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Encontro online reúne a Rede Academia ICE
Encontro nacional, evento anual da rede, aconteceu pela primeira vez de forma online. Docentes da rede do Programa Academia se conectaram para debater inovação, impacto e empreendedorismo social na companhia de atores do ecossistema que agregaram suas perspectivas sobre o que definem os negócios de impacto na diversidade de contextos no Brasil.
“Quando a sobrevivência está ameaçada, não podemos considerar [a situação] normal. Mas mesmo antes da pandemia não tínhamos um ‘normal’. Já enfrentávamos desafios para ter um Brasil melhor.” Com essa reflexão, Adriana Mariano, gestora de programas do ICE, deu início ao Encontro Nacional 2020 Academia ICE, nos dias 30 e 31 de julho.
Realizado pela primeira vez de forma online, o evento teve como tema “Ensino Superior e o ‘Melhor Normal’ – Novos paradigmas para inovação e impacto social”. Realizado pela primeira vez de forma online, o evento teve como tema “Ensino Superior e o ‘Melhor Normal’ – Novos paradigmas para inovação e impacto social”. Além de celebrar as conquistas da Rede Academia ICE, que passou de cinco para 116 professores nos últimos 7 anos e impactou mais de 4 mil alunos e alcançou 12 mil pessoas em atividades de extensão entre 2016 e 2019, o evento também foi uma oportunidade para acolher os professores. Muitos estão tendo que se adaptar ao modo remoto de ensino e todos enfrentam outros desafios impostos pelo contexto de pandemia.
“No início, pensávamos que vocês trariam os desafios da tecnologia nas aulas à distância, mas vocês nos mostraram como acolheram alunos que não conseguiam acessar as aulas e aqueles que perderam seus familiares. Aprendemos muito conforme vocês foram reinventando o amanhã da academia”, reforçou Célia Cruz, diretora executiva do ICE.
Perspectivas de impacto
Pensar em como fortalecer a sociedade para a construção desse ‘melhor normal’ por meio da inovação social e contando com o apoio da academia foi o debate que marcou o painel de abertura do evento. Para Diogo Quitério, gestor de programas do ICE e mediador da conversa, o papel da academia é vital, seja na consolidação de conceitos, na sistematização de práticas ou na formação de profissionais aptos a lidar com negócios e pensar em soluções para desafios socioambientais concretos.
João Souza, presidente e diretor de inovação do FA.VELA, hub de educação e aprendizagem empreendedora, inovadora, digital e inclusiva em territórios vulnerabilizados, chama atenção para a necessidade de desmistificar o que é impacto e aproximar o conceito da realidade das periferias.
“Muitas vezes quando partimos de pressupostos teóricos validados pela academia ou por uma lógica de mercado, acabamos promovendo mais exclusão. Eu nunca fui muito bom em matemática, mas gosto da lógica de conjuntos: pertence ou não pertence. Então, quando falamos de negócios em uma escala muito menor, um exemplo é uma creche numa favela. Ela tem um impacto muito grande, que é proporcionar cuidado a crianças para que suas mães possam trabalhar ou empreender, e talvez seja difícil analisar isso com as métricas do mercado ou de outros ambientes onde o tema é discutido”, exemplifica.
Tatiana Schor, secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, reforçou que a realidade local deve guiar todas as decisões e que olhar o Brasil a partir da Amazônia, e não o contrário, é uma mudança de perspectiva enorme. “Nossa visão de bioeconomia é muito diferente da perspectiva tradicional, por exemplo. Acreditamos em negócios de impacto socioambiental e na necessidade de pensar de que forma valor, riqueza e renda vão se distribuir ao longo da cadeia de valor. Não podemos continuar tendo um processo de desenvolvimento econômico que mantenha a pobreza do país.”
Para a economista e geógrafa, o papel da ciência, tecnologia e inovação na Amazônia é fundamental, pois trata-se do comprometimento com o aspecto social e do envolvimento com pessoas em situação de vulnerabilidade e pobreza, cenários que podem ser positivamente impactados por negócios socioambientais. “Temos trabalhado sob a perspectiva de fazer uma releitura do que está estabelecido como negócio de impacto social e ambiental para o Brasil para essa região específica, onde há grupos indígenas coletores de castanha, por exemplo, que não trabalham com a lógica matemática. Como fazer um plano de negócios nesse contexto? O impacto é permitir a construção de um negócio que respeite a cultura local e que permita que as formas tradicionais se fortaleçam, ao mesmo tempo em que consigam existir nesse mundo.”
Tatiana explica que uma das ações que está sendo colocada em prática na região, em parceria com o governo federal, para fomentar pequenos negócios de impacto com a prerrogativa de respeitar culturas locais é a criação do parque científico tecnológico do Alto Solimões.
Outra perspectiva que compôs o debate foi a da inclusão produtiva, abordada por Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax. Conectado diretamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8, que versa sobre trabalho decente e crescimento econômico, o conceito de inclusão produtiva consiste em incluir economicamente pessoas em situações vulneráveis, seja pela via da empregabilidade ou pela via do empreendedorismo rural ou urbano.
