This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Jornada de Pesquisa Academia ICE: cinco projetos relevantes para a agenda de inovação social, investimentos e negócios de impacto
Encerramento da jornada contou com a participação dos grupos formados por docentes de diferentes regiões do país e do professor Alnoor Ebrahim (Universidade de Tufts), que compartilhou visão sobre a importância da medição de mudanças sociais.
Instituições de Ensino Superior (IES) são verdadeiros centros de debate e descobertas por congregarem a realização de pesquisas dos mais variados temas. Considerando o potencial desses espaços e a possibilidade de colaboração entre docentes de diferentes estados e regiões do país, a Rede de Professores Academia ICE criou a Jornada de Pesquisa com apoio do Instituto Humanize.
Cinco grupos compostos por professores da Rede estão trabalhando desde agosto de 2020 em temas relevantes na agenda de inovação social, investimentos e negócios de impacto. São eles: Abordagens e métodos de monitoramento e avaliação de impacto em negócios sociais; Bioeconomia na Amazônia: potencial e desafios; Economias para a Resiliência (EpR): diálogo e integração; Ecossistemas de Inovação Social no Brasil; e Políticas públicas, Inclusão e Negócios de Impacto.
O intuito é inovar nas metodologias, responder às demandas do campo de investimentos e negócios de impacto, possibilitar a troca de conhecimentos e experiências práticas, além de fomentar a publicação de pesquisas relevantes em veículos científicos respeitados. Juliana Rodrigues, consultora do ICE e coordenadora técnica da Jornada, explica que a realização de pesquisas colaborativas já era um desejo dos professores que integram a Rede.
“Do ponto de vista dos docentes, eles podem trocar conhecimentos e perspectivas, uma vez que trabalham os temas por teorias ou abordagens diferentes, o que possibilita experiências diversas e distintas entre si”, explica Juliana, reforçando que essa é uma forma de enriquecer os próprios conhecimentos dos professores da rede.
Além disso, essa troca também permite maior conhecimento sobre o campo de pesquisa no Brasil, com intercâmbio de saberes entre diferentes regiões e instituições de ensino superior.
“Ao invés de ter o olhar de um pesquisador centrado em determinada região ou sobre as regiões de forma separada, nós conseguimos pensar o Brasil de forma mais abrangente e comparativa. Do ponto de vista do conhecimento sobre e para o campo, trazemos uma abordagem multiregional, que leva em conta as diferenças, contextos e o perfil dos empreendimentos em cada região”, afirma.
Mário Aquino, professor associado do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV) e membro da coordenação técnica da Jornada, explica que a experiência ajudou na compreensão do panorama de pesquisas sobre negócios sociais no Brasil não apenas pela perspectiva das temáticas emergentes de estudo, mas também e sobretudo pela capacidade de formação de redes de pesquisa com protagonistas de várias regiões e centros emergentes de pesquisa.
Entretanto, ele pontua que o financiamento ainda é um desafio a ser endereçado. “É importante salientar o quanto ainda é incipiente o casamento entre financiamento privado para pesquisas sobre negócios sociais e negócios de impacto e pesquisadores na academia. Foi muito bom perceber como o investimento social privado está se capacitando para esse tipo de financiamento. Nesse sentido, o papel do ICE como um nó da rede e aproximador entre esses dois mundos é fundamental”, afirma.
Apoio mútuo para criar e medir impacto positivo
Outro ponto de destaque da Jornada é a aproximação entre campo e academia. Um dos principais objetivos da experiência é fomentar a troca entre ambos e conectar os grupos com atores estratégicos para reflexão do campo de negócios de impacto. Para Juliana, trata-se de uma troca mútua, onde pesquisadores e profissionais que estão na academia podem ajudar a compreender movimentos que acontecem nos campos de negócios de impacto, empreendedorismo e inovação social, que, em muitos casos, são movimentos emergentes.
