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Série Impacto & Diversidade: Ecossistemas locais de impacto e a representatividade dos Brasis
Com conexão direta com a recomendação 2 da Aliança pelo Impacto, debate durante o Impacta Mais 2021 explorou a relação do tema com outras agendas, bem como a importância de expandir o próprio conceito de diversidade.
Uma das nove recomendações da Aliança pelo Impacto versa sobre a importância de fortalecer os ecossistemas locais de impacto e potencializar a interrelação entre os atores com interesses comuns em um mesmo território. O tema foi assunto da mesa “Ecossistemas locais de impacto: como ampliar esta agenda num país tão diverso?”, que integrou a programação do Fórum de Investimentos e Negócios de Impacto – Impacta Mais 2021, realizado online entre 8 e 10 de junho.
Mais do que reforçar a necessidade de que atores de um mesmo território dialoguem entre si, os integrantes da mesa debateram a importância do ecossistema de investimentos e negócios de impacto descentralizar estruturas e capital, que hoje estão concentradas na região Sudeste.
Educação e pesquisa
Paulo Henrique Oliveira, empreendedor, professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Inovação da Universidade Salvador, comentou que, já que é utilizado o conceito ecossistema – que vem da biologia – cada ator dentro desse cenário de inovação voltada ao impacto deve se reconhecer como parte de um objetivo comum, que é a sobrevivência.
“Todo ecossistema precisa cuidar dos seus talentos e do seu capital humano para gerar uma cultura empreendedora, que deve ser abraçada por um ambiente regulatório bom. É necessário que esse ecossistema ajude as pessoas a gerar e acessar capital, o que passa por infraestrutura, relação entre mercados e a própria densidade da inovação social que compõe o setor”, exemplifica.
Para reconhecer todos os pontos citados, Paulo reforça a importância da realização, por exemplo, de pesquisas que considerem e retratem de forma real as potências de diversos territórios, como o Nordeste, que, em muitos casos, é subrepresentado nas pesquisas e estudos de caráter nacional. Isso ajudaria os ecossistemas locais a compreenderem melhor seu surgimento, suas potências e limitações, tendências e especificidades de trajetória. A ideia é diversificar a abordagem, ainda muito focada no eixo Sul-Sudeste. E aos poucos, dissolver a concentração das pessoas que dinamizam o ecossistema, grupo historicamente formado por homens, brancos, jovens, heterossexuais e de classe alta.
O empreendedor também trouxe provocações voltadas ao aspecto educacional desse setor, que envolve a necessidade de formação adequada de professores e profissionais que irão instruir novos empreendedores, bem como a possibilidade de uma integração com o Ministério da Educação (MEC) para a promoção de uma educação empreendedora desde cedo, ainda na educação básica.
“No processo de educação empreendedora e de impacto, muitas vezes, deixa-se para trabalhar alguns aspectos quando o empreendedor chega no ambiente universitário ou em uma incubadora ou aceleradora. Mas existem pontos que podemos introduzir na educação básica para que a pessoa chegue ao ambiente universitário já com um background importante para ajudá-la no processo de empreender”, pontua.
Expansão além do óbvio
Outro ponto abordado pelos participantes da mesa foi a importância de expandir o olhar sobre o próprio conceito de diversidade. Além de envolver questões raciais e de gênero, entre outras, a diversidade também diz respeito ao processo de interiorização, que deve levar em conta a enorme diversidade de um país como o Brasil.
“Existem camadas de diversidade nos temas trabalhados pelo ecossistema de impacto. Esse é um problema não só do Brasil, mas de vários outros países, pois as construções históricas nos levam a, sem querer, segmentar os ecossistemas. Entretanto, se o Brasil quer ser potência em bioeconomia, com um investimento de impacto que conserva florestas, não dá para fazer isso sem incluir os aspectos rural e florestal”, explica Carina Pimenta, diretora executiva da Conexsus,.
Esse processo conta com alguns desafios a serem superados, como o fato de alguns atores relevantes ainda não serem vistos como parte integrante do ecossistema de impacto, a exemplo de associações cooperativistas, e a dificuldade de articulação de um ecossistema onde municípios da Amazônia, por exemplo, são, em muitos casos, maiores que um estado inteiro.
“A nossa noção de territorialidade na construção do que é um ecossistema local e suas interfaces muda muito. Precisamos ter intencionalidade. Um caminho poderia ser a realização de alianças não usuais, exatamente porque o desenvolvimento do ecossistema deve considerar a diversidade dos atores locais, suas vocações e capacidades instaladas. Não estamos falando só do poder público, mas também de empresas, empreendedores e outras camadas, a depender das características de cada território.” observa.
O que acontece na prática
A mesa também se dedicou a explorar o caso do Rio de Janeiro, o segundo entre cinco estados brasileiros a contar com uma política de impacto aprovada por lei (Política Estadual de Investimentos e Negócios de Impacto Social – Lei nº 8.571/2019).
Ruth Espinola, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), apresentou a experiência da Rio de Impacto, uma rede de apoio aos negócios de impacto (NIS) do estado fluminense. Criada em 2016, a iniciativa reúne 16 organizações que facilitam e fomentam políticas de apoio aos NIS e conectam e apoiam a aproximação entre os protagonistas do ecossistema de impacto.
“Assim como outros ecossistemas do Brasil, nós do ecossistema de inovação, especificamente a inovação para impacto socioambiental positivo, já temos os ‘bichos conhecidos’, e que bom que temos esses atores. Precisamos continuar fortalecendo eles. Mas a partir dessa provocação da Carina Pimenta, de trazer o não usual, já tive uma ideia que é nos aproximar de organizações confessionais, como as igrejas, por exemplo”, comentou Ruth.
Para além das já conhecidas incubadoras universitárias, aceleradoras, consultorias de impacto e outros atores, é necessário chamar outras figuras para atuar no campo, como é o caso dos investidores tradicionais, empresas de todos os portes e articulação com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e outras instituições que compõem o chamado Sistema S.
Ruth defendeu ainda que, mesmo considerando a diversidade das organizações que compõem a Rio de Impacto – que, por sua vez, facilitam a conexão com públicos como mulheres negras da Baixada Fluminense, por exemplo -, ainda existem desafios a serem endereçados, como a interiorização.
“Não existe receita de bolo. Quando chegamos em um local, a primeira coisa a fazer é conhecê-lo e conhecer as pessoas, seus mecanismos, vocações, instrumentos e, a partir disso, pensar no trabalho. A agenda de negócios de impacto não é uma agenda que toca as pessoas, por isso precisamos fazer uma tradução de acordo com o local onde temos essa conversa. Por exemplo, na Amazônia falamos sobre como conservar áreas a partir da economia e de negócios gerados localmente, como resolver problemas reais de logística na região. Acredito que, conectando dessa forma, fica muito mais prático”, dividiu Carina, reforçando o grande potencial para conversas mais profundas entre meio rural e urbano brasileiro.
Ruth, por sua vez, defendeu economias alternativas em consonância com o ecossistema de impacto, como a circular e regenerativa, essa última bem-vinda por ir além de recuperar e regenerar no aspecto ambiental, mas também no aspecto étnico-racial, histórico e cultural no Brasil.
Fique por dentro
Essa reportagem faz parte da Série Impacto & Diversidade. Confira outros textos que integram a série:
– Série Impacto & Diversidade: Pessoas negras no ecossistema de negócios de impacto