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Entrevista com Anna Aranha | Empresas como dinamizadoras do ecossistema de impacto
Ao ICE, a diretora do Quintessa falou sobre os desafios e as oportunidades para a aproximação entre o setor corporativo e os empreendimentos de impacto socioambiental.
Cada vez mais, as empresas têm sido desafiadas pela crescente demanda da sociedade por negócios mais responsáveis, sustentáveis e regenerativos.
As novas gerações de investidores sinalizam que o sucesso dos negócios nas próximas décadas vai depender de sua capacidade de contribuir com a melhoria da vida em territórios diversos. Por isso, eles também têm demandado de gestores financeiros e negócios uma nova postura frente aos desafios socioambientais.
O alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ou a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) se tornou uma questão de sobrevivência e tem desafiado o mundo corporativo a mitigar seus impactos negativos e a fortalecer territórios e comunidades de seu entorno por meio de seus produtos, serviços e gestão.
Nesse contexto, a agenda de inovação ganha relevância entre as estratégias empresariais que podem garantir competitividade e sucesso no longo prazo. E o investimento em negócios de impacto ou a inclusão de soluções de impacto em suas cadeias de valor são caminhos e oportunidades nessa direção.
A recomendação 5 da Aliança pelo Impacto sugere que as empresas criem programas e redes para atuação conjunta no fomento à inovação e ao impacto em torno de problemas socioambientais estruturantes do país.
Em entrevista ao ICE, Anna Aranha, diretora do Quintessa, falou sobre os desafios e oportunidades para uma maior conexão dos dois setores e apontou cases que podem inspirar outras corporações.
Confira a entrevista a seguir.
ICE: Como você percebe a relação de negócios de impacto com empresas de médio e grande porte como clientes? Há ‘portas de entrada’ nas empresas que facilitam a aproximação com negócios de impacto? Se não, o que dificulta?
Anna: Há inúmeras oportunidades que podem ser geradas a partir da relação dos negócios de impacto com as empresas de médio e grande porte. Essa relação pode acontecer sob distintos formatos, como uma relação de cliente-fornecedor, co-desenvolvimento de soluções, troca de expertises e até mesmo de investimento.
Diversos negócios de impacto têm seu modelo de negócio B2B – ou seja, têm na venda para as empresas seu foco principal. Eles podem trazer assertividade, eficácia e eficiência para a solução de desafios das empresas, como a entrada em novos segmentos de mercado, desenvolvimento de novos produtos e serviços, melhoria da relação com clientes e parceiros, etc. No quesito sustentabilidade, podem oferecer soluções para eficiência energética, eficiência hídrica, promoção de diversidade, etc. Em responsabilidade social, podem atuar em causas, trazendo soluções para promover o desenvolvimento de territórios, por exemplo. A porta de entrada pode variar de acordo com esses objetivos distintos, bem como pode ser via recursos humanos, inovação aberta ou mesmo marketing.
O que dificulta a entrada, independente da ‘porta’, é lidar com uma cultura organizacional pouco aberta para trabalhar com inovação ou com uma visão de negócios curto prazista ou que ainda não consegue enxergar como a geração de impacto positivo pode ser vista estrategicamente como uma lente e fonte para novos negócios.
ICE: Do ponto de vista das empresas, quais são as vantagens ou diferenciais de ter na sua cadeia de valor os negócios de impacto socioambiental?
Anna: A vantagem está no fato de que se a empresa depender apenas do desenvolvimento de soluções internamente, ela poderá tardar demais em promover as melhorias que deveria. Os negócios de impacto somam à expertise que a empresa possui internamente. Ainda mais quando consideramos negócios em estágio mais avançado, de tração e escala. Estamos falando de empreendedores e equipes que há anos estudam o desafio, elaboram e refinam suas soluções, lidam com o público fim, têm experiência no assunto. Trabalhar com esses negócios é uma forma de a empresa encurtar sua curva de aprendizado.
ICE: E quanto ao papel das empresas no fomento ao ecossistema de negócios de impacto? O que podem fazer além de integrar negócios às suas cadeias?
Anna: As empresas podem atuar como clientes ou como investidoras, mas podem também fazer parte do ecossistema atuando para desenvolvê-lo. Quanto mais maduros os negócios estiverem, menor será o risco em trabalhar com eles. Mas em um mercado em que 70% dos negócios ainda estão faturando menos de 100 mil reais por ano, o que fazer? Em vez de simplesmente esperar, muitas estão criando seus programas de aceleração, onde contribuem ativamente para o desenvolvimento dos negócios e ainda criam um rico espaço para relacionamento entre empreendedores e colaboradores.
Além de contribuir para o desenvolvimento do ecossistema, é uma forma de estruturar, qualificar e pavimentar o pipeline de startups que depois poderão se relacionar com diferentes áreas da empresa. Mais do que apenas mitigar risco, a empresa constrói o caminho para garantir que tenha parceiros de negócio saudáveis e capazes de crescer e ganhar escala junto com ela, além de ser uma boa opção para se relacionar com inovações únicas no mercado, sendo o primeiro ator a acompanhar seus passos.
Por último, as empresas podem fomentar o ecossistema valorizando, contratando e remunerando o trabalho dos dinamizadores, aceleradoras, incubadoras, centros de pesquisa, etc. que há anos desenvolvem o setor de impacto.
ICE: Qual é o papel de outros dinamizadores do ecossistema de negócios de impacto na conexão entre empresas e empreendimentos de impacto socioambiental?
Anna: Os dinamizadores têm um papel essencial para ajudar essa relação. Falando pela nossa experiência no Quintessa, começamos a apoiar essa relação depois de dez anos de desenvolvimento de metodologias próprias de aceleração dos negócios, de preparação para investimento, de mediação do estabelecimento de novas parcerias. Isso qualifica o processo e reduz o risco para as empresas, além de melhor preparar os empreendedores para estarem nessa relação.
Além disso, ao trabalharmos com diferentes empresas, compartilhamos os aprendizados dos programas, fazendo com que a curva de aprendizado do ecossistema como um todo acelere. Por fim, possuímos uma rede de mais de quatro mil startups e anos de realização de processos de seleção, o que amplia o repertório e garante assertividade na escolha dos parceiros para a empresa.
ICE: Quais cases você destacaria que podem inspirar empresas na direção de uma maior conexão com o ecossistema de negócios de impacto?
Anna: Há diversos e inspiradores. Compartilho três que exemplificam relações distintas. O programa de aceleração do Braskem Labs mostra uma sinérgica integração das pautas de sustentabilidade e novos negócios, atuando com negócios na cadeia do plástico e da química. O CPFL na Comunidade trouxe as soluções dos negócios de impacto para promover eficiência energética e melhorar a relação da companhia com seus clientes de baixa renda por meio da geração de valor para eles (como educação financeira e geração de renda). A aceleradora 100+ da Ambev capacita e realiza pilotos das soluções das startups para impulsionar o alcance de suas metas de sustentabilidade.