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Boletim ICE especial | Abril/Maio de 2021 | Entrevista Alex Seibel
Publicado em 07/05/2021 por ICE
“A expressão ‘meu consumo é o meu manifesto’ será cada vez mais real e a busca por empresas com ‘alma’, cada vez mais constante”
Em entrevista ao ICE, o acionista, empreendedor, investidor de impacto e associado do ICE Alex Seibel fala sobre a influência das novas gerações sobre os modos de consumo e investimentos e seus efeitos sobre as empresas e o mercado financeiro.
O mundo dos investimentos e negócios de impacto e do ESG têm um elo em comum: os consumidores das gerações Y e Z.
A mensagem das novas gerações é clara: responsabilidade social e ambiental e governança importam tanto quanto o lucro. Empresas e marcas precisam se adaptar às mudanças e rever seus objetivos e propósitos se não quiserem perder mercado.
Esse movimento não se restringe ao consumo. Na hora de investir, as novas gerações também têm demonstrado sua preferência por negócios e ativos sustentáveis, que gerem impacto positivo ou mitiguem riscos e danos sociais e ambientais.
Questões como origem da matéria-prima, modelo de produção, gestão de resíduos, cadeia de valor, relações com stakeholders e a saúde e segurança dos colaboradores estão na mira desses investidores tanto quanto o retorno financeiro.
É o caso de Alex Seibel. Com apenas 32 anos, o empreendedor socioambiental e investidor de impacto se tornou um dos ícones da nova geração de empresários engajados no chamado capitalismo consciente.
Filho de Helio Seibel e herdeiro de um dos maiores grupos empresariais do país, a Duratex – que detém marcas como Deca, Hydra e Durafloor e acaba de criar uma gerência de ESG -, o jovem empreendedor também pilota sua própria empresa de produtos químicos sustentáveis, feitos com matérias-primas naturais e livres de derivados de petróleo, a Positiva, além de ser sócio do fundo Positive Ventures, dedicado a investimentos em empresas com propósitos sustentáveis. Preside, ainda, o Conselho Consultivo da ONG Arcah.
Associado ao ICE desde 2017, o empreendedor falou, nesta entrevista, a partir de dois lugares distintos: do investidor que busca impacto socioambiental e do empresário que deseja mitigar os riscos e impactos de sua atuação para as pessoas e para o planeta.
Confira.
ICE: Existe um mito de que para realizar investimentos de impacto ou ESG é necessário abrir mão do retorno financeiro. Que outros mitos dificultam a entrada de mais investidores no universo dos investimentos de impacto ou sustentáveis?
Alex Seibel: Outros disseminados com frequência são que a demanda por produtos com esses conceitos socioambientais é pequena e que o custo de operação é maior. São mitos sustentados por uma visão de mundo antiga ou por uma perspectiva de curto prazo. Há pouco tempo, realmente, a demanda era pequena. O consumo consciente vem aumentando ano a ano, em grande parte, devido às exigências das novas gerações, que possuem uma preocupação genuína com os problemas que estamos vivenciando. Em relação ao custo operacional e à necessidade de Capex [sigla para Capital Expenditure – em português, despesas de capital ou investimento em bens de capital], trata-se de um trade off [termo da língua inglesa que define uma situação em que há conflito de escolha] de curto prazo por longo prazo. A instalação de placas fotovoltaicas, por exemplo, que diminuirá o custo da energia no curto prazo, requer um Capex antecipado que, muitas vezes, pode ser considerado um investimento não prioritário. Entretanto, já existem modelos de negócio em que a empresa não precisa fazer o Capex e pode se beneficiar ainda de uma redução na conta de energia. Cada caso é um caso e para cada negócio existem questões mais relevantes a serem endereçadas, mas uma variável é constante: o aumento da consciência dos consumidores não irá diminuir e isso deve ser levado em consideração pelos negócios que possuem uma perspectiva de longo prazo.
ICE: Na sua avaliação, quais são os principais desafios na jornada de investimentos de impacto ou em produtos ESG?
Alex Seibel: Como investidor, eu diria que o desafio é encontrar negócios de impacto que unam um time gestor de alta qualidade e um modelo de negócio escalável. São componentes fundamentais em qualquer negócio, mas acabam se tornando mais escassos em negócios de impacto por se tratar de um setor relativamente novo.
