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Entrevista Karin Baumgart Srougi | Inovação e impacto conectados
Associada do ICE, Karin Baumgart Srougi, contou sobre os rumos da empresa Vedacit na estratégia de aproximação com negócios de impacto social.
“Uma certeza que tenho é de que não dá mais para termos estruturas feudalizadas nas organizações, separando a inovação da sustentabilidade e do investimento social. Todas as três áreas precisam caminhar juntas, não dissociadas dos negócios.”
Essa é a avaliação de Karin Baumgart Srougi, coordenadora do Comitê de Sustentabilidade do Grupo Baumgart e integrante da família que deu origem à empresa Vedacit, ao refletir o potencial das empresas como dinamizadoras do ecossistema de impacto.
Em entrevista ao ICE, Karin compartilhou a experiência da Vedacit em sua trajetória de inovação com a criação da Trutec. A empresa é fruto da Vedacit Soluções Tecnológicas (VST), que incorporou a Construcode, uma das cinco startups selecionadas para o primeiro ciclo do Vedacit Labs, programa de inovação da companhia.
Confira a seguir.
ICE: Um ano atrás, os investimentos da Vedacit Soluções Tecnológicas (VST) somavam R$ 5 milhões. Atuando com foco na aproximação com a agenda de negócios de impacto – acelerando e investindo, por meio do Vedacit Labs, em startups como a Construcode -, como a VST tem contribuído com o compromisso da empresa com a inovação e a sustentabilidade? Quais foram os resultados e avanços da VST no último ano, tanto em termos financeiros, como em valor agregado?
Karin: Em um ano, muita coisa mudou. Aliás, o universo das startups é altamente conectado, veloz e dinâmico e não poderia ser diferente conosco. A VST, que antes era um conceito de empresa que gostaríamos de criar, acabou se tornando a Trutec, empresa de soluções tecnológicas cuja tese é trabalhar no ciclo de vida de uma edificação e torná-la saudável e sustentável, bem como na digitalização da indústria de materiais e do varejo da construção civil.
Nossa intencionalidade com startups nunca foi a conexão direta com a agenda de negócios de impacto, isso é importante deixar claro. Mas vimos na agenda da sustentabilidade e da jornada de digitalização da cadeia desse setor grandes oportunidades para a geração de negócios e, por consequência, de impacto.
A Construcode, por exemplo, startup que adquirimos no ano passado e que, em junho, passou para o nosso controle, não nasceu sob o olhar do impacto, mas sim para resolver dores dos canteiros de obras com a eliminação da impressão de plantas e aumentar o nível de eficiência na gestão dos projetos construtivos. Com a digitalização de 150 mil projetos pela plataforma, foi possível que 314 árvores deixassem de ser cortadas e 24 milhões de litros de água economizados em construções pelo Brasil.
Iniciamos, de fato, as operações da Trutec no início deste ano, pois 2020 foi um período de estruturação da nova empresa e da nova marca. Por isso, ainda é muito cedo para falarmos em resultados para o negócio em si.
ICE: Está previsto um novo ciclo de aceleração e incubação de startups?
Karin: Em junho, iniciamos o nosso 3º ciclo de aceleração e temos previsto um outro a partir de setembro deste ano. Ao todo, devemos acelerar dez startups este ano, todas elas em estágio de crescimento. Além disso, a Trutec está realizando uma parceria comercial direta com startups já em estágios mais avançados de maturidade, visando oferecer um maior leque de soluções tecnológicas para o setor da construção, de preferência de maneira integrada.
ICE: Como sua trajetória na empresa e no Instituto Vedacit se conecta com sua experiência como investidora de impacto? Tem algum setor prioritário e/ou fase de negócio que gosta de investir?
Karin: Acredito que a minha experiência como executiva nas empresas do Grupo Baumgart e nos órgãos de governança contribuíram muito para o meu olhar sobre a estratégia, a cultura e a liderança, tripé fundamental para o êxito de qualquer negócio. A experiência com o Instituto Vedacit veio a complementar a minha atuação social a partir da minha participação em inúmeras organizações sociais, dentre elas o próprio ICE, que fortaleceu o meu olhar para um investimento social privado mais estratégico, com avaliação e mensuração de resultados de impacto e de alinhamento com os negócios.
A causa da habitação é, sem dúvida, uma das que mais olho, em função do próprio propósito da Vedacit, transformar a vida de milhões de pessoas, melhorando as condições de habitação, fazendo da sua casa a nossa causa. Essa missão nasceu lá atrás, com meus avós Otto e Marianne Baumgart e hoje ganhou formas e contornos contemporâneos.
Porém, não é a única. Para mim, o mais importante é poder investir em negócios com alto potencial transformador da sociedade, com empreendedores apaixonados por resolver os nossos problemas sociais, mas não enrijecidos e cegos por essa paixão, e sim que escutam bons conselhos e colocam em prática mudanças de rota necessárias nas suas startups, pois procuro ir além do investimento financeiro somente e colocar o chamado Smart Money. Geralmente, procuro investir em negócios que já passaram pela fase do Power Point e estão buscando a etapa de escala.
ICE: O Instituto Vedacit também atua como investidor social, doando para ONGs estruturantes do campo. Como essa atuação inspirou sua filantropia?
Karin: As organizações sociais são de fundamental importância para a nossa sociedade, pois são elas que estão na ponta, junto às comunidades, exercendo uma escuta ativa sobre os problemas enfrentados pelos mais vulneráveis, chegando onde, muitas vezes, os negócios sociais não conseguem, tampouco o Estado. Isso, por si só, tem de ser uma diretriz para qualquer atuação filantrópica.