“Estamos falando de modelos de negócio e investimentos que demandam novas formas de gestão, soluções, mecanismos e modelos. Acredito que a academia também contribui para desenvolver essas metodologias e ferramentas que apoiam o campo, além do olhar crítico para o mesmo, que pode apoiá-lo a olhar seus desafios, objetivos e posicionamento”, afirma Juliana.
Essa contribuição da academia foi justamente um dos dos assuntos abordados durante o evento online que marcou o encerramento da Jornada de Pesquisa, que contou com a participação de Alnoor Ebrahim, professor de gestão da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, e autor de livros sobre transformações sociais, organizações não governamentais e ética pública.
A inspiração para seu mais novo livro, Measuring Social Change: Performance and Accountability in a Complex World, veio de conversas com líderes de organizações realizadas no âmbito de treinamentos para executivos. “A pergunta mais comum que recebi nos últimos dez anos foi: nós estamos tentando criar mudanças sociais, mas como saber se estamos fazendo alguma diferença? O que devemos, de fato, medir?”, explica Alnoor.
Para responder a essa questão, ele se submeteu a vivências junto a gestores de negócios para entender a perspectiva daqueles que estão realmente tentando produzir mudanças via organizações sociais. “Com essas experiências, ficou claro rapidamente que esses gestores estão operando em um ambiente muito diferente dos cientistas sociais e estão enfrentando barreiras em termos de recursos para medir a mudança social, capital humano, no sentido de não ter na equipe a expertise necessária para entender como colocar em curso as medições de mudança social, além de pressões relacionadas ao tempo para obtenção dos dados sobre os resultados.”
A observação de alguns negócios sociais na prática possibilitou a compreensão de que existem diferentes tipos de estratégias a serem adotadas para alcançar a mudança social e a escolha de cada uma delas é o que vai determinar o que será possível em termos de medição de impacto social. “Na minha visão, a principal contribuição do livro é essa conexão entre a escolha da estratégia e a medição da mudança social, que precisam estar altamente integradas entre si.”
Depois de apresentar uma breve linha do tempo sobre a produção acadêmica no tema de impacto social, Alnoor comentou sobre a necessidade e importância de mais pesquisas e trabalhos na academia voltados a entender desafios enfrentados na prática quando o assunto é mudança e impacto social, que enderecem as preocupações de gestores e daqueles que atuam na prática.
Pesquisa nas IES e o tema impacto
Um monitoramento do Programa Academia ICE realizado em 2019 identificou que 50% dos professores membros da Rede que responderam ao questionário desenvolvem pesquisas relacionadas às temáticas inovação social, investimentos e negócios de impacto, sendo a maioria realizada em IES federais. Além disso, 39% dos professores que realizam essas pesquisas também orientaram alunos e publicaram seus próprios estudos.
O monitoramento também mostrou uma tendência de crescimento na divulgação das pesquisas. Entre 2017 e 2019, houve um aumento médio de 33% ao ano na atividade de publicação. A comparação entre dados de 2017 e 2018 mostra, ainda, que houve aumento da participação dos docentes em grupos de pesquisa (de 63% para 87%).
Entre os temas preferidos pelos professores que pesquisaram assuntos relacionados à pauta da Rede Academia ICE, predomina o interesse por negócios de impacto (45%), seguido por empreendedorismo social (26%) e inovação social (16%).
O alinhamento à pauta de investimentos e negócios de impacto também pode ser observado em outras iniciativas, como na Chamada de Artigos. Realizada pela Rede em 2019, a iniciativa selecionou trabalhos realizados por professores com temas como ‘A perspectiva internacional do ecossistema de negócios de impacto’, ‘Negócios Sociais e Inovação Social: um retrato da experiência brasileira’, ‘Fintechs Como Negócios Sociais: Um Estudo sobre as Tensões Organizacionais no Ambiente Financeiro’, entre outros.
O novo conjunto de recomendações para o campo de investimentos e negócios de impacto, elaborado pela Aliança pelo Impacto e atores do ecossistema, também aborda a questão da pesquisa, como, por exemplo, na recomendação número 3, que versa sobre contabilidade de impacto com discussões, debates e testes sobre metodologias e ferramentas para esse fim.