ICE: E para mover um portfólio inteiramente para impacto, quais são os principais desafios?
Alex Seibel: A complexidade de migrar um portfólio inteiro é a restrição de ativos em classes que ainda não maturaram em impacto, como a renda variável. Em venture capital, [modalidade utilizada para apoiar negócios por meio da compra de uma participação acionária, geralmente minoritária, com o objetivo de ter ações valorizadas para posterior saída da operação], renda fixa e private equity [modalidade de investimento em empresas não listadas em bolsa de valores com o objetivo de captar recursos para desenvolvimento da empresa] já existe um número razoável de opções. Mesmo assim, pela velocidade com que novos ativos estão surgindo, como é o caso de ativos de infraestrutura (saneamento, energia renovável, fibra óptica, etc.), acredito que essa migração será cada vez mais factível.
ICE: Que conselho você daria a investidores tradicionais ou a quem ainda não investe e deseja ingressar diretamente na jornada de impacto?
Alex Seibel: Não ter preconceito. Um investidor tradicional pode achar que não será um bom negócio investir em impacto porque aquele empreendimento ou produto está mais preocupado em ‘salvar o mundo’ do que em ganhar dinheiro. Essa ideia limita enxergar o potencial que existe em um time apaixonado ou em um modelo de negócio mais arrojado e não óbvio. A marca de vestuário esportivo Patagonia é um exemplo de comunicação coerente e colhe os resultados desse trabalho, embora lá atrás pudesse ser vista como um negócio alternativo. Outro conselho que eu daria é: caso seja o seu primeiro investimento desse tipo, escolha um fundo com bons gestores e que permita a participação do investidor mais de perto, mas sem ter que tomar a frente. Esse formato ajuda muito a introduzir o tema e fornece aprendizado relevante sobre o ecossistema de impacto.
ICE: Que oportunidades e tendências podem ser vislumbradas por investidores tradicionais ou quem ainda não investe e deseja ingressar na jornada de impacto ou em produtos ESG?
Alex Seibel: Vejo diversas tendências ganhando bastante força no Brasil e no mundo. Consumo consciente, veganismo, energia renovável, microcrédito, crédito estudantil, saúde inclusiva, telemedicina, moradia popular e reformas em periferias, bioinsumos para agricultura, ensino a distância e muitas outras. O importante é perceber que a sociedade está mudando e com ela os negócios também irão mudar, a demanda por produtos e serviços que enderecem as ‘dores’ da sociedade será cada vez maior.
ICE: Indo além da perspectiva do investidor, como você – empresário que criou uma startup de impacto e é conselheiro de grandes empresas como Leo Madeiras, Agrivalle e Duratex – vê a diferença entre esses dois mundos: o dos investimentos e negócios de impacto e o do ESG?
Alex Seibel: Criar uma startup do zero que se propõe a resolver um problema social ou ambiental via seu core business é relativamente simples perto de ajudar uma grande empresa a se reposicionar. Uma grande empresa de sucesso possui seus modos de operação solidificados e incentivados a se manterem do jeito que sempre foram pelos bons resultados que os mesmos geraram ao longo do tempo. A mudança é desconfortável e traz insegurança e isso, muitas vezes, é suficiente para impedir a inovação. Entretanto, quando a grande empresa resolve inovar, seja em qual área for, ela tem escala e capital para fazê-lo e com grande competência e eficiência.
ICE: Considerando que os mais jovens estão discutindo sustentabilidade desde cedo, como você vê a contribuição das novas gerações para a agenda de impacto e o aporte de recursos alinhado a propósito?
Alex Seibel: A contribuição é enorme e variada, mas a principal é direcionar o consumo para aqueles produtos e serviços que respondem não apenas à função imediata da necessidade, mas também à intenção que existe ao consumir aquele produto. A expressão ‘meu consumo é o meu manifesto’ será cada vez mais real e a busca por empresas com ‘alma’ será cada vez mais constante. O problema é que não se pode fingir ter ‘alma’: a intenção da empresa é verdadeira ou não é. O consumidor do século 21 vai perceber isso e escolher quem ele quer apoiar com seu dinheiro.
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