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Jornada do empreendedor de impacto tem desafios e oportunidades para todo o ecossistema
“Costumamos dizer que o empreendedor de impacto está correndo com uma bola de ferro amarrada no pé”. A metáfora usada por Luciano Gurgel, diretor-executivo da Artemisia, para diferenciar a jornada do empreendedor de impacto de outros perfis no mundo do empreendedorismo foi uma das falas da abertura da última edição da Sexta de Impacto, realizada pelo ICE em agosto.
Além de precisar formar uma equipe, cuidar das áreas financeira, comercial, contábil, recursos humanos, entre outras, e enfrentar todos os desafios comuns a qualquer empreendedor, aqueles que atuam com impacto se veem às voltas com particularidades desse ecossistema: desenhar teorias de mudança, fazer a medição de inputs, outputs e outcomes, gerenciar um acompanhamento minucioso e comunicar impactos positivos. É daí que vem a metáfora da bola de ferro amarrada ao pé.
Junto com Luciano, duas convidadas participaram da conversa: Ana Carolina Szklo (gerente de Sustentabilidade do Instituto humanize) e Flávia Fiorin (gestora de Operações e Empreendedorismo do Parque Científico e Tecnológico da PUC do Rio Grande do Sul – Tecnopuc). Vivian Rubia, coordenadora de programas do ICE, foi a anfitriã do encontro que tratou ainda dos diferentes papéis que atores desse campo têm no fomento à inovação e impacto.
A importância de tratar o setor como um ecossistema
“Sempre pensamos nesse empreendedor como alguém que, de certa forma, leva uma desvantagem em comparação com empreendedores de negócios convencionais. No entanto, de um tempo para cá, o campo vem amadurecendo”, ressaltou Luciano.
Segundo ele, vários atores passaram a formar uma rede de apoio aos empreendedores. Processo de amadurecimento que, inclusive, ele credita em parte ao trabalho do ICE. Ou seja, se por um lado considera-se que a dimensão impacto social e ambiental é uma responsabilidade a mais, por outro, empreendedores encontram hoje incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos, fundos de investimento e outros atores que estão trabalhando pelo mesmo resultado.
Flávia Fiorin, gestora de Operações e Empreendedorismo do Parque Científico e Tecnológico da PUC do Rio Grande do Sul, o Tecnopuc, faz um paralelo com a natureza para falar sobre a importância de conexões e relações de interdependência: uma sequoia, por exemplo, faz a sombra da qual as gramíneas precisam para existir.
“Por que não fazer essa comparativa de grandes organizações interagindo com as pequenas e com a sociedade dentro de uma intencionalidade e objetivos comuns pré-identificados? Esse é o papel que entendemos de um ecossistema estruturado, que potencializa os efeitos e os benefícios de um ecossistema que se já conhece e tem muito bem mapeado o entendimento dos desafios e pontos comuns.”, explica Flávia.
Para chegar nesse nível de alinhamento, conexão e interação, entretanto, Flávia comenta que o primeiro passo é entender como cada um dos atores que compõem o campo de impacto pode alocar recursos ou conhecimento.
O Tecnopuc, por exemplo, está voltado à formação de talentos e apoio ao desenvolvimento de negócios de forma integrada com a universidade e o entorno a partir de uma atuação pautada em quatro pilares: pessoas, criatividade, inovação e impacto. Além disso, o parque tecnológico também atua conectando o que Flávia chama de quadrupla hélice: setor corporativo (empresas), universidade, governo e sociedade – todos em prol do desenvolvimento e transformação do conhecimento em resultados efetivos.
“Uma atuação integrada, com intencionalidade e conhecimento prévio, nos dá potência, agilidade e força para alcançar muito mais, conectando o que é desafio comum e o que é de cada uma das organizações e, a medida que me movo, qual é o potencial que tenho de apoio, para que, dentro de uma lógica de abundância, fazer com que todos os integrantes daquele ecossistema avancem em conjunto. Assim, certamente temos um potencial e ganho muito maiores”, apontou Flávia.
Vale lembrar que conectar diferentes atores em prol de ecossistemas locais de impacto fortalecidos e um campo em nível nacional desenvolvido é um dos objetivos da Coalizão pelo Impacto, iniciativa do ICE, Instituto Helda Gerdau, Instituto humanize e Somos Um, com parceria estratégica da Cosan, Fundação Educar Dpaschoal, Fundação Grupo Boticário, Instituto Sabin e RaiaDrogasil.
Por que investir em impacto?
Com a perspectiva de uma organização filantrópica que atua pelo desenvolvimento sustentável, Carolina Szklo (Instituto humanize) trouxe pontos que explicam porque em sua estratégia apoiam empreendedorismo e negócios de impacto socioambiental. Argumentos válidos para o investimento social privado e também para outros tipos de capital sensíveis a questões urgentes como, por exemplo, as mudanças climáticas.
