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Monitoramento Academia ICE 2024: um olhar da produção acadêmica sobre impacto positivo no Brasil
Levantamento da Academia ICE reflete e identifica pautas e desafios da rede de professores e da produção de conhecimento nas universidades brasileiras sobre temas do campo.
O Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), em parceria técnica com a Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), apresenta nova edição do monitoramento da Rede Academia ICE, iniciativa com foco em Instituições de Ensino Superior (IES) da organização. A pesquisa, reformulada em 2024, traz uma análise da Rede visando seu crescimento quantitativo e qualitativo, além de desenvolver ações, colaborações e articulações entre membros e do próprio programa como um todo e a partir das informações obtidas, delimitar o foco estratégico para o futuro do programa. Na matéria sobre o Encontro Nacional, divulgamos alguns dos principais dados do monitoramento.
“A universidade é o lugar da transformação, da passagem da adolescência para a juventude; é o espaço onde se formam os cidadãos do futuro e onde investimos no futuro do Brasil no mundo. Ao nosso redor, vemos o papel da filantropia, a função social dos governos e dos empresários em criar modelos de negócio e conectar-se com empreendedores e comunidades para transformar a sociedade brasileira e tornar realidade os negócios de impacto”, destacou Luiz Lara, associado fundador e integrante do Conselho Deliberativo, na abertura do Encontro Nacional 2024, quando falou sobre o programa e o papel das universidades para o futuro do Brasil.
Os dados foram divulgados durante o último dia do evento realizado em agosto. O painel de apresentação foi ministrado por membros do grupo de trabalho focado no monitoramento, dentro da Rede Academia: Marcos Silveira, professor-chefe do departamento de pesquisa da Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), Aurélia de Melo, professora da Faculdade Dom Bosco (FDB), Luiza Teixeira, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Graziella Comini professora da FEA-USP, todas conselheiras da Rede. A ideia do painel de monitoramento foi começar a construir uma identidade definida para a Academia ICE a partir de alguns questionamentos relevantes: “Quem somos? Onde estamos? Por quem somos formados? Quais são as expertises da Academia? O que o mapa da Rede diz sobre a Academia?”.
O monitoramento serve como instrumento para aprofundar discussões sobre os objetivos da Rede. Para Camila Aloi, gerente da Academia ICE, é fundamental que a Rede atue de maneira transversal, contribuindo para promover conexões entre professores e universidades de todo o país:
“A Rede busca conectar e articular professores envolvidos com a temática através de encontros, seminários, evento anual, plataforma de debates, jornadas de ensino entre outros. Mas as universidades e os professores têm muita demanda interna e muitas vezes professores de uma mesma universidade, atuantes com a temática, não se conhecem e desconhecem que há outro professor trabalhando o tema. É preciso levar a temática de impacto social positivo de forma transversal para todas as faculdades”, comenta.
Entre os detalhes do levantamento, o networking (trocas) e a base de conhecimento são as duas funções mais potentes da Rede, na avaliação dos seus membros. Para Aloi, as trocas entre professores são incentivadas, mas nem sempre se resumem apenas ao ambiente da Rede:
“Há diversos benefícios da atuação da Rede Academia que não são facilmente mensurados por serem conexões orgânicas e autônomas que extrapolam a gestão da Rede, e com isso, professores se unem em prol do tema sem que a gente saiba. Um exemplo foi a criação do Observatório de Impacto Florianópolis, projeto idealizado como desafio final da Jornada de Ensino, iniciativa do programa do ICE que apoia docentes na criação de disciplinas sobre Investimentos e Negócios de Impacto, e que, anos depois, inspiraria a criação do Rio de Impacto. É isso mesmo que queremos, que as conexões propulsionadas pela Rede caminhem sozinha e transcendam os limites da própria Rede”, explica.
