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Série Impacto & Diversidade: Pessoas negras no ecossistema de negócios de impacto
Na segunda matéria da série, conheça estudos e evidências que ilustram desafios e dicas de quem tem atuado para promover a diversidade racial no setor.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de um universo de pouco mais de 210 milhões de habitantes no Brasil, cerca de 99 milhões de pessoas se declaram pardas e 20 milhões negras.
Apesar de serem mais da metade da população brasileira (56,75%), negros e pardos ainda se veem privados de uma infinidade de direitos e espaços. Dados dos estudo Empreendedorismo Negro no Brasil 2019, realizado pela Pretahub em parceria com JP Morgan e Plano CDE, revelam que a maioria dos empreendedores negros identifica-se como pardo (81%). Dos que empreendem por necessidade, 46% justificam a ação pelo desemprego, acentuado pela dificuldade de acesso ao mercado de trabalho.
Entre os principais desafios apontados por esses empreendedores está o acesso a crédito, realidade que também se confirma entre os empreendedores de impacto negros. Segundo o recém lançado 3º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, da Pipe.Social, pessoas negras representam apenas 34% dos empreendedores de impacto e registram maior dificuldade de acessar investimentos. Entre a base não investida, 20% são de negócios liderados por negros e entre aqueles em fase de escala, apenas 10% têm empreendedores negros na liderança.
“Como é possível pensar em impacto social no Brasil sem pautar a equidade racial de forma transversal? Essa é uma provocação que temos levado a diferentes atores desde 2017, quando iniciamos as nossas operações e identificamos que não havia outros negros nos espaços de empreendedorismo, inovação e impacto. No histórico dos últimos vinte anos de consolidação desse ecossistema, é possível contar sem dificuldade o número de negócios e empreendedores negros”, observa Antonio Pita, cofundador e CEO da Diaspora.Black.
A startup é uma das investidas do Black Founders Fund, fundo de capital de risco do Google for Startups destinado a combater a discriminação racial no ambiente empreendedor. Seu modelo de negócio é semelhante ao da plataforma de hospedagem Airbnb, operando como um marketplace de aluguel de acomodações. A diferença é que o serviço é voltado a pessoas negras.
O Panorama do ecossistema de startups no Brasil – Rumo à diversidade racial aponta barreiras e sugere práticas para o fomento da diversidade racial no ecossistema brasileiro de startups que Antonio reinvidica. A pesquisa é uma iniciativa da BlackRocks em parceria com a Bain & Company e mostra que indicações e critérios de seleção reforçam o perfil prevalente: homem branco, do sudeste do país, de alta renda, formado em universidade de ponta e com especialização no exterior.
O estudo elenca seis ações para aumentar a diversidade racial no ecossistema de startups: 1) Monitorar métricas de diversidade racial em startups do pipeline e do portfólio; 2) Aumentar a diversidade racial na liderança e times dos agentes e em suas redes de contatos; 3) Originar oportunidades por canais não tradicionais; 4) Incentivar maior diversidade racial nos times de startups; 5) Assumir papel ativo na correção da assimetria de informação sobre o ecossistema; 6) Ser aliado de agentes que lutam pela diversidade racial no ecossistema.
Para Antonio, embora haja uma sensibilização crescente, é importante avançar com letramento racial contínuo e ações estratégicas. “É urgente a construção de uma tese de investimentos voltada à promoção da equidade racial, que compreenda os prejuízos econômicos gerados pelo racismo para a sociedade e que possa nortear o setor privado no desenvolvimento de políticas institucionais, além de definir parâmetros e métricas para investimento direto.”
Apoio multifacetado e estruturante
Desafios estruturais, como o racismo, demandam respostas multidisciplinares e estratégicas. Pensando nisso, Luana Génot, fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), ressalta a importância do apoio de outros setores na promoção da diversidade racial no ecossistema empreendedor, seja ele de impacto ou não.
Para a especialista, o investimento social privado e a filantropia, bem como as dinamizadoras do próprio ecossistema de impacto, podem criar programas e fomentos cada vez mais intencionais, destinados a organizações e empreendimentos capitaneados por pessoas negras e/ou que liderem a pauta antirracista.
“Especialmente depois de George Floyd, a tendência tem sido pautar o antirracismo de forma mais intencional. A sociedade tem colocado certa pressão sobre as empresas e mesmo sobre as organizações de impacto e da filantropia no sentido de saber o que elas estão fazendo pela pauta antirracista”, observa.
É muito comum no Brasil que, em momentos de crise, todas as iniciativas e financiamentos se voltem para ações emergenciais, interrompendo ciclos de atuação mais estratégica, de longo prazo, como o combate ao racismo.
Para Antonio, no entanto, a necessidade de ações assistenciais urgentes evidenciada pela pandemia não deve ofuscar a importância da continuidade das ações estruturais.
“Com a crescente mobilização e conscientização sobre o tema no país, as oportunidades são abundantes e devem emergir de atuações locais nas comunidades. Será importante para as organizações intermediárias se aproximar desses territórios, apoiar formações e financiar movimentos e organismos locais de fomento ao empreendedorismo, desenvolvimento de softwares e inovação para formar uma nova geração e apoiar potenciais negócios desde a sua ideação”, observa.
Por outro lado, continua, “os investidores devem estar atentos à consolidação do mercado de produtos e serviços segmentados e às demandas específicas da população negra. Se fizerem isso, terão grandes oportunidades de investir nas empresas nativas desses segmentos, que já têm métricas e impactos consolidados, além de alto potencial de escala.
Tendências
Entre as tendências e projeções apontadas para o tema em 2021, Antonio destaca o letramento racial cada vez mais entendido pelas empresas e organizações como essencial para o desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira. O conceito propõe educação, reflexão e posicionamento antirracista a partir do reconhecimento de que direitos e lugares hierarquicamente diferentes para brancos e não-brancos foram estabelecidos de forma arbitrária.
“Alguns estudos já mostram que houve mais holofote e investimentos no combate ao racismo desde o episódio com George Floyd do que na última década. E isso é uma virada de chave. Só que a ideia é que a gente não precise ter mais pessoas negras morrendo na frente das câmeras para que essa pauta possa andar mais rápido, seja dentro do mundo corporativo e do ecossistema de impacto, ou fora deles.”, observa Luana Génot ao destacar os investimentos na pauta antirracista como uma tendência.
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