“Trabalhar com negócios de impactos socioambiental contribui, em primeiro lugar, para um desenvolvimento mais inclusivo do empreendedorismo, para valorização dos saberes locais e para a economia de uma floresta em pé”, o que, segundo ela, são elementos fundamentais para encontrar um caminho que permita chegar em um desenvolvimento cada vez mais sustentável.
O olhar sistêmico, de acordo com ela, faz o humanize se preocupar em entender os desafios ao longo da jornada empreendedora e a também olhar para “como os diferentes tipos de capital, o filantrópico, o recurso financeiro do setor privado e de instituições multilaterais podem resultar numa jornada que seja segura para os empreendedores.”
Para Luciano da Artemisia, é necessário que impacto passe a figurar nas contas feitas por investidores. Se antes as empresas usavam apenas a promessa de retorno para atrair investidores, o risco foi outro componente que entrou na equação com o passar do tempo, quando investidores entenderam que retorno e risco eram elementos indissociáveis. Ele acredita que levará alguns anos para agentes econômicos de forma geral entendam que a conta ‘lucro privado e impacto negativo público’ não se paga.
“Para apoiar negócios de impacto e negócios sociais, é preciso colocar o impacto positivo para dentro da equação. Quando fizer isso como investidor, vai perceber que está economizando carga tributária futura. Porque os problemas que achamos que são públicos, portanto, não seriam nossos, chegam no futuro, como por exemplo, ter que blindar um carro, subir um muro, fazer compensação ambiental de uma área degradada.”
Uma dica, segundo o diretor, não só para investidores e agentes econômicos, mas para o campo, é entender que negócios sociais causam externalidades positivas, uma contribuição para a sociedade para além da rentabilidade financeira.
Papéis em evolução
Vivian Rubia, coordenadora de projetos do ICE e mediadora do bate-papo, adicionou a perspectiva histórica de como foram as primeiras políticas de fomento de aceleradoras, incubadoras e parques tecnológicos criadas no Brasil. Na maioria dos casos, tinham uma visão de sucesso atrelada à geração de empregos e renda pelos negócios ativados, transferência de tecnologia e acesso a novos mercados.
“Sem dúvida esses são pontos muito importantes, mas o que temos observado é que o contexto social e econômico mudou muito e existe uma oportunidade para entendermos um reposicionamento do papel dessas organizações de apoio, trazendo um pouco mais de intencionalidade na resolução dos desafios socioambientais”, concluiu Vivian.
Luciano, por sua vez, comentou que algo mudou também no tipo de serviço e conhecimento ofertado por essas organizações no ecossistema de impacto. Se há 15 anos, foi necessário um grande processo educacional, de disseminação de conhecimento, de conceitos e divulgação de novas formas de empreender, hoje em dia com o que ele chama de amadurecimento do ecossistema, as organizações aceleradoras devem se atualizar em sua proposta de valor.
“Tenho dito que o que temos que fazer é quase um processo artesanal para os negócios de impacto e sociais e nos questionar como conseguimos fazer uma transformação efetiva na vida desse empreendedor. Ou seja, como a Artemisia, por exemplo, pode dedicar horas de trabalho, recursos financeiros e não financeiros para que os negócios mudem o ponteiro e ocasionem uma transformação positiva no sentido de amadurecimento, crescimento e geração de mais impacto na vida dos empreendedores?”, explica.
Ambientes de Inovação com Impacto
Lançada durante a Sexta de Impacto, a publicação Ambientes de Inovação com Impacto tem como objetivo justamente contribuir para a discussão sobre a proposta de valor de organizações que apoiam negócios de impacto.
A publicação, uma iniciativa da Aliança pelo Impacto, coordenada pelo ICE com parceria estratégica do Instituto humanize, é organizada em três capítulos: resgate histórico sobre o universo do empreendedorismo no Brasil; motivos para apoiar negócios de impacto e o que diferencia negócios de impacto de outros tipos de empreendimentos, com casos ilustrativos.
“Existe uma grande parcela da população que precisa entender o que é impacto, como medir, avaliar e monitorar, o que são backbone organizations ou organizações orquestradoras […] Publicações desse tipo permitem um segundo passo, que estamos começando agora, que é o estímulo à troca e colaboração para potencializar impacto, para ter ganho de escala e minimizar riscos e custos”, comenta Ana.
A publicação Ambientes de Inovação com Impacto está disponível na íntegra neste link.
Assista ao vídeo com a íntegra da conversa da Sexta de Impacto de agosto de 2022.