This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Internacionalizar e decolonizar a produção científica brasileira
Terceiro Encontro Academia ICE discute a valorização da pesquisa nacional e a problematização do processo de internacionalização
No dia 26 de setembro, ocorreu o 3° Encontro Academia ICE que teve como tema a internacionalização da produção acadêmica brasileira. O encontrou contou com as participações do Professor Douglas Wegner, da Fundação Dom Cabral e da Professora Marlei Pozzebon, da Faculdade Getúlio Vargas e da Escola de Negócios Hec Montreal. Os palestrantes comentaram os desafios da internacionalização e da tendência colonizadora no mundo acadêmico.
A discussão trouxe temas relevantes como a valorização da produção nacional e a problematização do processo atual de internacionalização, pautado no protagonismo do norte global. Para Pozzebon, é fundamental pensar em uma internacionalização decolonial que rompa com a reprodução das estruturas vigentes de dominação.
“Se a gente internacionalizar do jeito que tem sido feito, só reproduziremos estruturas de dominação que continuam nos colocando em um lugar subalterno”, disse.
A internacionalização ainda é um território de muita disputa na própria academia, de acordo com Pozzebon. O fato de o ambiente acadêmico ter uma mesma métrica para todo mundo faz com que áreas de pesquisa relevantes sejam preteridas pela necessidade profissional de se internacionalizar:
“Se nas instituições tivessem um grupo dedicado a publicar internacionalmente e outro grupo com preocupação com impacto local, isso seria fundamental. Por que precisamos todos fazer as mesmas coisas?”, questionou.
Segundo Daiane Neutzling, da UNIFOR, a pesquisa nas universidades brasileiras é regida pelo mercado, pela busca pela estabilidade profissional e pelos marcadores de qualidade e competitividade, como o Qualis e o Google Scholar. Para Caio Fanha, do CESUPA, a criação de projetos nacionais de internacionalização em rede, facilitariam a proliferação de pesquisas brasileiras, que muitas vezes são ignoradas quando apresentadas individualmente.
Outro ponto de atenção trazido por Wegner foi o método de comunicação da academia brasileira, pautado predominantemente por artigos científicos. Para ele, é necessário adaptar o modelo de publicação para cada caso específico. Às vezes, um conteúdo técnico pode ser mais eficiente do que um artigo:
“É importante que a CAPES também reconheça outros mecanismos de disseminação do conhecimento que vão além da publicação de artigos. (…) Precisamos fazer com que outras pessoas de fora da academia também leiam e discutam o que estamos produzindo”, comentou.
Para Flavia de Oliveira, da IFPR, o mesmo processo de colonização do norte global sobre o sul global também é reproduzido dentro da nossa academia nas relações entre as universidades das capitais com as universidades interiorizadas. Para Carla Pasa Gómez, da UFPE, ainda é preciso tomar cuidado para não repetir o ciclo de colonização ao dar visibilidade a revistas que colonializam, sejam elas brasileiras ou internacionais.
Para Camila Aloi, gerente do Programa Academia ICE, a virada de chave para a pesquisa e produção internacional com mais consistência e soberania da produção brasileira está na relevância de sustentar termos e conceitos produzidos a partir da experiência brasileira. Há muita produção de qualidade feita por pesquisadores brasileiros e buscar a originalidade nas fronteiras do conhecimento pode elevar a produção nacional a outro patamar. A falta de diversidade da academia dificulta muito a produção decolonial.
O 3° Encontro Academia ICE fechou a série dos encontros Academia deste ano. Para saber mais: https://academiaice.org.br/