca legitimidade junto às comunidades.
ICE – Na sua opinião, o que os negócios de impacto podem fazer pelo futuro do setor da construção civil? O que você diria a outras empresas ou mesmo a investidores a partir da experiência da Vedacit com o Vedacit Labs?
Luis Fernando – Acredito que o setor da construção civil é um oceano de oportunidades para os negócios de impacto, se observarmos dois dados: 54% dos resíduos do planeta são gerados por esta indústria, segundo a Ellen McArthur Foundation, e há 11 milhões de moradias em condição de insalubridade no Brasil, segundo a Tese de Impacto Social em Habitação da Artemísia. Esses indicadores demonstram o tamanho do desafio socioambiental a ser encampado pelo setor e o quanto esses negócios são fundamentais para o enfrentamento desses desafios. Minha recomendação às empresas e aos investidores é de que precisamos furar as bolhas, quebrar a divisão entre negócios de impacto e negócios mainstream, pois ambos podem e devem ensinar e aprender uns com os outros. Um bom exemplo disso é pensar que programas de aceleração voltados a negócios de impacto colocam muita energia na validação dos modelos e teses de impacto socioambiental, enquanto os programas de aceleração mais corporativos, cujo foco está mais voltado a métricas financeiras e de base de usuários, podem ensinar aos negócios de impacto sobre como se estruturar para rodadas de investimento, como preparar seu captable para não ser diluído, etc. Já os negócios de impacto podem ensinar aos tradicionais como inserir e medir o impacto social e ambiental de suas operações, como colocar o propósito em prática, etc. Logo, aos investidores cabe o papel de apoiar a integração entre esses dois mundos, assim como fortalecer e incentivar a criação de pipelines mais voltadas à jornada dos empreendedores nos seus diferentes estágios.