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Entrevista com Filipe Borsato | “O propósito do BNDES é de impacto”
Responsável pela área de Mercados de Capitais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enfatiza que a instituição financeira atua pelo impacto positivo há décadas.
Fundado há quase 70 anos, o BNDES é uma das maiores instituições financeiras voltadas ao desenvolvimento do mundo. É o principal instrumento do Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia brasileira.
Desde 2015, quando começou a incluir critérios de impacto em suas chamadas de apoio a fundos, o BNDES tem gerado grande movimentação no setor financeiro, o que fez com que os fundos tradicionais começassem a estudar o tema, buscar parcerias, entre outras ações importantes para o setor de impacto no Brasil.
“O nosso papel é trazer soluções que auxiliem a vida dos brasileiros”, explica Filipe Borsato, responsável pela área de Mercados de Capitais do BNDES. Em entrevista ao ICE, o especialista fala sobre a atuação governamental e da empresa pública como dinamizador do ecossistema de investimentos e negócios de impacto.
O banco possui projetos voltados especificamente a esse campo, a exemplo da edição do BNDES Garagem com foco em negócios de impacto, que está acelerando 45 startups: 25 em fase de tração, que são empresas que já começam a faturar e têm um produto mínimo viável (MVP), e outras 20 no estágio de criação.
Em 2021, o banco apostou em uma chamada pública para selecionar três fundos de investimento de impacto socioambiental, que devem catalisar ao menos R$ 800 milhões para negócios em setores como gestão de resíduos, moradia, acessibilidade digital, meio ambiente, transporte, recursos hídricos, saneamento básico e educação.
Confira a entrevista.
ICE: Como o governo pode atuar como dinamizador do ecossistema de investimentos e negócios de impacto? É possível fazer esse papel por meio de políticas públicas existentes, em vez de novos projetos específicos?
Filipe: Existem múltiplas formas de se trabalhar impacto e isso serve para todos os poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Se você pensar que impacto está relacionado com intencionalidade, mensuração e transparência, verá que temos um propósito declarado e trabalhamos pela mudança e por resultados. O nosso propósito é transformar positivamente a vida de gerações de brasileiros através do desenvolvimento sustentável.
E o BNDES pode ajudar de múltiplas formas. Temos atuado muito com matchfunding e filantropia, seja individual ou cooperativa. Durante a pandemia, por exemplo, realizamos o projeto Salvando Vidas, com a doação de equipamentos para hospitais, como respiradores e oxigênio.
Também temos trabalhado com um tipo de empréstimo com benefícios na taxa de juros, caso a empresa alcance metas pré determinadas, como aquelas ligadas à redução de CO2.
Outro exemplo é buscar o fortalecimento de determinadas classes de ativos, entre elas, os fundos de impacto, que são fundos que investem em negócios de impacto.
Além disso, o banco tem colocado basicamente em todos os seus investimentos critérios de efetividade e de impacto socioambiental. Seja um fundo de impacto ou um fundo tradicional, ele terá métricas de efetividade. Vamos querer ver se essas empresas estão inovando de fato, se passaram a ter uma política socioambiental e uma série de outros resultados.
ICE: Como essas experiências do BNDES podem influenciar outros bancos e agências de desenvolvimento a atuarem com impacto?
Filipe: A geração de impacto começa quando passamos a exigir que as empresas investidas declarem sua intencionalidade e apresentem resultados a partir dela. Em 2015, por exemplo, começamos a colocar como critério dos fundos de investimento e chamadas públicas que os gestores declarassem métricas de impacto com retorno satisfatório e mantemos isso desde então.
Atualmente, temos investido objetivamente em fundos de impacto. Em 2021 fizemos uma chamada pública e recebemos 14 propostas de fundos interessados. Através dos nossos editais, acreditamos estar deixando mais claro ao mercado o que se espera de um fundo de impacto. E em nossos critérios isso vem especificado, apontando para a mensuração, inclusive que não tenha apenas um negócio ambiental positivo, mas que a gestão apresente diversidade de gênero e raça. É um modo de indução do mercado, mostrar o que se espera dele.
ICE: A partir de iniciativas como esta chamada pública à qual você se referiu e o BNDES Garagem, é possível compartilhar desafios, oportunidades, aprendizados e perspectivas para o futuro da agenda de impacto no setor público?
Filipe: No BNDES, nós atuamos a partir de alguns eixos estratégicos. O primeiro é a ampliação da oferta de capital para negócios de impacto e, nisso, estamos falando de fortalecimento dos fundos, da classe de ativos e do banco como co-investidor.
No segundo, temos o aumento da quantidade de negócios de impacto, onde entra o BNDES Garagem. O nosso desafio é aumentar o número de negócios de impacto e a qualidade deles por meio do programa de aceleração. O BNDES paga o programa de aceleração, gratuito para as empresas, e não tem nenhuma contrapartida.
Por fim, temos o fortalecimento da geração de dados. Nossa opção de tornar públicos os estudos depois da realização do programa Garagem BNDES, a adoção pelos fundos de investimentos de uma metodologia de mensuração. A existência de mais dados no mercado sobre essas iniciativas é também uma preocupação nossa.