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Seis lições que podem ajudar a filantropia a unir justiça social à generosidade
Por Carla Duprat e Michelle Prazeres*
É possível fazer uma filantropia orientada para justiça social e resolução de desafios complexos. Este tema tem sido a bússola de nossa prática cotidiana em diálogo com filantropos, empresários e investidores sociais dispostos a contribuir com a agenda de inovação social por meio da atuação colaborativa para gerar mudanças sistêmicas no campo do impacto socioambiental.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido na consolidação de um campo alinhado a esta perspectiva e algumas práticas ativadas em projetos no Brasil indicam que estamos em um ponto de virada entre um pensamento ainda dominante e uma nova forma de pensar e atuar que começa a emergir.
Nas últimas semanas, celebramos 25 anos do Instituto de Cidadania Empresarial – ICE e recebemos Darius Polok, diretor do International Alumni Center de Berlim, organização que apoia o desenvolvimento de redes de impacto social.
Polok nos provocou a pensar em nossa atuação à frente da Coalizão pelo Impacto – iniciativa correalizada pelo ICE, Instituto Helda Gerdau, Instituto Itaúsa e Somos Um, com a parceria estratégica da Cosan, Fundação Educar, Fundação FEAC, Fundação Grupo Boticário, Instituto Beja, humanize, Instituto Sabin e RD Saúde – que desenvolve seis ecossistemas em cidades das cinco regiões do Brasil (Belém, Brasília, Campinas, Fortaleza, Paranaguá e Porto Alegre), fortalecendo organizações dinamizadoras que apoiam empreendedores.
A Coalizão mostra a importância da colaboração como essência de projetos transformadores que reconhecem o papel de cada agente no ecossistema: governo, empresas, academia e organizações tecendo parcerias estratégicas e integrando esforços pelo impacto social.
Ao olhar para esta ousada iniciativa sob as lentes apresentadas por Polok, seis lições inspiradoras se destacam:
- É preciso selar compromissos de longo prazo. Uma real transformação de questões complexas precisa de tempo para acontecer. E isso mexe com nossas formas de planejar, acompanhar e medir resultados.
- O foco deve estar no aprendizado: em um ecossistema em desenvolvimento, é preciso experimentar e aprender com os “erros”, entendidos como elementos de nutrição da saúde do ecossistema, se percebidos e usados para apoiar ajustes de rota.
- A abordagem é orientada por dados: as decisões são tomadas com base em análises e diagnósticos. Isso permite que as pessoas sejam assertivas em sua ambição e transparentes em suas escolhas.
- A transformação acontece quando o ecossistema está plenamente integrado e ativado. Nessa perspectiva, não há uma hierarquia entre os ecossistemas nacional e locais. A relação flui entre eles.
- É preciso sensibilidade aos contextos locais. No caso da Coalizão, as constelações nas cidades são diferentes e demandam olhares específicos. Uma abordagem única não funciona. Quando usa intervenções semelhantes, a equipe deve estar atenta aos padrões que surgem dos contextos locais.
- Preparação para a retirada: a equipe apoia a autonomia dos ecossistemas locais, recuando com cuidado de forma a abrir espaço para os atores locais seguirem ativando o ecossistema com resiliência.
Nesta primeira fase da Coalizão, que vai até 2026, já vislumbramos aprendizados e fizemos ajustes de rota. Certamente, atravessaremos outros. Compartilhamos aqui as lições que Polok nos ajudou a sistematizar e que iluminam nossos passos na travessia rumo à integração da generosidade com a justiça social. Acreditamos que um ecossistema robusto conta com diversos atores que comungam dos mesmos princípios. Esperamos trazer para esta rede novos parceiros que almejam transformar realidades complexas e sistêmicas.
*Carla Duprat é diretora executiva e Michelle Prazeres é coordenadora de comunicação do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), organização que atua como Secretaria Executiva da Coalizão pelo Impacto.
Artigo originalmente publicado na Folha de S. Paulo, no dia 12 julho de 2024.