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Entrevista: Mariana Fonseca comenta o 3º Mapa de Negócios de Impacto da Pipe.Social
Em entrevista ao ICE, Mariana Fonseca, responsável pelo 3º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, aponta tendências e desafios como a necessidade de descentralização de recursos e mais oportunidades de aceleração para mulheres.
A análise da diversidade foi um dos principais pontos de partida do 3º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental. Realizado pela Pipe.Social, think tank do setor de impacto, trata-se do primeiro estudo em nível nacional mostrar um panorama dos empreendimentos frente à pandemia.
A pesquisa apontou que 67% dos negócios de impacto têm mulheres como fundadoras. Em relação à raça, nota-se um grande desequilíbrio na análise do principal fundador do negócio, sendo 66% brancos.
A descentralização regional, um dos atuais debates promovidos no setor, também foi objeto do estudo, mostrando que 58% dos negócios estão na região Sudeste (sendo 40% em São Paulo, 1% no Rio de Janeiro, 6% em Minas Gerais e 2% no Espírito Santo), 16% no Nordeste, 15% no Sul e 5% no Norte e no Centro-Oeste.
A edição traz ainda uma versão especial do Mapa de Impacto Ambiental, com dados sobre negócios de impacto que atuam nos setores da agropecuária, florestas e uso do solo, indústria, logística e mobilidade, energia e biocombustíveis, água e saneamento e gestão de resíduos.
Para entender como foi feita a pesquisa e investigar seus principais destaques, oportunidades e desafios, o ICE conversou com Mariana Fonseca, cofundadora e CEO da Pipe.Social e responsável pela coordenação do estudo.
Confira a entrevista.
ICE: O novo Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental é o primeiro estudo em nível nacional a revelar os impactos da pandemia sobre os empreendimentos de impacto. Que desafios saltam aos olhos?
Mariana: Nós tínhamos uma perspectiva preocupante de baixa no número de negócios por conta da Covid-19. Mas entre os respondentes, verificamos o fechamento de 6% da base de negócios, o que é um número triste, mas não muito alto em relação ao que imaginávamos.
Por outro lado, percebemos que 52% dos negócios viram a pandemia como oportunidade. Claro que reduziram custos, tiveram que investir em vendas online, se digitalizar e várias outras adaptações, como qualquer negócio. Mas, identificamos duas vantagens: o fato de serem menores ou startups, com mais facilidade de se posicionar e pivotar do que grandes empresas já estruturadas.
Outra, a existência de negócios voltados aos desafios que a pandemia aprofundou, como geração de renda, acesso à saúde, educação e acesso à digitalização. Obviamente, com a pandemia, esses negócios tiveram oportunidade de mostrar resultados.
ICE: Foi possível verificar avanços? Que tendências podem ser vislumbradas para o futuro do setor?
Mariana: Temos um bloco do Mapa dedicado à série histórica (2017, 2019 e 2021). Um dos pontos de evolução está na maior diversificação do perfil empreendedor. Como no empreendedorismo em geral, tínhamos um perfil muito mais masculino e vimos um crescimento do volume de mulheres à frente de negócios de impacto, que é algo muito positivo.
Outra notícia boa é que começamos a ver um movimento de descentralização dos negócios. Sempre alertamos para a concentração de atividades e recursos – financeiros e outros – no Sudeste. Isso se mantém, até porque a maior parte dos negócios também se concentra nessa região, mas vimos um crescimento do Nordeste, o que é muito positivo, graças às várias ações locais de institutos, fundações, investidores e até governos para que mais negócios comecem a nascer na região.
Outra evolução está na maturidade do perfil dos negócios. Quando começamos o Mapa, vimos muitos ainda em fase de experimentação. Dessa vez, encontramos a maior parte dos negócios já, de fato, em vias de provar sua solução no mercado, precificando melhor. Enfim, soluções mais maduras.
ICE: Uma das novas recomendações da Aliança pelo Impacto foca na importância de ecossistemas locais com diferentes organizações governamentais e da sociedade civil para fomentar e apoiar negócios de impacto. Que tipo de leitura ou informação o Mapa traz para atores interessados em trabalhar nessa direção?
Mariana: Precisamos descentralizar o acesso a recursos, investimentos, apoio, formação, aceleração, enfim, todo tipo de suporte a negócios de impacto para que eles saiam do Sudeste e cheguem em mais regiões do país. Ainda vemos um desafio grande, por exemplo, no Centro-Oeste, de iniciativas e negócios que se reconheçam nesse mapa.
Temos ainda um volume maior nas capitais e seria muito interessante que os negócios possam nascer e permanecer nas suas regiões de origem e não terem que se mover para o Sudeste. Precisamos olhar para essa dicotomia: cidade versus interior. Apenas 36% da base está no interior e a ampla maioria em capitais.
ICE: A quais demandas não atendidas e ajudas pedidas pelo empreendedor as organizações intermediárias, ou dinamizadoras, devem estar atentas no próximo período?
Mariana: A demanda maior continua sendo dinheiro. A maioria dos empreendedores acha que dinheiro vai ser a solução de todos os problemas e sabemos que não. Existem desafios de gestão, de se provar enquanto negócio, que não passam só por investimento.
Os negócios iniciais não demandam grandes somas, isso não mudou. Além disso, eles ainda querem muito ser acelerados, principalmente as mulheres, que têm menor acesso do que os homens a mentoria e suporte. Todo tipo de mentoria é muito bem-vinda por conta da diversidade dos empreendedores e da origem das suas experiências.
Se mantém também a demanda por comunicação. Eles têm muita dificuldade de se posicionar enquanto negócios de impacto por ser um termo novo no mercado. Precisa falar de negócio e de vendas, mas também comunicar o impacto, seu posicionamento. Para furar a bolha, eles precisam falar com públicos que não conhecem esses conceitos.
ICE: Quais são os destaques da versão especial do Mapa de Impacto Ambiental?
Mariana: Ele segue a tendência do Mapa nacional, com todas as verticais de impacto, porém tem um caminho bem mais visível na mídia. Afinal, tem se falado muito em ESG [sigla para Environmental, Social and Governance] e das tecnologias verdes, da potência verde do Brasil. Somos um mercado agropecuário muito forte, que poderia estar inovando, causando impacto positivo na geração de renda local.
A área ambiental aparece como uma tendência e esse cuidado com o verde, com o investimento ambiental que o ESG traz, pode ser uma forma de trazer luz para esse mercado, especialmente porque grandes empresas têm se preocupado com a sua pegada de carbono, com o seu impacto ambiental.
Há muitos negócios de impacto no Brasil, a maioria deles atuando com resíduos, reciclagem, separação de lixo, embalagens. Isso atende à indústria como um todo, então existe oportunidade também de crescimento nesse sentido, tem muita inovação e tecnologia no setor ambiental brasileiro, o que é super positivo.