Áreas de atuação dos docentes da Rede
Em relação às áreas de maior participação dos professores, tecnologias e engenharias nas temáticas de impacto e inovação social se destacam. Segundo Aurélia de Melo, da Faculdade Dom Bosco, o foco nesses temas sempre foi um objetivo da Rede:
“O aumento da participação das áreas de tecnologia, especialmente nas engenharias, sempre foi um objetivo do Programa Academia ICE. Entendemos a importância dos negócios de impacto utilizarem tecnologia ou serem de base tecnológica, especialmente no campo das startups de impacto socioambiental. Por isso, é fundamental que professores dessa área compreendam esse contexto, para que tragam toda a sua bagagem e possam também levar esses projetos para as incubadoras de base tecnológica nas universidades do país.”, comenta.
Por outro lado, notou-se também uma baixa incidência de docentes nas áreas de educação e saúde, para Melo, trazer mais professores dessas temáticas é um dos desafios da Rede:
“Essa incidência menor na área de educação e saúde é bastante preocupante, indicando que talvez precisemos comunicar mais e de forma mais clara com esses setores. Ambas as áreas são importantíssimas; na educação, temos as ETECs, escolas técnicas, e precisamos trazer mais negócios de impacto ou startups de impacto socioambiental voltadas a essa temática. A área da saúde segue a mesma lógica. Assim, acredito que se abre uma nova avenida de objetivos e desafios para o programa: atrair áreas essenciais para que compreendam o contexto do ecossistema de impacto positivo.”, pontua.
Entrada de professores nas regiões Norte e Nordeste
Para Luiza Teixeira, da Universidade Federal da Bahia, a Rede Academia está seguindo o caminho certo na região Nordeste, mas o desafio atual é trabalhar para trazer novos estados do Norte:
“Acredito que estamos no caminho certo para promover a inclusão. No momento, vejo que a Rede, após tanto crescimento, chegou a um ponto em que, mais do que quantidade, precisamos focar na qualidade do engajamento. É essencial entender como esses professores estão se envolvendo com a Rede e com os temas propostos. Talvez, mais importante do que incluir novos professores, seja investigar a taxa de não resposta: quem não respondeu e por quê? Quem está pouco engajado? Como podemos fortalecer essa conexão? Acredito que a melhor forma de seguir adiante é incluí-los de maneira gradual e intencional.”, opina.
Outro aspecto notável do monitoramento é a predominância de produções teóricas em relação aos estudos práticos e de casos. Para Camila, os negócios de impacto são uma oportunidade para aumentar o número de trabalhos práticos:
“As universidades enfrentam uma grande dificuldade em integrar ensino, pesquisa e extensão. A extensão sempre foi o ‘patinho feio’ da academia, pois não conta pontos nem promove o professor e, até agora, não era obrigatória nas disciplinas, apenas opcional. Os negócios de impacto representam uma excelente oportunidade para uma ação prática dos estudantes na comunidade, permitindo que vivenciem a realidade de forma prática e não apenas teórica e distante. Além disso, é uma chance real de construir um legado para a própria comunidade, que pode ver nessa ação a possibilidade de criar um modelo de negócio”, contextualiza.
O futuro da Academia
Para Camila, a Rede Academia ICE tem um papel fundamental de gestão para garantir a adesão de mais docentes e instituições de ensino superior às temáticas de impacto socioambiental:
“A academia, como formadora dos futuros gestores do planeta, precisa se conectar com a lente de transformação social por meio de impacto socioambiental positivo, formando seus alunos com uma visão contemporânea sobre os desafios atuais e estruturais da sociedade. As instituições devem transbordar seus muros, produzindo em diálogo com a sociedade à qual pertence e contribuindo para a busca de respostas aos complexos problemas globais. É necessário ampliar seu papel como produtora e comunicadora de ciência rigorosa, gerando evidências para embasar as tomadas de decisão. A Rede Academia ICE desempenha um papel fundamental na gestão dessa comunidade, promovendo a produção e a divulgação de conhecimento sobre o tema”, afirma.
Luiza Teixeira elenca que os desafios futuros da Rede incluem o fortalecimento de sua identidade coletiva, com um foco claro em quem são e no que fazem enquanto ecossistema:
“Somos parte de um ecossistema, e é fundamental que tenhamos conexão com todos os outros atores que o compõem. Nesse sentido, considero essencial que nós, professores, mantenhamos contato com investidores, negócios e demais participantes desse ecossistema”, finaliza.
Acesse o relatório completo aqui.