Vivianne explica que a Fundação trabalha o tema há quase dois anos e, durante a pandemia, percebeu um aumento notável na busca por informações sobre o conceito. “Incluímos nas nossas iniciativas emergenciais provocadas pela Covid-19 o apoio a pequenos negócios que, a princípio, não são negócios de impacto, como bares, restaurantes, pet shops em bairros mais afastados ou em cidades pequenas, produtores rurais e cooperativas que garantem vários empregos. São as micro e pequenas empresas que empregam a maioria da população nesse país e isso amplia nosso conceito de impacto social e inclusão produtiva”, afirma.
Conceito de sucesso para os vários Brasis
Para os debatedores, é fundamental pensar na pluralidade cultural e de contextos que compõem o território brasileiro. Para Tatiana, o fato de o Brasil ser um país diverso implica em que não haja uma solução única para negócios de impacto socioambiental no país. “Costumamos chegar nos lugares com uma ideia formatada do que o negócio deve ser, o que é impacto e, com isso, não abrimos a possibilidade de as pessoas pensarem de outra forma. No Amazonas, estamos falando de populações que têm linhas de raciocínio diferentes da nossa. A tradução não só da língua, mas também de entendimento e visão de mundo não é óbvia. Precisamos buscar compreender como essas pessoas entendem oportunidade econômica.”
Vivianne vai na mesma linha ao afirmar que é importante a compreensão das múltiplas vulnerabilidades que marcam o Brasil. Nesse sentido, a especialista aponta muitas mudanças desde os anos 2000, quando o trabalho com modelos de impacto social ainda encontrava resistência. “Houve uma ampliação muito grande do significado e da potência que o campo dos negócios de impacto pode ter. Podemos pensar em negócios de diferentes grupos e maneiras. Todos eles têm seu valor, desde que estejam realmente comprometidos com o impacto social.”
Para a superintendente, a entrada de mais atores no campo, incluindo o poder público e a própria academia, contribui para somar novas perspectivas ao debate.
A evolução do empreendedorismo social
Para encerrar a manhã do primeiro dia de encontro, a Academia ICE contou com a participação do professor Alex Nicholls, pioneiro no campo, tendo sido o primeiro professor titular de empreendedorismo social na Universidade de Oxford, na Inglaterra. O professor Edgard Barki (EASP/FGV) mediou a conversa representando a rede mobilizada pelo ICE.
Revisitando conceitos e compartilhando reflexões sobre a evolução do empreendedorismo social, Nicholls afirma que, apesar de existirem muitas definições para o termo, trata-se, sobretudo, de uma ação privada para o bem público, que, geralmente, tem início com um problema social, ambiental ou de desequilíbrio socioeconômico. Além disso, considera que são dois os tipos de empreendedorismo social: as soluções que focam em novos modelos de impacto social, as chamadas empresas sociais, e as soluções estruturais que visam mudanças sistêmicas, as chamadas inovações sociais.
Nicholls explica que, para evitar a confusão entre três conceitos do campo, é possível pensar da seguinte forma, construindo uma figura: ‘inovação social’ (ideias, modelos, discursos e inspirações com foco em mudanças estruturais) são o círculo mais externo que comporta o ‘empreendedorismo social’ (organizações, projetos e movimentos sociais que trabalham com inovação). No centro, o círculo das ‘empresas sociais’, que por sua vez são o subconjunto do empreendedorismo social que alia lucro e propósito.
O professor também dialogou com uma provocação que teve espaço na fala de João Souza (FA.VELA) sobre o empreendedorismo estar presente em territórios e lares periféricos muito antes do próprio termo ser cunhado. Nicholls concorda ao afirmar que as pessoas mais empreendedoras são as mais pobres, que precisam ser criativas para lidar com suas realidades. “Talvez essas pessoas não sejam categorizadas como empreendedores sociais e é comum não terem suporte institucional. Por isso, devemos encontrar mecanismos locais ou internacionais para reconhecer esses homens e mulheres e dar a eles e elas o apoio para que possam desenvolver seu trabalho.”
Nicholls celebra o desenvolvimento do campo de empreendedorismo social a partir da observação do surgimento de diversos centros de ensino e pesquisa, como o Skoll Centre for Social Entrepreneurship, do qual já foi diretor, assim como a EMES e a SEKN, além do aumento de financiamento para pesquisas e do número de conferências e espaços dedicados a debater o tema. “Se, há 20 anos, me perguntassem se eu acreditava que esse seria um campo de atuação e estudos, eu não poderia responder com certeza. Mas, hoje, podemos falar que é um campo que está institucionalizado e indo adiante.”
O professor também destaca o crescimento do número de acadêmicos envolvidos com o debate sobre empreendedorismo social, além do número de citações em publicações e pesquisas acadêmicas envolvendo os termos inovação e empreendedorismo social e investimento de impacto, sobretudo a partir de 2006.
A crise do coronavírus também teve espaço na conversa com Nicholls. Para o especialista, a palavra do momento é resiliência social, ou seja, como sistemas estão lidando com a Covid-19 e seus efeitos do ponto de vista político, econômico, no setor público e na área da saúde.
Em breve, momentos do Encontro Nacional Academia ICE estarão disponíveis no Youtube. Se inscreva no nosso canal, ative as notificações e receba as novidades.