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Grandes investidores: como destravar o potencial?
Embora o campo dos negócios de impacto venha crescendo e se ampliando, pode-se dizer que grandes fluxos de investimento ainda não estão chegando. Buscar modos de destravar o capital para esse campo e proporcionar mais tração é um ponto fundamental nessa trajetória de crescimento.
Algumas iniciativas mostram caminhos possíveis. Caso da Wright Capital Wealth Management, por exemplo, que trabalha com gestão de patrimônio de famílias que tenham algum olhar para a transformação social e que adotou como diretriz que pelo menos 1% do portfólio gerido no Brasil vai para fundos de impacto social. “Quando começamos a fazer isso, entendemos que seria preciso ajudar a indústria a se desenvolver também. Se partirmos da regra da diversificação, de ter diversos ativos possíveis, essa indústria ainda é pequena e não temos essa diversificação. Fomos ver como as grandes instituições olham para esse tipo de ativo, do ponto de vista do risco, e por que não é um produto que está na plataforma de todos os bancos. Se conseguirmos trazer todo mundo para entender, vamos ter mais ativos, estimular mais gestores a entrarem nesse mercado, e o negócio vai crescer naturalmente,” avalia Fernanda Camargo, da Wright.
Corroborando tendência já apontada em relação aos millenials, ela destaca uma nova geração de investidores que já buscam isso naturalmente. E é preciso estabelecer como fazer isso. “A gente tenta envolver as famílias com os negócios, com os gestores, o máximo possível. Esse 1% é uma semente em cada família, isso naturalmente tende a aumentar”.
Um caso praticamente único no país, que representa um investidor que quer 100% do seu portfólio em investimentos de impacto, a Maraé Investimentos, de Guilherme Leal, aponta para a importância de olhar o negócio como uma força transformadora do bem: “Sempre buscamos olhar os desafios socioambientais como oportunidades de negócio, e não como um ‘pênalti’ que temos que pagar. A orientação do nosso cliente é ter 100% dos investimentos voltados para negócios de impacto. Além de investir em empresas maiores como Natura e Body Shop, fazemos investimento nos fundos Vox Capital e Mov; em chocolates, conectados com vários produtores do sul da Bahia; na Amata, ligada em resolver problemas de desmatamento ilegal”, diz Pedro Villares, gestor da Maraé.
Para ampliar o capital para os negócios de impacto, Pedro sugere trazer métricas e externalidades para o mainstream: “Acho que se trabalharmos com métricas que sejam tão conhecidas como lucro líquido, ou retorno, enfim, qualquer métrica que a gente vê hoje no demonstrativo de resultados, avançamos.” Outro caminho importante apontado por ele é ter o poder público envolvido nesse processo, e o exemplo que ele dá nesse sentido é a taxa de carbono. “Incentivos como esse podem ser disparadores para que se consiga mais investimento voltado ao socioambiental.”
Maior banco privado do Brasil, o Itaú, embora ainda não disponha de fundos de impacto para investimento, ofereceu a debênture da Vivenda, especializada em reformas de habitação populares, a clientes de altíssima renda dispostos a abrir mão de parte do retorno financeiro em troca do ganho social. “Acreditamos nisso como uma jornada. É um movimento que veio para ficar, e empresas que estejam mais próximas do tema vão mostrar números de crescimento mais fortes”, avalia Marcello Siniscalchi, da Itaú Asset Managment. “Uma das barreiras que temos que derrubar é mostrar que investir em negócio de impacto não é filantropia. É retorno. Qualquer papel, produto ou fundo de impacto que faça sentido, olhando risco e retorno, será seriamente avaliado. Gostaríamos de ter mais opções para oferecer aos nossos clientes.”
A canadense Tonya Surman, CEO do Center for Social Innovation, compara o movimento das finanças de impacto no Brasil ao que acontecia no Canadá há alguns anos, com uma diversidade grande de atores e investidores se mobilizando e encontrando oportunidades para alinhamento. “Começamos a perceber, aos poucos, novas empresas, novos investidores entrando em diversos estágios para construir um espectro de apoio que pode dar conta de diferentes riscos. Cada vez mais temos atores que estão dispostos assumir mais riscos e menos retorno. É importante poder dar apoio a essa variedade de negócios que estão surgindo. Temos ONGs, empresas B, corporações, diferentes modelos que vão requerer diferentes ferramentas de investimento. O setor de investimento de impacto tem que ser tão diverso quanto esses diferentes tipos de negócio”, avalia.
Assim, as variadas iniciativas em andamento no Brasil no sentido de trazer recursos para o campo das finanças de impacto demonstram que, mais do que mobilizar valores – que podem ainda não ter o volume desejado -, têm como principal resultado estimular o crescimento desse novo campo de investimento, priorizando a experimentação e a diversificação como chaves para isso.