Essas organizações têm um papel de fundamental importância para não só estruturar, mas fomentar a criação de um ecossistema e, até mesmo, exercer a atividade de fiscalização das diferentes instituições no campo. Por isso, elas têm uma missão muitas vezes difícil de geração de recursos por conta própria e bem diferente dos negócios de impacto socioambiental. É aí que entra o meu papel e do nosso Instituto em estarmos atentos a esse movimento na sociedade e investir para que essas organizações cumpram com sua missão de estruturação do campo.
ICE: Que oportunidades, aprendizados e reflexões resultaram da relação com o ICE para aprimorar suas experiências com impacto e/ou social e filantropia?
Karin: Sem dúvida, o ICE tem um papel importante para a minha trajetória pessoal e empresarial. Primeiro por me abrir um campo de visão incrível com o ecossistema dos negócios de impacto e não mais uma atuação restrita a organizações sociais. Segundo por também me provocar a refletir sobre o papel de um instituto empresarial ser diferente de uma organização familiar, pois na criação do Instituto Vedacit, uma das premissas importantes que estabelecemos foi de que ele pudesse assumir um papel de Think Thank para a empresa, ajudando-a a conectar seu propósito ao negócio.
ICE: Sabemos que em suas jornadas, os empreendedores precisam de compradores e não só de investimentos. A Vedacit tem atuado na direção de incluir em sua cadeia negócios de impacto como fornecedores? Se sim, como tem se dado essa experiência?
Karin: Ainda não temos atuado firmemente em nossa cadeia de fornecimento por meio dos negócios de impacto, apesar de termos algumas experiências pontuais, como com a Triciclo, pois nossa jornada de inovação sustentável iniciou criando um novo modelo de negócios para a empresa e gerando com isso a criação da Trutec.
Hoje, em função do compromisso que estabelecemos de certificar a Vedacit como Empresa B até 2022 e da nossa busca pela certificação Together For Sustainability, não há escolha, é uma condição dada para que voltemos o nosso olhar para trabalhar mais efetivamente contratando negócios de impacto.Para isso, organizamos a cadeia de inovação e sustentabilidade e buscamos uma nova profissional para fazer parte do time da área de Inovação & Sustentabilidade, cujo foco será trazer mais startups para atuarmos mais fortemente em busca de melhorias operacionais em nossos níveis de serviço e aumento de impacto socioambiental das operações.
Já no Instituto Vedacit, é uma premissa, sempre que possível, contratarmos negócios de impacto. Entre eles, podemos citar alguns, como a Pano Social, com a compra de camisetas para os alunos que participam do Coletivo Jovem; e Doce Lar, Moradigna e Habittar, que contratamos para a realização de reformas das casas dos colaboradores em nosso programa Ano Novo Casa Nova.
ICE: Como você avalia o papel das empresas como dinamizadoras de impacto, seja por meio de parcerias e doações para dinamizadores, comprando de negócios de impacto ou investindo nesses empreendimentos? Teria conselhos ou dicas para as empresas interessadas em se aproximar do ecossistema? Como vocês se veem inspirando o setor em que atuam?
Karin: A forma de interação entre as empresas e o ecossistema de impacto varia muito, pois depende do setor onde estão estabelecidas, das estratégias de negócio no presente e no futuro. Uma certeza que tenho é de que não dá mais para termos estruturas feudalizadas nas organizações, separando a inovação da sustentabilidade e o investimento social. Essas três áreas precisam caminhar juntas e não dissociadas dos negócios.
O meu conselho para as empresas é, antes de tudo, praticar uma escuta ativa e empática com os atores do ecossistema, sejam eles intermediários, dinamizadores, empreendedores, universidades, entre outros, e, a partir daí, traçar ações de investimento smart money e não apenas recursos financeiros, empreendendo esforços de apoio não somente nas organizações fim, mas também em quem ajuda a estruturar todo o ambiente para que seja propício a gerar mais e novas soluções.
Uma das iniciativas que tenho orgulho em compartilhar é a nossa Política de Preço Social, que iniciou em 2016 de forma não estruturada, oferecendo desconto nos produtos da Vedacit para o Vivenda, posteriormente para o Moradigna e para a Habitat para a Humanidade. Hoje, estruturamos e oficializamos essa política e estamos trabalhando para oferecer a cerca de 100 negócios de impacto e organizações sociais que atuam com reformas de moradias para a baixa renda.
Isso nos mostrou que, muitas vezes, negócios e organizações não necessariamente necessitam apenas de recursos financeiros, mas de acesso aos produtos e serviços das empresas de maneira diferenciada, seja para dar tração ao modelo de negócio e escala ou para viabilizar o acesso às populações mais vulneráveis. Essa política vem atraindo a atenção de muitas empresas do setor da construção civil que têm nos procurado para conhecê-la e pensar em estruturar algo nesse sentido.
ICE: Na sua opinião, o que os investimentos e negócios de impacto podem fazer pelo futuro do país no que se refere à recuperação econômica e às transformações sociais e ambientais de que necessitamos?
Karin: Não acredito que será rápida a retomada econômica e de crescimento de muitas empresas em determinados setores. Por isso, os negócios de impacto serão fundamentais para a empregabilidade e reinserção no mercado de trabalho, especialmente das minorias. Quanto às transformações sociais e ambientais, a agenda global já está aí e temos inúmeros desafios para enfrentar no país. Por que não escalar para o mundo muitas das nossas soluções? Temos que aproveitar a nova onda da sustentabilidade, chamada de ESG, e mostrar para as empresas, cada vez, mais que os negócios socioambientais podem contribuir muito com essa agenda nas empresas, assim como alavancar capital junto a investidores mais preocupados com o impacto e legado que deixarão para as futuras gerações e para o planeta.