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Balanço ajuda a entender como a pandemia afetou o Ensino Superior na América Latina
Levantamento traz balanço sobre medidas tomadas por IES no Brasil e na América Latina em três instâncias: ensino, extensão e pesquisa. Os professores universitários Débora Bobsin (UFSM) e Valdeci dos Santos (UNICAP) da Rede Academia ICE comentam como a pandemia afetou suas atividades e como estão iniciando o novo ano letivo.
Além dos efeitos sobre as escolas da Educação Básica, o novo coronavírus também afetou a vida acadêmica nas Instituições de Ensino Superior (IES). A percepção dos docentes sobre as medidas adotadas pelas IES em resposta à pandemia varia, bem como as projeções para o futuro do ensino superior.
Para compreender o novo contexto das rotinas acadêmicas, Ashoka Commons, a organização chilena 2811 e o programa Academia ICE realizaram a pesquisa Educação Superior na América Latina: A Agenda de Inovação Social e o Contexto Covid-19. Respondido por 115 docentes do Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Nicarágua, Peru, Porto Rico e Venezuela, o levantamento teve como objetivo traçar um panorama sobre como as instituições de ensino superior se organizaram no âmbito do ensino, extensão e pesquisa.
“O ano de 2020 foi muito desafiador para os professores, seja se adaptando rapidamente a um modelo online, seja planejando uma retomada em um cenário incerto. Ao mesmo tempo, mostrou como o papel do professor é fundamental para engajar e facilitar a aprendizagem dos estudantes”, explica Juliana Rodrigues, consultora do Programa Academia ICE que liderou o desenho e a execução da pesquisa.
Achados
Quando as respostas sobre a continuidade das aulas são analisadas de forma geral, prevalecem aulas mantidas em outro formato (65%, de acordo com todos os países, exceto Brasil). No país, as aulas mantidas foram uma realidade para instituições privadas – comunitárias (82%) e particulares (86%), – e públicas estaduais (67%), que não se aplica às públicas federais, com apenas 20%. Nesse último caso, 72% dos respondentes afirmam que as aulas foram suspensas e/ou canceladas.
As aulas mantidas e suspensas tiveram avaliação semelhante no Brasil: 4.2 foi a nota média dada pelos respondentes entre as suspensas e 4.7 entre as mantidas. Analisando cada caso separadamente, 75% dos docentes avaliam de forma positiva a adoção do formato de aulas online em resposta ao cenário de pandemia. Para 40% deles, as aulas online não produziram alteração no engajamento dos estudantes, entretanto, impactaram negativamente a presença dos alunos (32%).
Os desafios do Ensino em 2020
As vantagens, desvantagens e desafios variam de acordo com a diretriz adotada pela IES. Entre as vantagens das que mantiveram as aulas, os profissionais apontam o uso de recursos tecnológicos, a continuidade dos estudos, a economia de tempo de deslocamento e a flexibilidade de acesso, tempo e local. Já os desafios mais citados envolvem assegurar a saúde e segurança de todos e a adaptação ao modelo híbrido: presencial e online. As instituições que suspenderam as aulas identificaram vantagens na redução do risco de contágio, enquanto apontaram como pontos negativos o atraso ou perda do semestre e a necessidade de compreender e se adaptar ao ensino remoto, bem como o contexto de exclusão tecnológica que dificultou o acesso de alunos de baixa renda.
Diante desse cenário, Juliana reforça que não foi possível identificar um padrão mínimo em termos de infraestrutura que caracteriza o ensino superior no Brasil. “As abordagens, desafios e necessidades são muito diferentes. O cenário da pandemia gerou muitos impactos nas instituições de ensino superior brasileiras, e evidenciou ainda mais uma realidade diversa.”
Débora Bobsin, professora do Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que, no início da pandemia, a diretriz – não obrigatória – da instituição aos professores foi dar continuidade às atividades sem ater-se à notas, com o objetivo de manter os alunos engajados.
