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Estudo aponta cenário desafiante para negócios de impacto no curto e médio prazo
Realizada pela ponteAponte, pesquisa foi encomendada pela Rede Temática de Investimentos e Negócios de Impacto, do GIFE, e apoiada pelo ICE.
Para o setor de negócios de impacto, o cenário de curto prazo não é animador, mas, no médio prazo, pode haver sinais de recuperação, com perspectivas otimistas após março de 2021. Essa é a leitura do relatório Cenários e tendências sobre o campo de negócios de impacto e intermediários frente à COVID-19 para o ecossistema no atual contexto de pandemia.
Inspirada no mapeamento de iniciativas de combate à Covid-19 promovido pela ponteAponte, que deu origem ao documento Os 60 primeiros dias de Covid-19 e o ISP no Brasil – uma análise macro, a Rede Temática (RT) de Investimentos e Negócios de Impacto do GIFE convidou a organização para um mergulho específico no campo de impacto. Desde sua criação em 2016, a RT vem se constituindo como porta de entrada do setor do investimento social privado (ISP) e da filantropia para o campo.
“Frente ao atual cenário de incertezas, o relatório foi um passo importante para a escuta das perspectivas mais diversas do campo com a finalidade de ampliar os horizontes para essa interlocução entre o ISP e o campo de impacto, agora e também no pós-pandemia.” explica Thaís Nascimento, coordenadora de fomento e inovação no GIFE.
Segundo Célia Cruz, diretora executiva do ICE, um dos apoiadores do estudo, os achados da ponteAponte também reforçam o alerta sobre o momento crítico pelo qual passam aceleradoras, incubadoras e outras organizações que apoiam os negócios de impacto.
“O ICE criou a iniciativa Elos de Impacto que com R$ 725 mil apoiou fundos e Intermediários que apoiam negócios de empreendedores da base e aceleradoras e incubadoras de diferentes regiões do Brasil. Também estamos apoiando a produção de outros estudos sobre a sustentabilidade financeira deste tipo de organização e o acesso de produtos e serviços de impacto a mercados. Precisamos garantir que sobrevivam e que tenham ferramentas para fazer parte da recuperação pós-Covid com mais negócios de impacto.”
O estudo da ponteAponte
A metodologia contemplou duas etapas, sendo a primeira uma revisão das 296 ações mapeadas pela ponteAponte entre março e maio deste ano, somada a uma pesquisa de dados secundários com mais cem iniciativas ligadas a negócios de impacto e organizações intermediárias. Já a segunda etapa envolveu consulta a 28 atores do ecossistema (entre negócios, intermediários e mídia) e novas pesquisas secundárias.
O estudo mapeou 106 iniciativas, das quais 63 tinham negócios de impacto como público-alvo parcial (incluindo outros públicos) ou prioritário. Apenas onze os definiam como público prioritário e foram consideradas iniciativas de alto impacto para esse público.
Das 63, 42 eram lideradas por negócios de impacto, com foco sobretudo nas populações mais vulneráveis e/ou sociedade em geral, 15 por intermediárias e 10 por redes ou coletivos.
Das 106 iniciativas, 50 apenas envolvem recursos financeiros, dos quais somente R$ 13 milhões são direcionados prioritariamente a negócios de impacto e/ou intermediárias.
Vinte iniciativas eram lideradas por órgãos públicos ou mistos, sendo esses responsáveis por mais de 99% dos recursos financeiros mapeados (R$ 54 bilhões), não direcionados prioritariamente para o campo de impacto.
Cenário pede mais investimentos para o fortalecimento de negócios e organizações intermediárias
As projeções de expansão e fortalecimento do setor, com perspectivas de ampliação da participação do ISP, foram atropeladas em março com o anúncio da pandemia.
O estudo mostrou um aparente ‘congelamento’ na tendência de aumento no volume de recursos investidos em negócios de impacto e intermediárias apontada pelo último Censo GIFE (2018) em relação à edição anterior.
Para Vanessa Prata, sócia-fundadora da ponteAponte, isso pode ser explicado pelo redirecionamento de recursos para ações emergenciais frente ao cenário de pandemia. “O estudo mostra poucos recursos do investimento social privado sendo direcionados aos negócios de impacto nesse período, ao passo que OSCs [organizações da sociedade civil] e movimentos sociais ganharam relevância por sua atuação nos territórios”, observa.
O estudo projeta um cenário pessimista no curto prazo (até setembro/20), com forte impacto negativo devido à queda de receitas e doações, congelamento dos investimentos e interrupção de atividades.
Nessa fase, quem encontra oportunidades são startups da área de healthtech, gestores de fundos filantrópicos, plataformas de crowdfunding e negócios de impacto com canal de vendas online estruturado ou que conseguiram se adaptar.
No médio prazo (até março/21), a conjuntura entra em modo de transição para um cenário neutro, com diminuição de recursos em virtude da crise, desafios de readequação, fechamento de organizações intermediárias e endividamento de negócios, porém com uma lenta retomada de crescimento em 2021.
Nessa etapa, estão previstas algumas oportunidades, como surgimento de mais negócios de impacto, maior sensibilização e engajamento do setor privado, aumento de sensibilização à agenda de impacto, políticas públicas estruturantes, aumento de doadores/financiadores e fortalecimento dos negócios que resistirem ao primeiro período da crise.
No longo prazo (após março/21), o cenário passa de neutro a otimista, com negócios de impacto ocupando posição mais central nas carteiras/portfólios, intermediários com novos papéis e centralidade na reconstrução da economia, aumento do mercado para negócios de impacto em razão do aumento da pobreza e aceleração da conscientização acerca desse novo modelo de negócios.
No entanto, o documento aponta algumas ameaças nessa fase: fechamento de empreendimentos e organizações sem apoio externo ou investimento a fundo perdido, desafios a negócios voltados a mercados populares em fase de desenvolvimento ou expansão, maior dificuldade de comercialização para modelos B2B (Business to Business) ou B2G (Business to Governement) e maior dificuldade para intermediários acessarem recursos públicos e privados.
“Para que muitos negócios de impacto e intermediários possam atravessar esse período de crise é cada vez mais importante acesso a capital filantrópico e a capital paciente, especialmente no caso de organizações em estágios mais iniciais, que ainda não têm um fluxo de caixa ou um fundo mais robusto para enfrentar alguns meses sem entrada de receitas”, observa Vanessa.
Recuperação com mais impacto positivo é oportunidade
Vanessa afirma que, ainda que as oportunidades no curto prazo sejam mais focadas em algumas áreas e setores específicos ou em determinados tipos de organizações, como healthtechs e gestores de fundos filantrópicos, no médio e no longo prazo há oportunidades para os negócios de impacto que conseguirem resistir ao primeiro período da pandemia, inclusive se reinventando.
“Um caminho possível passa pela construção de uma nova narrativa para o ecossistema, que apresente os negócios de impacto e intermediárias como parte integrante da sociedade civil e da reconstrução econômica e mesmo de um novo modelo de economia”, defende.