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Guia orienta investidores na construção e gestão de portfólios com lente estratégica para diversidade, equidade e inclusão
Desenvolvido pela DIMA e Blackwin, com apoio do ICE e da ANDE, relatório inédito aponta potencial de gestoras de venture capital para alocação estratégica
A indústria de capital privado controla mais de US$ 98 trilhões em ativos sob gestão (AUM) globalmente. Nos últimos anos, o mercado de venture capital cresceu de modo significativo na América Latina e o Brasil tem sido expoente neste cenário. Em 2021, as startups brasileiras receberam 75% do capital de risco na região.
No entanto, a alocação deste capital ainda é pouco diversa em termos do perfil de quem recebe investimentos. Mesmo em mercados que atual com a dimensão socioeconômica nos investimentos, de acordo com pesquisa da ANDE, 58% dos atores do ecossistema de investimento de impacto brasileiro não têm políticas de equidade de gênero ou racial no processo de escolha das investidas. A gestão inteligente de portfólios com uma lente de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento tem potencial de mitigar profundos desafios socioeconômicos, segundo especialistas.
Pensando em mitigar esse gap e orientar instituições financeiras e gestoras de investimentos nesta jornada de alocação e gestão de seus ativos, a Black Women Investment Network (Blackwin) e a Development Impact Manager & Advisor (Dima), com apoio do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e a Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), lançam a cartilha “Estratégia de Investimento Inteligente em Diversidade para Instituições e Gestoras de Investimento”.
A publicação é uma chamada para a ação e um guia para que instituições financeiras avancem iniciativas pragmáticas que fomentam diversidade e equidade na gestão de seus portfólios, explica Jéssica Silva Rios, uma das autoras da cartilha, co-fundadora da Blackwin, primeira rede de investidoras anjo formada por mulheres negras no Brasil.
“Este estudo mapeou as principais referências globais em estratégias de investimento inteligente em diversidade. E reúne ferramentas para serem adotadas por investidores, além de propore reflexões para estimular o compromisso contínuo dos gestores” afirma a executiva.
Junto com Jéssica, participam também da autoria da publicação Luana Ozemela, fundadora da DIMA e vice-presidente de impacto social do iFood, e Alex Martins, co-fundadora da The Equity Index. A construção do material contou com um processo de escuta e contribuição das gestoras de capital de risco Positive Ventures, Potencia Ventures e Ya Ventures.
Falta de diversidade no mercado financeiro
Apenas 8% das gestoras de venture capital e private equity na América Latina têm uma mulher na liderança. Globalmente, a International Finance Corporation analisa que fundos de investimentos que possuem equipes de gestão formadas por pessoas diversas obtêm 10-20% maiores taxas internas de retorno (TIR) em comparação com fundos geridos por equipes homogêneas, mas apenas 1,4% dos US$ 82 trilhões de ativos com base nos Estados Unidos são geridos por mulheres ou pessoas negras. Relatório da McKinsey (2018) também aponta que o aumento da diversidade traz melhores retornos para os negócios.
“O destino da alocação de capital é bastante influenciado pelo olhar de quem analisa as oportunidades de investimento. E a lacuna de acesso ao capital alimenta a lacuna de riqueza entre as mulheres, as pessoas não brancas e outras pessoas com marcadores sociais não hegemônicos. As desigualdades existentes no acesso a capital são resultados de decisões sistêmicas de longa data com consequências suportadas ao longo dos séculos”, analisa Silva Rios.
O financiamento global de capital de risco para mulheres fundadoras caiu de 2,9% para 2,3% em 2020 e mulheres negras recebem menos de 0,35% de todo o financiamento de capital de risco. No cenário brasileiro, startups fundadas apenas por mulheres representam menos que 5% do mercado total e esse % permanece no mesmo patamar há 10 anos. Do total de startups fundadas por mulheres, apenas 19,1% das fundadoras são mulheres negras. Jéssica ressalta a importância do estudo como ferramenta para contribuir para a mudança desta realidade.
“Já é sabido e bastante reconhecido que o ecossistema de investimento privado é capaz de alavancar soluções para problemas reais país. Mas ainda é necessário reconhecer que no nosso contexto, as desigualdades no Brasil estão intrinsecamente envolvidas com raça e gênero. E para contribuir com a redução dessas disparidades, precisamos trazer essa lente para a gestão dos portfólios e falar sobre aspectos de interseccionalidade”, afirma Silva Rios.
O documento propõe uma abordagem com 3 pilares que contribuem ativamente para o desenvolvimento de uma lente de investimento inteligente em diversidade, atualização da estrutura interna, especialmente o que tange a diversidade e composição dos times e profissionais que participam da tomada de decisão e a seleção de negócios. Além disso, também destaca a necessidade de oferta de diferentes tipos de capital para atender as demandas dos negócios fundados por pessoas de grupos diversos. E finaliza a tríade com mergulho no processo de investimento, reconhecendo e propondo ações que integre uma lente de diversidade em suas várias etapas,
Na visão da executiva, os tomadores de decisão da indústria de capital privado ainda são pouco diversos, e suas práticas carecem de intencionalidade e ação pragmática para que seus portfólios contribuam para equidade social.
“A redução das desigualdades é parte integrante e crucial da agenda 2030, acreditamos que é necessário influenciar o papel do dinheiro em combater as desigualdades e isso passa por adotar um olhar crítico sobre qual o perfil socioeconômico de quem está por detrás dos negócios que terão chance de prosperar suas ideias e soluções, como são as equipes das gestoras e quem define as alocações e qual o papel dos instrumentos financeiros para acolher a pluralidade desses negócios que podem contribuir para soluções de problemas sociais e ambientais que assolam a atualidade”, analisa Jéssica Silva Rios.
Beto Scretas, consultor sênior de investimento de impacto do ICE, organização financiadora do estudo, em parceria com a ANDE, analisa que a publicação consiste em um guia prático para o engajamento estratégico das organizações do setor.
“Este material é inovador e inédito no Brasil. Inclui conceitos delineados sobre a incorporação de práticas de estratégias EDIP na alocação e gestão dos recursos, mas também traz um olhar para dentro dessas organizações. Este trabalho constrói um mapa de uma jornada para colocar em prática essa mudança”, explica o executivo.
Criando pontes para a mudança de paradigma
Desde 2012, o ICE é um ator importante no fortalecimento do ecossistema de investimento de impacto no Brasil, apoiando especialmente a jornada de empreendedores e investidores deste nicho. Segundo Beto Scretas, promover a discussão e oferecer ferramentas que facilitem a mudança de paradigma no ecossistema é essencial.
“Ao longo da nossa atuação constatamos que era incipiente entre esses atores o desenvolvimento e a execução de estratégias consistentes para a atuação em temas relacionados a equidade, diversidade. Sendo assim, buscamos conectar organizações que pudessem não só instrumentalizar esses profissionais, mas também colocá-los em contato para trabalhar juntos”, destaca Beto.
Baixe e leia a publicação aqui.