Para Valdeci dos Santos, professor do departamento de economia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), onde as aulas presenciais foram transferidas para o ambiente online no início da pandemia, grande parte das dificuldades enfrentadas esteve relacionada à adaptação ao novo modelo, tanto por parte dos estudantes, como dos professores. A motivação dos estudantes e o desenvolvimento de atividades obrigatoriamente práticas foram questões que permearam o ano passado.
Extensão e pesquisa
Sobre as atividades de extensão, a maioria dos respondentes (43% no Brasil e 45% nos demais países) receberam diretrizes institucionais sobre o que deveria ser feito, com prevalência da transferência das atividades para meios digitais e online (58% nos demais países e 51% no Brasil), seguido de adaptação do escopo e revisão das atividades. Apesar de as medidas serem avaliadas positivamente por terem potencializado a inovação e aumentado o engajamento, muitos reforçaram a questão do distanciamento físico e também o desafio da conexão, acesso e adaptação às ferramentas online.
As atividades envolvendo pesquisa seguem a mesma tendência: 57% delas foram transferidas para meios digitais e online no Brasil, sendo que 45% das IES enviaram diretrizes sobre o tema aos professores. Uma das grandes desvantagens apontadas pelos professores nessa frente foi a falta de interação e as restrições ao trabalho de campo e uso dos laboratórios.
Ações contra a Covid-19
Com base na análise dos resultados da pesquisa, Juliana reforça a importância de ações desenvolvidas pelas instituições em diferentes frentes no combate à pandemia. “Do suporte ao aluno à produção de visores de proteção, as respostas mostram como o ensino superior não é apenas sala de aula, mas o engajamento com a sociedade e a pesquisa nas mais diversas áreas.”
Entre as principais iniciativas desenvolvidas nesse âmbito estão: Pesquisa e desenvolvimento de equipamentos e outros itens de prevenção (67%), Produção e doação de máscaras e visores de proteção (63%), Doação de alimentos para comunidades e organizações sociais (55%), Doação de produtos de higiene para comunidades e organizações sociais (55%), entre outras.
A UFSM, por exemplo, ofereceu atendimento telefônico a mulheres em situação de violência devido ao isolamento social, além da produção de protetores faciais para distribuição em hospitais e comércios, bem como campanhas de alimentos e o uso dos laboratórios da universidade para processar testes de Covid.
Projeções
Depois de praticamente dois semestres de aulas online, o cenário mais provável é que as instituições de ensino superior mantenham as atividades à distância devido à alta de novas contaminações e mortes por Covid-19 no país e o ritmo insuficiente da vacinação.
Para Débora, além dos desafios já vividos em 2020, novas questões deverão ser enfrentadas em 2021. Entre elas estão a necessidade de inovação das estratégias para que tanto os alunos como os docentes continuem motivados nesse contexto de incerteza, além de uma compreensão mais clara sobre qual serão os próximos passos da educação, uma vez que as alterações do modelo – presencial, online ou híbrido – requerem mudanças e adaptações.
“O ensino online ou híbrido demanda investimentos para a disponibilização das ferramentas aos professores. A escola pública tem um eterno desafio que é como dar acesso a estudantes de baixa renda ou que vivem no interior. Se esse aluno dependia do restaurante universitário e da moradia estudantil e, no momento, a universidade não está disponibilizando isso, ele não tem uma estrutura de suporte para seu desenvolvimento. Estamos tentando eliminar barreiras como, por exemplo, ter editais para dar subsídio e acesso a tecnologia”, explica Débora.
Com a perspectiva da rede privada, Valdeci completa que será necessário cautela na retomada das aulas em 2021. “Estamos iniciando o ano letivo ainda na modalidade à distância, devendo, ao longo do ano, migrar para o híbrido à medida que seja constatada a eficácia da vacinação. Nossa perspectiva é buscar saídas compatíveis com um cenário de gradual retomada. Mas, mesmo que o retorno ao modelo presencial ocorra, eventualmente, o ensino à distância deve se consolidar em alguns casos, assim como o uso das metodologias ativas em sala de aula.”